5 - Breaking the silence

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Três dias...

Há exatos três dias ouvia as mesmas perguntas e o pior era que não conseguia responder nenhuma delas, então sempre fugia ou fingia não as ouvir, sempre falava só o necessário como: "Coma" "beba" "durma" e coisas desse tipo.

Acontece que nem mesmo sabia o que fazer com aquilo tudo, um príncipe desaparecido há mais de um dia já era mais do que preocupante, provavelmente haveria um exército inteiro em busca dele por onde quer que fosse, mante-lo ali sem nenhum intuito não fazia sentido, não conseguia por um fim e agora já era tarde demais para mandá-lo ir embora.

[...]

- O que você sabe?

O anjo pergunta enquanto trocava o curativo do príncipe, vendo que o ferimento estava bem melhor e começava a cicatrizar, naquele instante desejou sua mãe ali, em poucos segundos não haveria uma única marca naquela região graças ao dom de cura, mas tudo o que poderia fazer era um simples curativo e ouvir os batimentos cardíacos, se perguntava muito em que aquilo seria útil, seus progenitores talvez conseguissem explicar mas sequer tiveram a chance de poderem ver seu filho descobrir seu próprio dom.

- Hm? Perdão mas não entendi.

O príncipe responde surpreso com a pergunta, havia tentado todo tipo de comunicação com o ser angelical e tudo o que ganhou foi silêncio e algumas palavras curtas, porém algo lhe dizia que conseguiria algo mais, deveria ter um motivo para ele ter o mantido ali todo esse tempo, além de estar tratando do ferimento que ele mesmo ocasionou, não que visse isso como uma obrigação mas por se sentir incapaz quando sabia que não poderia retribuir, já que graças a si ele agora carregava uma cicatriz em sua face antes límpida, era horrível ter que olhá-lo e saber que fora o causador daquela imperfeição naquele rosto tão belo, não era nada comparado à beleza que tinha mas seu peito doía sempre que via o corte agora completamente curado no supercílio alheio, se perguntava como havia sarado tão rápido quando agora que seu ferimento melhorava e ambos tinham se ferido no mesmo dia.

- Você disse que sabia de uma história, me conte.

- Oh isso...é apenas algo que cresci ouvindo, mas não acho que vá agradá-lo.

- Nada que possa vir de você irá me agradar, apenas conte.

Respirou fundo, de alguma forma havia se acostumado com toda aquela frieza direcionada a si, e com razão. Logo o anjo estava a sua frente esperando que começasse, então antes que ele lhe desse às costas mais uma vez caso não falasse, ajeitou à postura fazendo a corrente presa a si tilintar. Buscou às palavras corretas ou menos piores para contar a sua história antes favorita, com todo cuidado para não acabar o afetando mais do que já sabia que ele sentiria.

Já o anjo ouvia tudo com muita calma e atenção, pelo menos aparentemente, pôde notar um brilho diferente nos olhos daquele príncipe conforme falava sobre os anjos, como se agora mesmo não tivesse um a sua frente, permitiu sua mente ir um pouco além nas poucas lembranças de como verdadeiramente eram, sentindo um estranho conforto, como se pudesse sair dali e observá-los sobrevoar os céus como faziam, só que se o fizesse agora, não veria nada além das nuvens. Algo logo chamou sua atenção, o som de batidas aceleradas quando ele ditava cada traço, como se estivesse desenhando perfeitamente um em sua mente, mas se nunca tinha avistado um antes como poderia saber sobre aquilo? Ou qual era o motivo de sentir tanta ansiedade quando se tratava dos seres celestiais, não sabia, e talvez nunca soubesse.

Diferente do que esperou, à história foi perdendo completamente o ritmo assim como a face a sua frente ia se tornando opaca, séries de horrores acontecendo e uma grande mistura de fatos e mentiras se embaralhando, até o momento em que ouviu sobre a tal morte do rei, e toda cena de sofrimento da morte de tantos seres inocentes, não conseguiu continuar até o fim e o interrompeu.

The eternal ice angelOnde histórias criam vida. Descubra agora