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E eu estou de joelhos
Implorando por favor, baby
Mostre-me o seu mundo

Passaram-se dois dias e a maldita lista ainda surtia efeito. Clyde piscando para as garotas, Butters ainda sem acreditar estar em décimo primeiro — ele era grato apenas por não ser o último. Cartman ainda enchendo seu saco com piadas irônicas e estúpidas. Stan ainda sendo evitado. Wendy ainda existindo. Kyle ainda sufocando com tudo isso.

Ele voltou pra casa mais cedo naquele dia. Não queria mais se importar. Não queria voltar pra escola, nem olhar para nenhum deles nas aulas extras. Ele evitou ter uma conversa com seus pais logo no primeiro dia que a lista foi feita, no segundo eles já não estavam esperando que Kyle dissesse alguma coisa. No terceiro Kyle já tinha resolvido fazer algo a respeito. Então, ele se encarou no espelho do banheiro e tentou achar os seus defeitos. Estava pelado. Queria se olhar sem nada e dizer: esse sou eu. E então analisar a si mesmo.

Não foi uma ideia tão boa quanto se imagina.

Minutos depois, sem arrependimentos, estava usando pela primeira vez a máquina de cortar cabelo de seu pai. Desde que a passou a primeira vez no topo da cabeça as outras se tornaram automáticas. Seu cabelo ruivo agora pertencia a pia. Ele passou a mão na cabeça sentindo uma grande diferença pela ausência de volume. Mas não mudou nada. Não até ele chorar, se amargurar e finalmente tomar um banho.

Sua mãe não lembrava da última vez que o viu tão desanimado enquanto comia.

— Qual o problema Kyle? — Ela pergunta. Ele continuou mexendo na comida como se brincasse com ela. — Kyle.

Ele expirou, ainda irritado e tirou seu chapéu deixando que ela visse a obra que havia feito com seu lindo – não mais existente – cabelo crespo. Imediatamente, ela arregalou os olhos, e Kyle esperou a ira vir à tona.

— Por que fez isso? Por que cortou seu cabelo?

Kyle deu de ombros. Ela suspirou. Era uma tentativa de se manter calma, e então acrescentou:

— Se queria cortá-lo devia ter me dito para levá-lo ao barbeiro. Não se corta cabelo em casa.

— Eu não queria cortar. — Diz Kyle. — Eu só queria que ele sumisse.

— O quê? Por que isso?

Ele suspirou. Ela esperava uma resposta antes de ter qualquer reação.

— Mãe eu sei que não sou o cara mais lindo da cidade, mas eu não achava que era o mais feio.

— Você não é feio Kyle. Você é o meu homenzinho perfeito.

— Na escola as garotas fizeram uma lista com os garotos mais bonitos da sala. Eu fiquei em último. Então não faz diferença.

— Elas fizeram o quê? Que absurdo. Como o colégio permite algo assim?

— Não tem a ver com o colégio mãe.

— Certo. — Ela se contém. Uma pausa longa. Kyle ficava mais deprimido. — Querido, não importa porquê elas fizeram isso, elas estão erradas. Meninas dessa idade são imaturas e fazem bobagens o tempo inteiro, e sempre tem um motivo. Não acho que planejavam magoa-lo. E como eu disse, elas estão erradas. Você é lindo. Não digo isso porquê sou sua mãe, digo isso porquê é verdade. E o seu cabelo também é lindo. Não tinha porquê descontar nele.

— Não tem que dizer isso.

— Tenho sim. Deveria ter dito antes que fizesse uma besteira. Mas tudo bem, eu também já fiz algo parecido na sua idade.

DearOnde histórias criam vida. Descubra agora