4 - The prince

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Não sabia exatamente quanto tempo havia se passado desde que fora aprisionado naquela espécie de caverna congelada, muitas coisas se passavam em sua cabeça, não tinha muito o que fazer a não ser pensar, estava preso, além de estar ferido e frágil o suficiente para não ter forças para tentar fazer algo que pudesse o tirar dali, poderia ser noite ou ainda tarde mas era impossível saber dentro daquele lugar, era escuro, frio e solitário, mas o que o incomodava era o silêncio que fazia, nenhum som era emitido de fora para dentro ou vice-versa, lembrava de estar uma forte nevasca quando tudo aconteceu mas por algum motivo não era possível ouvir nada ali de dentro, por pouco poderia ser capaz de ouvir seus próprios batimentos, era um completo vazio, se perguntava como alguém era capaz de viver ali, ao menos dava para chamar aquilo de "vida"? Acabou negando apenas com alguns movimentos de cabeça, chocou sua própria cabeça contra a parede de gelo e fechou os olhos por alguns instantes, minutos ou horas atrás era um príncipe invejado, um simples arranhão em seu corpo e teria o melhor tratamento do melhor médico, além do reino inteiro rezando para que melhorasse. Agora se encontrava em suas piores condições, com um ferimento consideravelmente grave, nisso tudo apenas uma certeza veio em sua mente, não importava se era rico ou pobre, príncipe ou plebeu, nada disso valia naquele momento, era apenas um ser humano como qualquer outro, sentia dor, sangrava e sofria da mesma forma, do que adiantava ter dinheiro se isso não o tornava superior de forma alguma, tinha poder, mas não havia jóia alguma que pudesse trazê-lo a vida depois de morto, no fim, todos iriam para o mesmo lugar.

- Isso é patético...

Riu soprado falando em tom de sussurro para si mesmo já que era sua única companhia ali, seu estômago doía por não ter comido nada até agora, além de estar fraco não só pelo tanto de sangue que perdeu, sentia frio, estava praticamente morrendo aos poucos, mas nada disso doía tanto quanto sua alma, então a história fantasiosa de sua infância era real, e não, não tinha um final feliz, sendo sincero consigo mesmo, viver não parecia algo tão atraente como achava antes, muito longe disso, se tivesse mesmo sido deixado ali para morrer devagar, estaria agradecido, não tinha culpa e nem merecia pagar pelos erros de seu pai, assim como muitos daqueles inocentes pagaram com suas vidas por algo que não deveriam, a dor de perder alguém que ama deve ser um fardo difícil de se carregar, não sabia se seu pai se sentiria mesmo dessa forma se partisse, mas se sim, o deixaria com essa dor eternamente se era a única coisa que poderia fazer em troca.

Lembrou-se da face angelical, a pele pálida de aspecto macio, pensou em como seria poder toca-la, os lábios avermelhados e tão cheios de vida, traços completamente divinos, totalmente irreais se não tivesse mesmo visto pessoalmente, mas o olhos, aqueles olhos, nunca viu nada parecido, eram belos mas pareciam vazios, como se não vissem nada da forma que deveria ser, a frieza, era como uma barreira que escondia algo mais profundo, não era natural, havia muito mais do que deveria ter.

- Coma.

Assustou-se ao ouvir a outra voz presente no ambiente passando a encarar o anjo a sua frente, o olhar agora parecia ainda mais cansado que antes, não sabia se era pela cicatriz mas uma vermelhidão além do normal também estava presente, como se tivesse chorado, sentiu o peito apertar ao cogitar tal coisa, não tinha se dado conta de quando o outro voltou, não sabia se era por estar perdido em seus pensamentos crentes de que iria morrer ali, mas realmente nenhum som fora emitido quando o ser entrou, totalmente incrível, como algo tão chamativo conseguia se esgueirar de forma rápida e completamente imperceptível? Especialmente com aquele par de asas alvo feito neve. Para outros poderia ser um completo ato de loucura mas o príncipe se sentiu esperançoso ao vê-lo ali, mesmo que pudesse ser seu último contato, cresceu com a curiosidade de encontrar os tão aclamados anjos de gelo, não esperava que fosse dessa forma e mesmo que estivesse completamente perdido em meio a tantas informações, estaria disposto a pelo menos tentar ir além, já era tarde demais para pensar em voltar atrás, até por que não queria e nem podia, não faria sentido voltar ao reino sabendo que cresceu ouvindo uma terrível mentira, pior ainda, que seu pai fora o causador de tanto sofrimento e sua mãe acobertava tudo. Assustou-se pela segunda vez quando uma cesta com alguns alimentos frescos fora deixado a sua frente, mas uma certa curiosidade o preencheu, não havia nada de origem animal, talvez tivesse ficado tempo demais observando esse fator que não se deu conta que acabou desagradando aquele à sua frente.

- O único ser que deve servir de alimento aqui é você.

Assim o anjo chutou a cesta que deslizou até encostar no príncipe e acabar derrubando algumas coisas, não esperava ouvir palavras tão espinhosas como aquelas, mas tentava entender o lado dele, não iria mudar sua cultura para realizar os gostos de alguém que nem fora convidado para estar ali, mas de fato não era exatamente aquela ideia que queria ter passado, apenas estava descobrindo algo novo sobre aquele ser e a forma que se alimentavam era interessante, era somente deveras curioso, mas como poderia explicar quando mal conseguia falar? Porém não desistiria de tentar.

- Por que...por que está fazendo isso?

- Prefere morrer de fome?

- Não, eu quis dizer, por que não me deixou aqui? Por que não me deixa morrer?

O ser apenas olhou em seus olhos por alguns instantes e nada disse, apenas virou-se saindo mais uma vez, porém não da caverna e sim do mesmo local que o príncipe, a verdade era que não tinha uma resposta para aquelas perguntas, não era um simples humano, sabia o peso que seria se matasse o príncipe, não que temesse o rei, mas sentia algo além naquele garoto, como se não pudesse dar um fim, não estava se importando com ele, na verdade tinha vários e outros motivos para acabar com tudo, e até tentou, mas a verdade é que pela primeira vez não conseguiu, conforme as batidas que ouvia, ele não sentia medo, estava mais para ansiedade, mas por que? O que aquele príncipe queria indo até aquele lugar em busca de sua própria morte? Mas a pergunta que gritava em sua mente era:

Por que ele não temia a morte?



🦋•🦋

! Cap curto por eu ter me perdido um pouco na história já que acabei deixando de lado!

Olha quem apareceu né? Pela demora acho que devo no mínimo uma explicação.

Depois da postagem do cap 3 aconteceram muitas coisas, essas que me fizeram realmente desistir de escrever e eu realmente planejava apagar tudok (me batam). Porém eu sou completamente apaixonado nessa história e tenho uma relação muito profunda com ela, depois de séculos voltei aqui e vi que não valia a pena jogar tanto trabalho no lixo, por isso resolvi voltar a escrever e pretendo finalizar, vou atualizar de acordo com os dias na sinopse (imprevistos acontecem e posso acabar atrasando um ou outro) mas prometo ir até o fim.

Agradeço a quem quer que estiver lendo isso e for acompanhar essa sofrência toda!

⚠️ já estou escrevendo o próximo cap.🏃

The eternal ice angelOnde histórias criam vida. Descubra agora