Charleston, EUA, 13 de fevereiro de 1986.
O ano havia acabado de começar, e o sol do verão refletia sua esplêndida luz na janela da casa de Johnny Anderson. Estava de folga de seu cansativo trabalho, apenas esperando sua pequena filha chegar da escola. O almoço, uma deliciosa torta de frango, estava apetitoso. Sempre ficava de cara com as comidas que sua esposa, Chloe, fazia. Se controlava para não pegar um pedaço e comer ali mesmo. Ainda faltavam 10 minutos para sua filha, Nancy, chegar... Oh, que tortura.
Estava morrendo de fome, e esperá-la foi insuportável. O cheiro penetrava suas narinas e o fazia imaginar tudo que há de bom no mundo. Quando enfim viu sua filha abrindo a porta, se animou de imediato. Em um piscar de olhos, já havia cortado a torta em três pedaços e colocado um em cada prato.
"Sem suco hoje?", perguntou a garotinha.
"Oh, haha", disse Johnny. "Olha minha cara de quem ia fazer um suco."
"Chega de discussão, pessoal.", disse Chloe.
"Não estamos discutindo,", disse Nancy, "estamos só..."
"Argumentando", terminou Johnny.
"Idiotas. Vamos agradecer a Deus por mais um almoço delicioso."Após terminarem suas preces, Johnny foi o primeiro a abocanhar arrasadoramente a comida. Estava tudo ótimo, até ser pego de surpresa por uma frase de Nancy.
"Zombaram de mim hoje, pai."
"Não dá importância pra eles, queridinha. Lembra que o papai te amaria mesmo se você fosse uma planta."
"E eu te amaria mesmo se fosse um... marimbondo", disse a garota, provocando risos de seu pai.
"Mas enfim, filha, o que falaram?"
"Alguns babacas da minha sala ficaram um tempasso falando a mesma coisa: 'então você que é a macaquinha favorita do traficante, não é?', me deu nos nervos...", disse, com a boca cheia.
"Merda... me chamaram de traficante?", perguntou.
Sua esposa o encarou com um olhar de surpresa, e ambos se calaram. Sabiam o que estava acontecendo.
"O que foi, pai?"
"Olha, não dá pra eu te explicar muito bem agora, mas um... cara aí tá me acusando pra cacete de um crime que eu não fiz. Isso porque eu fiz a esposa dele ser presa. Ele tá querendo se vingar."
"Ah, que desgraçado...", disse a pré-adolescente, tomando um pescotapa de sua mãe.
"Sem palavrões, Nancy. Pera aí... Onde que cê tá indo, Johnny?", disse, ao ver que seu marido estava pondo em si mesmo uma jaqueta de couro.
"Vou resolver as coisas com esse moleque."
"Deixa eu ir com você", disse Chloe, pondo uma mão em seu ombro.
"Vamos logo então."Já dentro de seu carro, os dois estavam amedrontados. O falso crime havia agora se espalhado até mesmo para as crianças. Não deu tempo de sequer virarem a esquina, e foram parados por três viaturas policiais que ali estavam, rumando à sua casa. Pararam o carro e desceram com as mãos para cima.
Nem tentaram questionar, não adiantaria. O homem que o denunciou era respeitado por todos por seu "excepcional" serviço. Agora, o que poderiam fazer seria pedir a Deus que os livrassem daquela situação péssima.
Johnny estava em uma apertada e abafada sala de interrogatório. Não havia ninguém lá, não estava algemado, era apenas ele e ele mesmo esperando, de forma entediante. Poucos segundos aparentavam dias.
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Perdão, e Obrigado
General FictionNão é um livro romântico!! Charles é um idoso rabugento e solitário que está há longos anos vivendo na mesma entediante chácara, até que, de repente, é surpreendido pela aparição de um jovem desleixado alegando estar fugindo de uma injusta perseguiç...