É uma segunda-feira nublada, 5h da madrugada; sem sinal de sono. Passei a noite virado, a insônia me pegou despreparado. Nem adianta mais, já está na minha hora de levantar. Quem dera eu pudesse acabar logo com isso tudo sem precisar passar por cada processo. Queria apenas sumir por alguns segundos, minutos, dias, anos... Talvez uma eternidade.
Pois bem, não tem jeito, é hora de levantar. Parece que, a cada dia que passa, levanto-me mais cansado; a cada amanhecer pergunto-me até quando verei a luz do dia.
Terminando minha higiene matinal e minha inútil tentativa de preparação para mais um dia, decidi encarar a realidade.- Filho, desce logo para não se atrasar! - exclamou minha mãe, com uma voz bem potente e faltando pouco para as 6h da manhã.
- Já estou indo, mãe. - respondi, enquanto soltava a alça da minha mochila que estava presa na maçaneta da porta do meu quarto. Talvez eu seja uma pessoa atrapalhada, mas só às vezes. - Bom dia, Arroz; bom dia, Feijão! - cumprimentei os cachorrinhos da minha família.
Engraçado - e clichê - a origem dos nomes dos nossos mascotes. Pode ser coisa do destino ou não, mas após uma briga intensa entre meus pais, eles decidiram tomar uma decisão meio drástica: meu pai saiu de casa e foi morar em uma pensão por pouco menos que 5 noites. Minha mãe continuou em casa, comigo, sem nem se quer deixar eu falar o nome do meu pai. E, para implicar com ela, eu cantava a música "Não falamos do Bruno". Essa música servia como uma luva, afinal, o nome do meu pai é Bruno. No primeiro sábado separados, eles foram dar um passeio em locais diferentes. Aos pés do meu pai, chegou uma cadelinha que, na teoria, era "branca como a neve", parecendo uma ovelha felpuda. Na realidade, ela estava maltratada e toda suja. Meu pai se compadeceu e decidiu resgatá-la. Depois de cuidá-la, meu pai decidiu chamá-la de Arroz. Já minha mãe, encontrou um pinscher tão tranquilo que mal pôde acreditar. Acho que o mais interessante da história foi isso: um pinscher calmo, pequeno e tinha um formato de um feijão. Essa foi a inspiração para minha mãe escolher seu nome: Feijão. É aí que entra a parte do destino: é coincidência meus pais adotarem Arroz e Feijão no mesmo dia, sem se falar e sem ser combinado? Deixo que tire suas próprias conclusões.
Só sei que, no fim das contas, meus pais associaram essa história toda numa metáfora para a vida deles: Meu pai voltou para casa dizendo que minha mãe era "o feijão que faltava no arroz dele" - isso pois minha mãe, que não é nada discreta, postou sobre o feijão no Facebook. Eles ainda seguiam a rede social um do outro, então meu pai viu a publicação e recebeu como um sinal. E, que bom, pois hoje completam 6 meses de reconciliação. - e, minha mãe fez a mesma coisa, dizendo que ele "é o arroz que faltava no feijão dela". Foi praticamente uma renovação de votos misturada com reconciliação. Se eu não presenciasse isso tudo, também não iria acreditar se me contassem.
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Por Trás do Muro
RomansTentando sobreviver ao último ano do ensino médio, um estudante tímido e introvertido aprende a lidar com novos sentimentos e desafios da vida adulta batendo em sua porta. Quando a vontade de desistir é grande, o que pode ajudar uma pessoa a seguir...