capítulo único

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Quando menina eu sempre acreditei que Marcelo seria meu único amor, com o passar dos anos essa certeza permanência em meu coração como raízes de uma árvore presa ao chão, mas o tempo é surpreendente e tudo o que pensávamos do futuro muda em um piscar de olhos, Marcelo não era o homem que envelheceria ao meu lado, eu o amei e como amei, parte de mim sempre irá amá-lo, mas nosso amor nunca foi eterno, era juvenil, uma história interrompida que precisava ser vivida até o fim, um final curto, mas essencial.

Perder Marcelo me machucou muito, jamais imaginaria que esse seria o nosso destino, até mesmo cogitei nunca mais me apaixonar, não suportaria passar novamente por tamanha dor, meu coração estava machucado demais para isso e então eu queria viver somente para cuidar de minha sobrinha, Poliana e nada mais, mas o destino tinha na gaveta outros planos reservados e eu me vi perdidamente apaixonada por ele, Otto, o homem que sempre esteve ali ao meu lado e de certa forma em meu coração.

Otto e eu nos aproximamos durante o luto, durante o desespero no sequestro de Poliana e a cada dia que eu tentava fugir, eu me via mais e mais próxima a ele, Otto era como um ímã me puxando para os seus braços e eu já não conseguia encontrar desculpas para negar meus sentimentos, nem mesmo usar Poliana como desculpa estava me ajudando. As pessoas comentavam sobre nossa aproximação e eu tentava me convencer de que tudo isso era errado, afinal ele era irmão de Marcelo, como poderia eu gritar aos quatros ventos que estava apaixonada por aquele que um dia foi meu cunhado? Mas como poderia também negar um amor que estava me consumindo como fogo?

Hoje é o casamento de Joana e Sérgio e Otto já chegou para buscar Poliana e eu, deixei que ela descesse primeiro para assim poder tentar controlar um pouco as minhas emoções antes de vê-lo, mas assim que cheguei ao topo da escada senti minhas pernas trêmulas, ele estava completamente lindo, elegante e seu cheiro estava por todo o meu espaço, me abraçando, me envolvendo, tomei coragem então e desci as escadas e a todo instante senti os olhos dele em mim, quando me aproximei e nossos olhos se conectaram eu tive certeza que ali, naquele momento, não existe ninguém mais além de nós dois, em seus olhos eu vi amor, paixão, desejo, pois eram os mesmos sentimentos que os meus olhos refletiam, depois de certo tempo nos encarando sem nada dizer, nossa conexão foi quebrada por Poliana, que sim, estava ali presenciando tudo.

“Pai, a tia Luísa está linda, né?” — Perguntou a menina o deixando levemente nervoso e pude jurar ter visto suas bochechas ficarem vermelhas.

“Sim, filha.” — A voz dele estava completamente rouca, como se estivesse há dias sem beber água e tivesse encontrado uma fonte fresca naquele exato momento. “Sua tia está muito linda.” — Disse sem tirar seus olhos de mim.

Sorri e era a minha vez de ficar com as bochechas vermelhas, a roupa, o penteado, a maquiagem, tudo foi pensando nele, eu queria ficar bonita pra ele e meu coração batia acelerado por perceber que fui capaz de deixá-lo encantado, sem conseguir disfarçar e por ele me olhar naquele momento como se eu fosse a única mulher existente no mundo.

“Você também está muito bonito.” — Eu tinha que retribuir o elogio que era a mais pura verdade, Otto estava de tirar o fôlego e eu tinha que me controlar, pois Poliana estava conosco. “Vamos? Não podemos nos atrasar.”

Poliana então segurou na mão esquerda do pai enquanto eu segurei sua mão direita, de fora, quem estivesse olhando, acreditaria facilmente que somos uma família e de certa forma nós éramos uma. Durante o trajeto, Poliana conversava e contava um pouco sobre seus dias na escola, sobre o lançamento do livro do pai do João e outras coisas, já eu não conseguia parar de olhar para o homem ao meu lado sem que um sorriso idiota aparecesse em meus lábios, era automático, era tão leve e gostoso o flerte entre nós dois e foi assim durante todo o percurso.

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