A Dama da Noite

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Segunda-feira
A janela estava aberta e o vento gelado da manhã fria de Midnight Valley batia sobre a longa cortina do meu quarto fazendo com que ela assoprasse em meu rosto a suave brisa daquela manhã.

Queria continuar ali apenas aproveitando o momento, o silêncio era comum na cidade, mas raro na minha vida, aquela sensação era maravilhosa, tão simples e tão complicada, que duraria pouco, pois logo teria que levantar para o primeiro dia de aula, mas mesmo assim eu ainda bocejava no desejo de que o tempo parasse e aquela sensação continuasse eterna,só que o relógio não estava a meu favor.

Finalmente levantei da cama, me espreguicei ainda sentido a leve brisa de outono nas minhas costas, calçei minhas adoráveis pantufas com orelhas de gatinho e fui a caminho de fechar a cortina para poder me vestir, me deparei com a paisagem de sempre, folhas com tons de vermelho espalhadas pelo chão, uma neblina cinza bloqueando a vista do céu, e nenhum sinal do Sol, apenas uma coisa estava diferente, o jardim da minha vizinha, o mais belo da cidade agora estava seco e quase sem nenhuma flor, Rosa, minha vizinha, era muito habilidosa com plantas, ela conseguia fazer com que flores crescecem em um lugar onde a luz do Sol já era extinta, e eu em nenhum dia de nenhuma estação, faça chuva ou não faça Sol, jamais tinha visto aquele magnífico jardim se tornar poeira ao meio das folhas de outono espalhadas pelo chão, talvez ela tenha enlouquecido de vez, uma velha insana que falava com plantas, que tinha como únicas amigas o desabrochar de uma violeta e os espinhos de uma rosa estava agora sem seu sorriso diário, já que suas fiéis companheiras se tornaram cinzas de algo que já foi proclamado o mais belo daquela assombrosa cidade, pode ter sido loucura ou um descuido da natureza, não importa mais, eu não podia passar o dia inteiro reparando em tudo que vejo do outro lado da janela, também tenho uma vida e já estava na hora de cuidar dela e sem pensar duas vezes decidi fechar as cortinas.

Fui direto abrir meu guarda-roupa, era antigo e de uma madeira bem desgastada,dentro dele havia várias escolhas mas somente uma opção, eu sei que mais tarde eu podia me arrepender da minha decisão,acho que pela primeira vez na vida vou confiar na sorte, abri minha mão e estiquei meu braço, fechei meus olhos e peguei a primeira peça que tocou as minhas mãos, um sobretudo bege com alguns tons de marrom, eu adorava esse sobretudo, dentre todas as outras peças essa era com certeza a que mais combinava comigo, vesti ele junto a uma blusa branca com detalhes em roxo, uma legging preta, uma sapatinha bege de laçinhos e um cachecol de lã preto, a combinação estava perfeita,mesmo assim ainda pensava e olhava fixamente para o guarda-roupa para ver se não está faltando alguma coisa, quando de repente sou atraida pelo cheiro de café preto preparado logo pela manhã, estava louca de vontade de ir correndo para cozinha para tomar café, só que eu ainda não havia me penteado e como não queria perder muito tempo arrumando o cabelo decidi fazer um rabo de cavalo com uma franja mais longa na frente, estava pronta, agora era só saborear o delicioso aroma de café enquanto descia cada um dos pequenos degrais.

Cheguei na cozinha e não pensei duas vezes fui direto abrir o armário para pegar minha caneca, era amarela com um smile feliz desenhado nela, aquele cheiro já estava me conquistando e finalmente iria provar aquela delícia, pode até parecer exagero, mas café era minha bebida preferida ainda mais quando era preparado pela minha mãe, toda dia antes dela sair para trabalhar ela deixava o café pronto em cima da mesa, mesmo ela sendo médica tinha ótimas habilidades culinárias, e eu realmente não conseguia resistir ao delicioso sabor de café, só que um café da manhã saudável não consiste apenas de café, então fui preparar o resto da refeição, peguei duas fatias de pão e coloquei dentro da torradeira, logo estavam prontas, puxei uma cadeira e me sentei, tomei meu café, comi minhas torradas, e fui escovar meus dentes, acho que já estava pronta para ir para escola, peguei minha bolsa no sofá, era de pano, minha mãe tinha feito ela para mim durante as férias não chegava a ser rosa estava mais para salmão, e tinha meu nome escrito nela, Cristal, e com o material pronto, apenas peguei minhas chaves em cima da cristaleira e fui me embora.

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