Carnaval

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De acordo com o dicionário, Patrícia possui o significado de nobre. Claro que minha mãe em seus 17 anos não sabia o significado do nome quando eu nasci, mas eu até que gosto. Posso possuir muitas personalidades, talvez ser patricinha esteja na lista, se receber um salário mínimo me fizesse uma.

Não ache que é fácil viver no interior do Rio de Janeiro, uma cidade pequena que vou preferir guardar o nome a sete chaves. Pois não há muito o que se fazer aqui. Imagine um sábado a noite onde a melhor opção é ir ao shopping para comer na praça de alimentação ou pegar um cineminha. Não que eu seja a pessoa mais festeira do mundo, prefiro o aconchego do meu lar mas a escassez do que fazer aqui me deprimi. Para ser sincera, a melhor coisa que há aqui é o fato de ter opções de praias, quer dizer, em outras cidades próximas. 

Se bem que há uma praia aqui em questão que eu adoro, para ser exata me apaixonei por ela em 2020, a Praia do Sudeste. Talvez porque foi ali, naquele momento que a vida já não foi a mesma. É o ponto de partida crucial da história que quero trazer pra você. 

Pra isso vou voltar um pouco no tempo. 

Eu tinha acabado de terminar o ensino médio e o meu técnico em laboratório. Deixa eu deixar claro, eu tenho (ou tinha) pavor de hospital, seringas, etc. Desde que a seringa não fosse no meu braço eu estava bem, estagiei por 6 meses em um hospital da cidade e me sai super bem. Minha formatura era meu sonho, só porque assisti High School Music 3 e eles jogam o capelo para o alto. Ver meus pais chegando lá e eu com aquela roupa de formatura pra mim foi o sonho se concretizando, eu estava com 19 anos e sempre pensei que não chegaria aos 18, imagina está na presença daqueles que sempre me apoiaram nos estudos. O choro foi gratuito, não tenho fotos do momento, quer dizer, uns meses antes teve uma sessão de fotos com a turma e eu estava belíssima, com toda humildade.

Era verão e sempre acompanhei meus pais para uma cidade próxima para irmos a praia. Mas eu tinha acabado de me forma e naquela mesma semana era carnaval, algo que comecei a gostar quando fui ficando mais velha.

 Duas amigas minha me chamaram para passar o carnaval com elas e minha mãe bateu o pé dizendo não, sorte que meu pai concordou e eu consegui ir. Ele nem imaginava que aquele sim dele iria me fazer ser eternamente grata.

O que dizer do carnaval? Para mim são dias onde você visualiza muitas pessoas diferentes ( em situações decadentes), bebidas e músicas que eu não imaginaria dançar. Gosto da energia caótica. A primeira vez que fiquei bêbada ou meu primeiro beijo foram em algum carnaval. Aquele seria meu primeiro carnaval sem meus pais por perto e eu estava super animada.

Um dia antes de ir para a Praia do Sudeste o tempo estava nublado, já fui logo avisando para Maria, que é minha amiga, que se estivesse chovendo no outro dia eu não iria. Eu não iria de ônibus para uma praia que nunca tinha ido, sozinha e na chuva, né? E como que íamos no bloquinho? Definitivamente não. Acordei no outro dia com um sol de 35 graus, as coisas estavam ao meu favor.

Lá estava eu no ônibus, rumo a praia e cheia de bolsas. Nunca tinha ido a Praia do Sudeste, então a cada placa que passava eu ligava para Maria informando minha localização. 

''Mas por que você não mandava mensagem?''

Meu celular tinha quebrado, minha história de vida é hilária, tive que pegar emprestado o celular de reserva que tinha em casa, daqueles antigos que só faz ligação e manda SMS. Dei graças a Deus quando cheguei na Praia do Sudeste. Liguei para Luna, minha colega, me buscar na rodoviária. Eu fiquei na casa de Luna, que era três casas depois da de Maria.

 Luna sempre foi gente boa comigo, mas ela sempre foi complicada de se conviver, a famosa dona da razão. Todos ao redor concordam comigo desse jeito dela, principalmente quando ela fechava a cara para qualquer coisa. Fiquei na casa de praia dela por ela ter me chamado, por não ter espaço na casa de Maria para eu ficar, de eu ter ficado próxima de Luna quando Maria desistiu do curso e também ter feito estágio junto dela. Sempre serei grata por ela e a família me tratar tão bem naqueles dias de Carnaval.

Cheguei na casa de Luna era umas onze horas da manhã e eu já queria me arrumar para ir para o bloquinho, que seria umas três horas da tarde. Almoçamos um fricassê maravilhoso que nunca esquecerei e logo depois começamos a nos preparar para ir na casa de Maria. 

Uma coisa que não pode faltar no Carnaval: gritter. O suficiente para ficar no seu corpo até o Natal. Naquela época meu cabelo ainda estava castanho com um degradê vermelho e eu coloquei uma tiara com chifres vermelho, pra passar um ar de sexy sem ser vulgar.

Eu mudei radicalmente o cabelo quando eu ainda estava no fundamental, descolori por inteiro e pintei de vermelho. No fundamental aquilo era um horror vendo hoje em dia, o degradê do ensino médio eu sinto saudades até hoje.

Encontramos Maria na casa dela, ela terminava de se arrumar e depois de um tempo fomos andando até onde seria o trio elétrico. Eu queria muito beber algo, desde antes de sair da casa de Luna, mas as meninas queriam que começássemos a beber juntas quando chegássemos. Depois de andar uma boa distância enfim chegamos ao local onde muitas pessoas já estavam se divertindo. 

Saímos tarde de casa e tínhamos perdido o primeiro trio elétrico e logo começaria o segundo, perdemos metade do bloco, mas tudo bem ainda teríamos três dias. Enquanto esperávamos pelo começo da folia, eu e Maria encontramos um amigo do fundamental e começamos a conversar com ele descontraídas.

Conheço maria desde a terceira série, sempre fui próxima dela, mas viramos amigas mesmo no ensino médio quando mudamos de escola e escolhemos o mesmo curso. Ela desistiu do curso de Laboratório na metade e quis seguir com pedagogia em outra escola.

Enquanto Maria conversava com nosso amigo eu reparava nas plaquinhas e fantasias de carnaval das pessoas que passavam. Até meu olhos baterem em alguém, que estava há uns 20 passos de mim.

 Ele vestia uma camisa vinho e estava de óculos escuro. No momento eu pensei, gato e eu beijaria ele com toda certeza. Uns cinco minutos depois Luna ri e diz para mim: Olha a plaquinha daquele garoto ali. Mal sabe ela que eu já tinha olhado o garoto de óculos escuro e ele nem tinha percebido, mas não reparei sua plaquinha.

 Eu li naquele momento, só não esperava que isso mudaria o roteiro da minha vida.

 A plaquinha estava com a seguinte frase: ''Se você ler essa plaquinha, você me deve um beijo''. 

Adivinha só, ele percebeu que eu li e levantou aquela primeira plaquinha e me revelou a próxima plaquinha. 

''Agora você me deve um beijo''



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⏰ Última atualização: Mar 24, 2023 ⏰

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