♣️II♣️

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Acordo com o perturbador despertador de meu celular e fico sentado esperando minha alma voltar para o corpo, em seguida levanto, vou fazer minhas higienes e vestir minha farda.
Olho para o relógio e está cedo, mas eu saio assim mesmo, pois hoje prefiro ir mais devagar que o normal, e aproveitar para admirar a paisagem.
Pego todas as minhas coisas, me certifico se está tudo em ordem, e saio.
Hoje vamos pegar um ônibus na escola para um tipo de acampamento que vai ter dos 2° anos, são umas 5 turmas.
Confesso que não estou nem um pouco empolgado com isso, mas vou tentar experimentar coisas novas –e segundo meus pais, fazer amigos.

Durante a caminhada encaro algumas árvores e flores pelo caminho. Flores são tão frágeis, mas tão esplêndidas.
Uma das árvores me chama bastante atenção; ela fica próximo a escola, a mais ou menos dois pequenos quarteirões de distância. É uma árvore de tamanho médio, com todas as folhas amareladas, e não são poucas. Ela realmente me chama muita atenção, toda vez que passo por ela me encanto por sua beleza extraordinária. É estranho dizer isso, mas eu sinto uma forte conexão com essa árvore, como se ela me entendesse como ninguém. Pareço um louco falando isso, mas é a pura verdade.

Já na frente da escola, paro em um canto do portão sem atrapalhar a passagem, respiro fundo duas vezes antes de colocar meu pé direito no degrau da escola. Dou passos apressados até a sala de aula e sento no lugar habitual, sempre sentido olhares sobre mim, como seu eu fosse algo de outro planeta. Está certo, admirar estrelas e árvores sem explicações não é algo tão comum para pessoas adultas (ou com a mente de um), mas continuo sendo humano como qualquer outro.

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Acabamos de chegar no acampamento, e estamos fazendo uma caminhada até o local onde vamos ficar. Mas acabo que me perco dos demais alunos da minha sala enquanto arrumo meu sapato, eles estão lá na frente. Então eu tento pegar um atalho para chegar mais próximo deles, mas acabo por me perder mais ainda. Não sei onde estou, não lembro por onde vim.
Decido ficar sentado próximo a uma árvore esperando alguém vir, porque se eu andar mais, eu me perco mais.

Se passaram 2 horas...

3 horas...

4 horas...

Ninguém veio.

Eu como não tinha comigo nenhum amigo, nem companhia, preparei-me para sobreviver sem ajuda alguma.
Eu só tinha água para 3 dias, e umas barrinhas de cereais na mochila, junto a algumas peças de roupas.

Na primeira noite adormeci ali encostado na árvore, distante de todos os alunos que eu acompanhava. Estava tão perdido quanto alguém no meio de uma cidade desconhecida.

E, ao despertar do dia, fiquei surpreso ao ouvir uma voz estranha me acordando. Dizia:

—Por favor...faça-me uma frase bonita...

—O quê?

— Faça-me uma frase bonita...

Me coloquei de pé ligeiramente, esfreguei os olhos para ter certeza que não era uma miragem. Olhei bem, e vi um garoto inteiramente extraordinário. Ele vestia roupas iguais a de um Príncipe, e tinha cabelos loiros suaves, iguais ao daquela árvore próximo a escola. Os olhos eram parecidos com de uma raposa, e lábios rosados e inchados, mesmo com rosto meio magro e corpo esguio. Aparentava ser da mesma idade que eu.
Olhava esta aparição com espanto. Esperava que fosse algum aluno vindo me resgatar, ou alguém que estava perdido junto comigo. Ora, mas meu garotinho não parecia cansado, com sede, ou com fome, muito menos com medo. Não parecia alguém perdido, então poderia ter vindo me buscar. Quando pude enfim falar uma palavra, lhe perguntei:

—Que fazes aqui?

E repetiu novamente, como se fosse algo de extrema importância:

—Por favor...faça-me uma frase bonita.

Por mais que aquilo parecesse absudo diante aquela situação, a quilômetros de distância dos demais, e talvez correndo risco de morte, não neguei. Peguei um papel e uma caneta da mochila.
Lembrei que havia estudado várias coisas, mas que tinha desistido de fazer frases bonitas desde pequeno, então com um certo mal humor falei ao garoto que não sabia fazer frase alguma. Respondeu-me:

—Não importa, apenas faça-me uma frase.

Como jamais havia feito nenhuma frase além daquela quando tinha onze anos, escrevi aquela mas fiquei estupefato ao ouvir a resposta do garoto:

—Não, não. Eu quero outra frase bonita, isso é contraditório demais, estrelas são brilhantes demais para serem comparadas à olhos de outros.

Então eu fui fazendo várias frases aleatórias da minha cabeça, e ele recusava todos. E eu já sem paciência, fiz:

"Caranguejo azul"

E falei:

—Está aí, faça o que quiser disso.

Mas fiquei surpreso ao ver a face dele iluminada com um sorriso em seu rosto:

—Era isso mesmo que eu queria! Caranguejos azuis parecem divertidos!

Ele soltou uma gargalhada e continuou:

—Será que um caranguejo ocuparia muito espaço?

—Por quê?

—Porque é pequeno onde eu moro.

—Eles não ocupam tanto espaço. Se quer algo para cuidar, por que não adota um cachorro?

—Ele destruirá a minha rosa.

—O que há em um caranguejo?

—Eles são divertidos, andam de lado.

E foi nesse dia que encontrei uma pessoa com a personalidade diferente dos adultos que me rodeavam.

𝑀𝑒𝑢 𝑃𝑟𝑖𝑛𝑐𝑖𝑝𝑒 𝐶𝑎𝑖𝑑𝑜 [𝐵𝑒𝑜𝑚𝑗𝑢𝑛/𝑌𝑒𝑜𝑛𝑔𝑦𝑢]Onde histórias criam vida. Descubra agora