ROSÉ
Minha vida era uma série de hesitar e não me decidir a cada peça de roupa que vestia, até que setenta e cinco por cento do meu armário estivesse espalhado pelo meu quarto, e inevitavelmente voltasse para a minha primeira escolha para começar, a vestindo, me repreendendo por ser tão indecisa e pensar demais.
Se somasse quanto tempo perdi neste ciclo específico, provavelmente teria o tempo que sempre me faltou para arrumar meu cabelo e me maquiar.
Estava correndo porta afora com meu tubo de rímel na mão, passando um gloss levemente colorido nos lábios enquanto fazia uma pequena prece para que meu cabelo secasse completamente quando chegasse a entrevista.
No final, assim como no início, tinha decidido por calça preta básica que tinha comprado para um trabalho ocasional de bartender que consegui quando uma amiga minha precisava de uma mão extra com seu turno. Elas eram quentes e subiam em lugares estranhos, mas imaginei que fosse a calça mais profissional que tinha no meu armário. Combinei a calça com uma blusa de botão de manga comprida verde caçador simples, deixando o botão de cima aberto, mas não mais. E, por último, estava usando um par de sapatilhas pretas, pois imaginei que você não queria aparecer para uma entrevista de emprego que envolveria algum trabalho leve, vestida como se estivesse procurando um emprego num escritório.
As primeiras impressões eram importantes.
E realmente queria fazer uma boa.
Porque uma olhada em minha conta bancária naquela manhã, enquanto comia cereais sem marca e leite duvidoso, me fez perceber que precisava conseguir esse emprego. Precisava do dinheiro. Mesmo se conseguisse fazer todos os meus pequenos bicos paralelos e vender uma pintura ou duas esta semana, ainda estaria no vermelho.
Tinha que acertar isso.
Então tinha que manter as aparências.
Tive a sorte de ficar presa atrás de um caminhão por alguns minutos, deixando-me passar rímel, inspecionar meus dentes, colocar uma bala de menta na boca e borrifar meu perfume, perfeito, um leve aroma de baunilha e rosa que nem uma única pessoa já tenha cheirado achou ofensivo, então, finalmente atravessei a cidade.
Para, você sabe, a parte bela dela.
Onde cada casa era uma propriedade extensa que provavelmente custaria alguns milhões com muita facilidade. Nenhuma delas, no entanto, chegava perto daquela em que virei meu carro.
Aquela com a calçada de pavimentação personalizada que provavelmente custava algumas centenas de milhares de dólares. O paisagismo com seus arbustos e sebes de formas complexas provavelmente custava uma pequena fortuna para manter também, junto com o gramado extenso que provavelmente era verde brilhante durante todo o verão, e a piscina cristalina imaculada que pude ver um pedaço dela em uma sala de vidro anexada a parte de trás da casa.
Todas essas pessoas, jardineiros, manutenção de grama, cara da piscina, eu estaria encarregada de gerenciar.
Era um conceito estranho, mas parecia interessante e totalmente factível. Quer dizer, podia passear com seis cachorros de uma vez. Podia ser a garota das doses para um grupo de velhos nojentos e cheios de tesão, que queriam tirar as doses do meu corpo e me lamberem um pouco mais do que deveriam. Podia ser babá de crianças e ajudar idosos a fazer suas tarefas e ensinar adolescentes irritados a pintar em suas aulas de arte-terapia forçadas.
Poderia fazer tudo isso.
Na mesma semana.
Absolutamente poderia ser governanta.
Estacionei meu carro, intimamente preocupada que pudesse vazar algo na calçada cara e que pudesse gastar algum dinheiro que não tinha, para substituir os pavimentos, respirei fundo e fui em direção à casa alta de estuque branco.
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Voyeur - Lalisa G!p
FanfictionEu sabia sobre as câmeras. Ela não sabia que eu gostava de ser observada.