Que Saudade Da Minha Ex | cyj + csb

0. Garoto Conhece o Tênis de Pikachu

Garota Conhece o Mundo (2014)

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Era uma tarde meio laranja e quente. O sol logo se poria, mas o barulho da casa não diminuiria tão cedo.

O garoto conseguiu ver o alaranjado pela janela se transformar em uma sombra que alastrava-se pelo quarto pequeno com o formato da janela. Conseguia ouvir os gritos estridentes do andar de baixo, e temia ter que intervir se fosse necessário, assim como das outras vezes. Seu estômago embrulhou quando lhe veio o pensamento infantil de escolher um lado naquelas discussões sem fundamento e a sua mente fértil vagueava um milhão de vezes sobre o que poderia ter feito diferente para impedir mais aquela briga, que com certeza era provocada por ele.

Mas em vez de permanecer no quarto, afundado em tais pensamentos, pôs-se a descer a escada lentamente, sentindo o piso ranger sobre seus pezinhos pequenos.

O garoto sentou-se para ouvir atentamente o pai gritando com a mãe. Ele ouvia os dois proferirem insultos terríveis, ouvia-os reclamando sobre o estado da casa bagunçada, sobre o estado financeiro que se encontravam, até culparem um ao outro sobre que faziam de tão errado em sua criação.

Ele sabia que ambos não estavam fazendo nada além de estimularem seu próprio colapso, e no fundo, ele odiou esse pensamento completamente, pois significava que a família que ele reconhecia antes, estava fadada a ter um fim simplório, tão triste e sem cor quanto os filmes antigos que seu pai colocava para rodar apenas para ouvir sua mãe reclamando de suas escolhas inusitadas.

Estava começando a ficar sufocante demais para suportar. A pressão do ar começava a ficar abafada e os gritos o faziam querer chorar.

Era até meio ridículo, e ele passava a se perguntar porque tanto amor havia desaparecido sem mais nem menos. Ele começava a se perguntar quando sua mãe havia parado de amar seu pai de uma hora para outra, quando seu pai havia começado a esconder coisas importantes, e quando os dois começaram a ameaçar um ao outro.

Sufocante demais.

O menino empertigou por entre as sombras da casa, tomando cuidado para que não desconfiassem de sua saída.

De uma hora pra outra já estava no meio-fio, sentado, desolado e choroso, pouco se importando com o calor de fim de tarde sobre seus ombros.

Encolheu-se em um casulo chorão, com o rosto entre os joelhos e um tornado de culpa entalado na garganta.

Foi aí que sentiu uma sombra sobre si, tampando o calor do sol.

— Ei, por que você tá chorando? — ele parou por um segundo, prestando atenção na vozinha inesperada — Nossa. — foi o que ouviu o outro menino dizer quando levantou a cabeça. — Seus olhos são bonitos.

O outro não se afetou, virando a cara para enxugar o nariz com as costas da mão.

— Não é da sua conta.

— Tá com raiva de quê?

Aquele garoto era meio esquisito. Trajava uma regata azul e uma bermuda jeans, juntamente com tênis ilustrados do pikachu. Segurava uma bola embaixo no braço, e o observava atentamente, com a cabeça de lado. Se olhasse bem, podia ver que também tinha dois dentes faltando, era mais alto que ele também.

Mesmo se dissesse, duvidava que o entenderia, crianças não ligavam realmente para o problema dos outros, elas não ligavam nem para pessoas como ele… ele sabia disso porque das poucas vezes que tentava falar com uma, era ignorado completamente.

E de qualquer jeito, como ele o ajudaria? Duvidava muito que aquele garoto fosse de alguma ajuda para resolver seu problema choroso. No entanto, apenas por dizer, falou mesmo assim: