Dando passos desequilibrados, a criança — aprendendo a andar — inclinou-se para olhar dentro da dispensa, que estava com a porta entreaberta.
Agachou-se e entrou agilmente, gatinhando. Iniciou sua missão, primeiro abrindo a porta dos armários, depois retirando as embalagens, espalhando-as pelo chão.
Sentando-se orgulhosa de seu feito, pegou o saco de farinha e na tentativa de abrir o plástico denso com toda sua força, acabou caindo de costas.
Sentiu uma massa frigida, que se estendia do topo da cabeça até a nuca, onde teve um arrepio. No mesmo instante, capturou com os olhos uma criatura alta — que encurvava a cabeça por não caber no pequeno cômodo — de cabelos finos e uma vestimenta preta tão comprida quanto a mesma.
Encarava com seus olhos negros profundos, a criança que, instantaneamente, pôs-se a se levantar agoniada.
Tirando a cabeça dos pés da criatura, começa a gritar e corre para a porta, que é fechada bruscamente pela mão monstruosa da coisa.
Virando-se aterrorizada, chora ainda mais alto, na esperança de ser ouvida por alguém.
A criatura inclina-se mais para encarar a criança de perto. O ar do ambiente, cada vez mais sombrio, tornava tudo cinzento, desvanecendo a vitalidade dali. Nesse momento, a pequena ficou paralisada e de olhos arregalados.
— Ainda não. — Disse a coisa de voz tremula e arranhada.
Virando-se, a criatura caminhou de forma grotesca até a parede no fim da dispensa, onde, contorcendo-se, se enfiou entre o armário e a parede, sumindo e deixando um caos silencioso no ambiente.