Algum Lugar nos EUA, 21 de Fevereiro de 1986.
Já era tarde, e Johnny acabara de acordar. O céu era coberto pela cinza cor das nuvens, e o sol não era nem sequer visível. O tempo prometia uma chuva das fortes. Charles não ligava para isso, e nem um pouco; hoje acordou dedicado a passar um tempo pescando. Os gordos e suculentos peixes do riacho sempre foram deliciosos após dias de chuva.
Johnny não queria sair da casa, com medo de pegar chuva. Não era nem um pouco agradável para o jovem. Apenas saiu pela grande insistência de Charles. O velho realmente queria muito pescar com Johnny.
Para Charles, um estranho inconveniente não parecia ser tão chato de se ter por perto agora. Johnny era agradável. A solidão se tornara entediante, mas agora as coisas pareciam estar melhorando.
Johnny desceu o vale descalço. Amava a sensação de tocar a grama, coisa que jamais foi muito acostumado a ver. Sempre amou a vida, mas quando estava com a natureza... Ela parecia ainda melhor. Seu pequeno jardim - pequeno mesmo - apenas provava que o homem amava o verde. Se sentia mais próximo a seu deus quando ficava perto do que Ele criou.
"E aí, já pescou antes?", perguntou Charles.
"Umas vezes... Nunca fui muito bom."
"Oh, pode apostar que hoje você vai aprender."
"Assim eu espero, velhote"
"Olha, por que você não vai se... danar?"
"Tá aprendendo a parar de falar essas palavras feias?", caçoou Johnny.
"Cê é irritante pra caralho, sabia?"Enfim chegaram ao riacho, que corria rápido como luz. Nem pensaram em dar um passo ali, seriam derrubados e levados pela correnteza instantaneamente. Ou talvez não. Eu estou exagerando. E muito.
Como sempre, Charles escolheu o objeto de mais qualidade para si mesmo, e deu o medíocre a Johnny. Duas varas de pesca: uma custou 50 e poucos dólares, enquanto a outra não era nem metade disso. Charles foi o primeiro a arremessar a corda e capturar um peixe.
O peixe estava feio e magro, provavelmente não estaria lá tão gostoso para cozinhar. Charles tentou ensinar Johnny, mas o jovem já havia arremessado. Capturou algo.
O peixe nadava ferozmente na tentativa de fugir, enquanto Johnny tentava puxá-lo para a superfície. Uma grande batalha se iniciou ali. A batalha do século, para ser mais específico. Johnny contra o peixe. Quem ganhará? Depois de muito esforço, Johnny enfim puxou o animal. O peixe formava um terremoto a cada debatida, e era muito, muito grande. O jovem sofreu para tirá-lo do chão. Charles estava com tanta inveja e tão furioso que nem sequer o parabenizou.
Johnny, intencionado a ostentar seu peixe, pegou-o em seus braços, com uma imensa dificuldade. Fez uma pose de foto e abriu um sorrisão nem um pouco sincero em seu rosto. Não deu tão certo. Achou que estava bonito, mas a única coisa que lhe aconteceu foi uma estúpida esbarrada em uma pequena pedra. Tropeçou.
Caiu com o peixe dentro do rio, que boiou e foi levado pela correnteza como uma folha de árvore. Apesar de parecer estar furiosa, a água não estava lá tão gelada ou avassaladora.
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Perdão, e Obrigado
Ficción GeneralNão é um livro romântico!! Charles é um idoso rabugento e solitário que está há longos anos vivendo na mesma entediante chácara, até que, de repente, é surpreendido pela aparição de um jovem desleixado alegando estar fugindo de uma injusta perseguiç...