I am not a girl | kavetham • alkaveh

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Créditos da capa: @hailaoilai2 no twitter.

Para uma melhor experiência, ponha seus fones e escute "Cavetown" durante a leitura.

Espero que gostei! Boa leitura.

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Não era de hoje que Kaveh estava se sentindo assim, sentindo que nasceu no corpo errado.

Desde que se lembra, sempre odiou ser remetido à coisas femininas e ser forçado a usar vestidos, saias ou ter que ser delicado e visto como frágil. Perdeu a conta de quantas vezes se olhou no espelho e desejou morrer e renascer no corpo que tanto desejava, era tão difícil ver tantos homens e saber que provavelmente nunca seria igual à eles.

Ele se sentia tão mal por desejar ser um homem, passava noites em claro tendo crises horríveis que demonstravam no dia seguinte seus efeitos, os olhos inchados e lábios maltratados não passavam despercebidos por seu melhor amigo, Alhaitham, que sempre insistia em perguntar o que estava lhe acontecendo e sempre era respondido que era em relação às provas ou ao trabalho.
O rapaz não era um dos melhores em demonstrar sentimentos mas era claro sua preocupação sobre "sua melhor amiga".

Pensou em contar à Alhaitham sobre o que passava mas achou que ele não o entenderia, afinal, provavelmente sempre seria visto como uma mulher, não é?
E céus, como isso doía, Kaveh a cada dia que passava odiava mais ainda sua aparência.
E para piorar, não tinha ninguém que pudesse contar isso, se não se sentia confiável de contar para a pessoa que mais confiava no mundo que é seu melhor amigo, há mais quem poderia recorrer?

Mas o que mais machucava Kaveh era ser chamado no feminino e ser tratado como uma mulher, ele se acostumou com a ideia de pessoas de fora sempre o chamando assim mas quando Alhaitham pronunciava seu nome morto era como uma facada em seu peito, não culpava o mais velho, afinal ele não sabia de nada, mas realmente precisava dar um jeito nessa situação.

Passou dias, semanas, meses até que Kaveh decidisse contar à Alhaitham sobre seu gênero, não achava que o outro fosse reagir de forma ruim porém tinha medo de isso afetar a amizade de ambos.

Eles eram igual cão e gato, viviam se xingando e brigando, mas no final, um sempre acaba nos braços do outro quando mais precisam. Inclusive foi assim quando Alhaitham se descobriu bissexual e sua família o rejeitou, pela primeira e única vez na vida, Kaveh viu o outro chorar.

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E lá estava novamente Kaveh se olhando no espelho e odiando sua aparência, fazia de tudo para poder esconder os seios fartos mas sempre ouvia comentários ridículos e sem noção vindo de sua família ou pessoas na rua, andava com o máximo de roupa possível escondendo suas curvas, para de alguma forma, conseguir se sentir mais masculino. Sempre que tinha crises de disforia corria para o armário de seu melhor amigo e colega de quarto, roubava alguma blusa larga e uma calça do mesmo estilo e caramba, como ele amava. Alhaitham por outro lado nunca o questionou, achava que era alguma das brincadeiras alheias.

Foi em uma dessas vezes que Kaveh vasculhava o armário do amigo quando o mesmo adentrou o cômodo.

— Ah, então ainda rouba minhas roupas, pestinha?

— Caralho, Alhaitham! Que susto, porra.

Kaveh respirou tão fundo que sentiu que seus pulmões nunca estiveram tão cheios antes quanto agora.