À noite, Zac e Anllye estavam discutindo no quarto dela. Os criados trouxeram o jantar para eles, pois Anllye não tinha forças para sair da cama e Zac grudara nela como um carrapato. Anllye tomou uma sopa de legumes e ervas, e Zac comeu um cordeiro inteiro sozinho.
- Ah, as comidas daqui sempre são deliciosas... - Comentou Zac enquanto roía um osso. Estava todo lambuzado de um molho vermelho e criando uma cena grotesca. Anllye franziu o cenho, confusa e um pouco enojada.
- O que quer dizer com isso? Você já provou as comidas daqui outras vezes? - Questionou Anllye, observando, em choque, como o garoto separava a carne dos ossos com seus dentes caninos um pouco maiores do que os de um humano normal. Zac ofereceu um pedaço para Anllye, que negou com a cabeça. O menino dragão lambeu os dedos.
- Na verdade, seu...
- Anllye! Você está melhor? Argh! - O rei Daemint grita, ao ver o garoto todo sujo do líquido vermelho. Guardas aparecem na porta e apontam lanças para Zac, Jaennia e Ghye entram logo em seguida. Jaennia fica horrorizada, mas Ghye ri e murmura um "muito legal!".
- Pra que tudo isso? - Zac termina de lamber os dedos, indiferente, e mostra as palmas das mãos para todos. - É só molho!
O rei das fadas pigarreia, dispensa os guardas e tenta se recompor do momento constrangedor.
- Você deve ser Zartaxes Renéet, o moço que salvou minha filha, correto? - O rei pergunta, entrelaçando as mãos atrás das costas largas. Zac acena, com uma expressão entediada. Anllye da uma cotovelada em seu braço, fazendo-o lançar um olhar mortal para a princesa.
- Reverência! - Sussurra Anllye, entre dentes. Zac franze o cenho.
- Oh, não, não se preocupe! Vamos pular as formalidades! Estou muito grato pelo o que você fez, jovem Zartaxes!
- É mesmo? Então pode me agradecer com uma recompensa. - Zac cruzou os braços, com seu olhar esnobe e entediado. Daemint ficou surpreso, mas acenou em concordância. Jaennia colocou as mãos nos quadris e olhou curiosa, com uma expressão engraçada, de Zac para Anllye, de Anllye para Zac.
- Há! Gostei desse cara! - Exclamou Ghye, sacudindo a cabeça para o lado, tentando tirar a franja do olho.
- Ahem! Tudo bem, você definitivamente será recompensado! Diga o preço e eu...
- Eu quero que a princesa Anllye Gerurk saia comigo em uma aventura!
- O quê? De novo isso? Eu já disse que não quero!
Daemint, Jaennia e Ghye começaram a rir fortemente.
- Cara, que azar! Você escolheu logo a An, que tem preguiça até de puxar o cobertor para se cobrir! Tinha que ver o sacrifício que foi pra ela sair hoje! - Riu o príncipe Ghye.
- Cala a boca, Ghye! O que você está fazendo aqui? Você não devia estar chorando em algum lugar, ou algo do tipo? - Berrou Anllye, o rosto vermelho como um tomate. Ghye revirou os olhos.
- Eu vim ver se você estava viva mesmo, seria inadmissível que você morresse sem devolver meus bonequinhos raros de edição limitada! - O príncipe emo colocou as mãos nos quadris.
- Eu já falei que vou devolver depois! Eu só preciso saber onde os coloquei... - Anllye mordeu o lábio inferior.
- Você perdeu meus bonequinhos? - Berrou Ghye, incrédulo. O rei Daemint bateu as mãos alto.
- Já chega, vocês dois, comportem-se! São da realeza, ajam como tal! E você, Ghye, já tem quinhentos e vinte e sete anos, quase um adulto! Pare de discutir com a sua irmã por bobeira!
- Mas papai! - Reclamou o príncipe.
- Sem mais! Pode voltar para o seu quarto! - Vociferou o rei. Ghye saiu com raiva do quarto e o rei esfregou os olhos entre o indicador e o polegar.
- Desculpe por isso, jovem Zartaxes. Eu de bom grado deixaria minha filha sair numa aventura, mas se ela não quiser, não posso obrigá-la. Ainda mais depois de hoje... Mas ficarei feliz em te dar qualquer outra coisa que esteja ao meu alcance!
- Certo, então eu quero falar com o príncipe Crolse. - Zartaxes cruzou os braços e encarou o rei seriamente com seus olhos brilhantes. O rei franziu o cenho, suspeitando da má atitude do garoto.
- Certo. Mande chamar o príncipe herdeiro. - Daemint ordenou a um dos soldados na porta. O clima estava um pouco estranho.
- Papai, por que vocês não vieram mais cedo? - Perguntou Anllye, quebrando o gelo. O rei olhou para baixo.
- Nos viemos quando você chegou, fomos avisados imediatamente. O jovem Zartaxes foi enviado para o banho, não pudemos perguntar o que aconteceu. Só podíamos esperar você acordar para ter certeza de que estava bem.
- O doutor Horiluc nos disse que você teve uma exaustão mágica, porque usou mais magia do que seu corpo está acostumado! Se tivesse ficado na floresta por mais tempo sem ser tratada teria morrido! - Exclamou Jaennia, de repente lembrando-se dos fatos. - Isso foi muito irresponsável, Anllye, estávamos tão preocupados!
- Foi uma necessidade, eu não usei minha magia por nada!
- Mas ainda assim foi perigoso, florzinha. Deve ser mais cuidadosa. - O rei cruzou os braços, preocupado.
Enquanto a família conversava, Zartaxes olhava um gato na janela. Será que alguém vai notar se eu comê-lo mais tarde?
- E por que não vieram quando acordei?
- O médico nos disse que devíamos deixá-la comer e assimilar as coisas antes de vir. Foi uma surpresa ver que esse rapaz já estava aqui, até pensamos que ele tinha ido embora... - Explicou o rei, observando Zac, que procurava esperançosamente um pedaço de carne entre os ossos roídos.
- Não vou a lugar nenhum sem a Anllye ou sem falar com o Crolse. - Zac levantou-se entediado e foi até a janela, espreitando o pobre gato que dormia. - Ambos me devem algo, eu não vou sair de mãos vazias.
A família real franziu o cenho, encarando o jovem humano-dragão. Antes que o rei pudesse dizer algo, Anllye torna a falar.
- Ignorem ele, ele é esquisito assim mesmo. Bem, agora vou contar o que aconteceu.
***
- Foi quando eu passei pela caverna e ouvi um barulho esquisito...
- A magia dela fede a pólen, é nojento! - Zac interrompeu de novo para fazer outro comentário cruel. Anllye continuou ignorando o garoto de braços cruzados encostado na parede.
- E então encontrei o Zac acorrentado lá dentro e...
- Espere, acorrentado? Por quê? - Jaennia estava em choque.
- Por que ele é tão chato que a família quis se livrar dele! - Anllye Exclamou, risonha. Zac revirou os olhos e cutucou entre os dentes com a unha - ou seria garra? - do indicador, procurando por algum pedaço de carne.
- Então você entrou na caverna e o libertou? - Perguntou o rei das fadas. Anllye sacudiu a cabeça.
- Não, ele me estressou tanto que decidi ir embora. Ai ele soltou uma bola de fogo por causa da alergia...
- ANLLYE! Voce está bem? - Crolse entrou no quarto como um furacão. Estava um caco: seus cabelos dourados, geralmente perfeitos, estavam um completo caos, seu rosto um pouco inchado e amassado, seu semblante mais cansado que antes e parecia repleto de culpa. Ele correu até Anllye e a abraçou como se a irmã fosse um filhotinho que precisava ser protegido. - Eu... Perdoe-me, An, eu sinto muito mesmo...
- Ora, ora, príncipe herdeiro Crolse Gerurk! - Zac deu um sorriso arrogante e sarcástico, diferente de todos os outros, e inclinou-se para reverenciar o príncipe de forma debochada.
- Zartaxes Renéet? O quê... - Crolse estava boquiaberto, seus olhos verdes arregalados. Abraçou Anllye ainda mais forte, como que para afastá-la de Zartaxes.
- Temos algumas contas a acertar, não acha? - Rosnou o garoto dragão, soltando fumaça pelas narinas, seu olhar destilava ódio. - Acho que você me deve algumas explicações!
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O Curioso Relacionamento Entre A Princesa das Fadas e o Dragão Amaldiçoado #1
FantasiaLivro I Uma princesa fada adolescente preguiçosa está entediada com a vida pacata no palácio. Seu pai está cansado e seus irmãos ocupados. O que fazer agora? Tomar uma atitude? Procurar um novo hobby? Claro que não! Reclamar da vida com seu irmão ma...