Despertar

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Abro meus olhos e sou momentaneamente cegada por uma luz muito branca, após alguns segundos me acostumo com o ambiente e percebo que estou em um quarto de hospital.

Olho para o lado e vejo Melissa e meu pai conversando baixinho do outro lado do quarto, tento emitir algum som mas minha garganta está extremamente seca, porém a tentativa é o suficiente para eles perceberem que eu acordei.

Melissa arregala os sonhos e corre em minha direção me abraçando, escuto meu pai dizer que vai chamar o médico.

Tento entender o que está acontecendo, aos poucos alguns flashes veem na minha mente... sequestro, Josh, Melissa desmaiada, Vicente e uma arma...

- Aí amiga, que bom que você acordou!

- Água, por favor... - é a única coisa que consigo dizer no momento.

Melissa me ajuda a me acomodar melhor na cama e a beber um pouco de água de uma garrafinha. Antes que eu possa perguntar mais alguma coisa vejo meu pai, um homem e uma mulher entrarem no quarto.

O homem para ao meu lado, provavelmente o médico, enquanto a mulher verifica os aparelhos do outro lado da cama.

- Como está se sentindo Emily? - o homem de branco pergunta gentilmente.

- Confusa... o que aconteceu?

- Você desmaiou, acreditamos que pelo estresse da situação, mas nada de grave aconteceu com você. Porém, no seu estado, achamos melhor te manter aqui por uns dias.

- No meu estado? Como assim?

Vejo o médico trocar um olhar com o meu pai, que se aproxima e segura minha mão.

- Você está grávida querida, não sabia?

Me sinto paralisar por uns segundos, não sei o que pensar e nem o que dizer. Escuto um aparelho apitar mais alto me trazendo de volta a realidade, olho para meu abdômen plano e coloco uma mão sobre ele.

- Eu fiz um teste mas deu negativo.

- Pelos exames a gravidez é recente, aproximadamente 3 semanas, alguns testes caseiros não conseguem detectar mesmo - o médico explica - você e o bebê estão bem, mas te queremos aqui só por garantia.

- A quanto tempo estou no hospital?

- Faz dois dias Emy - Melissa responde.

Volto a ficar em silêncio, começo a sentir minha cabeça latejar e fecho os olhos novamente.

- Vamos deixar ela descansar, é muita informação para processar - escuto o médico dizer.

Lembro no dia que fiz o teste, não achei que estar grávida seria tão ruim, mas agora a situação mudou já que, provavelmente, seria mãe solteira e o pai do bebê está com a mulher que tentou me matar. Só de relembrar aquela cena sinto meu estômago embrulhar.

- Mel? - chamo ainda de olhos fechados.

- Sim, amiga, estou aqui - sinto sua mão tocar meu ombro.

- O Vicente sabe do bebê? - Deus queira que não, de jeito nenhum quero aquele traidor e sua amante desequilibrada perto do meu filho.

- Emily... - Melissa hesita em responder e eu viro para olha-la, minha amiga esta se esforçando para não chorar.

- O que aconteceu?

- O Vicente também está no hospital, só que na UTI.

- O que? Por que?

- Os policiais disseram que a Jessica atirou quando eles chegaram e o meu irmão entrou na sua frente para te proteger, a bala atingiu uma veia importante e ele precisou passar por uma cirurgia delicada.

- O estado é grave? - Tento me conter, mas as lágrimas começam a escorrer pelo meu rosto.

- Ele está estável no momento mas ainda inconsciente.

- Eu não entendo - fecho os olhos novamente - eu ouvi ele dizendo que não se importava comigo, que queria formar uma família com aquela louca - rio da ironia da situação e passo a mão em minha barriga.

- Era tudo um plano, a gente sabia que a Jessica tinha informações, ele estava tentando seduzi-la para chegar até você - Melissa segura a minha mão novamente - o Vicente te ama demais Emy, ele faria qualquer coisa por você, inclusive levar um tiro para te salvar.

Não consigo mais conter a dor e as lágrimas, Melissa me abraça e chora junto comigo. Nesse momento uma enfermeira entra dizendo que preciso me acalmar, vejo que injeta algo na minha veia e logo em seguida meus olhos ficam pesados.

Acordo novamente e está escuro no quarto mas consigo ver meu pai todo torto dormindo em uma poltrona, sorrio com a cena e agradeço por ter tido um pai tão bom, mesmo com seus erros e o período conturbado que passamos, todas as minhas memórias de infância ele esteve sempre presente me ajudando. Isso me faz pensar no meu filho e em Vicente, não duvido que ele seria um pai tão bom quanto o meu.
Vicente levou um tiro por mim... ainda não consigo acreditar em tudo que aconteceu, ele realmente me ama e, mais uma vez, me deixei pensar o pior dele.

O dia vai clareando e continuo imersa em pensamentos. Uma enfermeira entra, com o barulho meu pai acorda e ele vem na minha direção.

- Bom dia filha, como está hoje?

- Bom dia, estou mais calma, já consegui colocar os pensamentos em ordem. Queria saber o que aconteceu... com eles... - tenho dificuldade em pronunciar os nomes mas ele entende de quem estou falando.

- Josh foi morto pela polícia e os outros dois homens que estavam com ele foram presos - respiro aliviada com a notícia - e a ex secretária do Vicente atirou em si mesma logo depois de acertar ele, ela foi trazida para o hospital mas não resistiu.

- Ela era cúmplice também?

- Sim, aparentemente eles tiveram um caso, não participou ativamente do sequestro mas sabia de tudo.

- Eu posso ver o Vicente?

- Não sei se é uma boa ideia querida, ele está na UTI e é uma imagem forte, você já passou por tanta coisa...

- Mas eu quero, preciso olhar pra ele e me desculpar - corto antes que ele possa continuar - ele arriscou a própria vida e eu duvidei dele pai, eu preciso disso! Por favor! - sinto lágrimas em meus olhos novamente.

- Vou conversar com o médico para que possa vê-lo - ele diz e beija minha testa.

Um tempo depois recebo a visita dos policiais responsáveis pelo caso, eles me fazem algumas perguntas e dizem que vão esperar a minha alta para dar um depoimento oficial. Só na parte da tarde sou levada para ala da Unidade de Tratamento Intensivo, dois andares abaixo do meu.

A enfermeira diz que posso ficar apenas 5 minutos e me deixa sozinha com ele, a cena é de partir o coração. Vejo um Vicente tão frágil, ligado a aparelhos lutando pela própria vida. Me aproximo devagar e toco de leve a sua mão.

- Oi meu amor, sou eu, Emily - não sei se ele consegue me ouvir - queria me desculpar por ter duvidado das suas intenções, do seu amor - sinto uma lágrima escorrer pelo meu rosto - eu e o nosso filho precisamos de você com a gente - nesse momento sinto como se ele apertasse de muito leve a minha mão.

- Vicente, você consegue me ouvir? - fico parada esperando outra reação mas nada acontece - volta pra mim meu amor, temos uma vida inteira juntos ainda!

Nesse momento a enfermeira aparece na porta me avisando que o tempo acabou, dou um beijo em sua testa e quando me viro para ir embora escuto um sussurro muito baixinho.

- Emily...

Os aparelhos ligados a ele começam a apitar de uma forma diferente, várias pessoas entram e sou retirada do quarto e levada de volta para o meu.

Vamos torcer para o Vicente ficar bem logo! Falta só mais um capítulo para o final dessa história!

O Irmão da Minha Melhor Amiga Onde histórias criam vida. Descubra agora