Nostalgia, infância e problemas.

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POV: Narração em 3° pessoa na visão do Mingi.

Ilha de Jeju, Coreia do Sul
14/11/2004

Mingi não estava se sentindo bem com o balanço do ferryboat. Seus pais o levaram para o convés superior, onde poderiam ver o mar e a ilha de Jeju ao longe. O vento forte desarrumava seus cabelos e agitava suas roupas. Segurando a mão de Mingi, sua mãe o levou até a borda junto com seu pai, que pediu a um desconhecido para tirar uma foto deles. O desconhecido concordou e usou sua antiga câmera para fotografar a família. Mingi ficou no meio de seus pais, sentindo seu rosto ficar quente enquanto eram abraçados na frente de várias pessoas. Depois de tirar as fotos, o desconhecido devolveu a câmera antiga ao pai de Mingi e foi embora. Quando o ferryboat chegou ao porto de Jeju, eles desembarcaram e foram até a antiga caminhonete da família, deixando o porto para trás e seguindo pela estrada que atravessava o interior de Jeju, passando pelo bonito vilarejo portuário.

O rapaz se acomodou no banco de trás da caminhonete e olhou pela janela, observando a paisagem. Enquanto isso, sua mente estava cheia de expectativa para chegar logo à casa de seus queridos avós, a quem ele adorava. Ele mal podia esperar para saborear as deliciosas comidas feitas pela avó, passar momentos pescando com o avô e encontrar os amigos de infância que conheceu quando era muito jovem e morava em Jeju. Embora sentisse o balanço do veículo devido às pedras na estrada e o motor da caminhonete vibrando no assento, havia algo que ele não podia experimentar: o som. Desde que nasceu, Mingi vive em um mundo silencioso.

Ao longo de sua vida, ele teve que lidar com a realidade de nunca poder ouvir a voz da sua alma gêmea, os ronronares do seu querido gatinho, a melodia suave da voz de sua mãe e muitas outras coisas que ele daria tudo para poder escutar. Embora a surdez fosse um desafio constante, Mingi aprendeu a encontrar beleza e significado em outras formas de comunicação. A linguagem das mãos, os sorrisos compartilhados, os olhares cheios de carinho e a profunda conexão com aqueles que o amavam tornaram-se sua maneira de se expressar e se conectar emocionalmente.

Enquanto a caminhonete seguia em frente, Mingi nutria a esperança de que cada momento em Jeju lhe trouxesse novas experiências e encontros especiais. Ele estava determinado a aproveitar ao máximo cada instante, mesmo sem ter a trilha sonora que a maioria das pessoas tinha em suas vidas. Sua resiliência e habilidade de encontrar alegria nas pequenas coisas eram um exemplo de sua força interior e capacidade de transformar limitações em oportunidades de crescimento. Mingi estava pronto para criar memórias memoráveis em Jeju, celebrando a vida em seu próprio ritmo silencioso, mas significativo.

A caminhonete entrou no vasto vilarejo que ele conhecia tão bem. Tudo estava exatamente como ele se lembrava, com os bancos desgastados, árvores, casas e lojas, mantendo a essência da época em que ele deixou Jeju há anos atrás. Parecia que o tempo tinha ficado suspenso, preservando cada detalhe que o garoto guardava em sua memória. Enquanto observava o vilarejo se desenrolar diante de seus olhos, ele reconheceu imediatamente as pessoas idosas. Havia a senhora simpática da loja de doces, cujo marido mal-humorado a respeitava profundamente. Também estava o senhor que vendia peixes e arroz para sua avó, e uma senhora que costumava passar o tempo na varanda da casa da avó, trocando fofocas com outras mulheres. Era um cenário familiar, cheio de rostos que contavam histórias antigas.

A caminhonete subiu uma ladeira íngreme e, no topo, estava a casa que ele tanto amava e que preencheu metade de sua infância com memórias inesquecíveis. A residência seguia o estilo coreano típico dos antigos vilarejos, com sua encantadora arquitetura tradicional. Ao se aproximar do portão, ele avistou seus avós com sorrisos radiantes no rosto, transbordando amor e alegria em suas expressões. Ao lado deles, havia um jovem alto e magro, com cabelos longos e um olhar um tanto cansado. Era evidente que o tempo havia deixado suas marcas nele.

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