My Medicine

Capítulo 3

Heechul soltou um longo suspiro cansado sentado de frente para as crianças brincando a sua frente. A dias que ele evitava fazer qualquer tipo de coisa que chamasse muita atenção de qualquer pessoa e por dentro ele sentia que estava morrendo, ou melhor, ele preferia ter morrido do que ter passado por aquilo. Siwon não podia ter feito aquilo com ele, se quisesse podia o processar, o espancar, fazer qualquer coisa para o deixar na merda, menos aquilo. Heechul nunca sentira seu corpo tão fraco quanto agora, era como se ele estivesse com medo de ser tocado por qualquer pessoa mesmo que fosse um simples cumprimento.

Naquela manhã a diretora tocou em seu ombro e ele estremeceu como estivesse sendo espancado. Seu mundo havia desmoronado, e mesmo sem um motivo aparente ele só queria sumir daquele apartamento. Se mudar, fazer qualquer coisa para ficar o mais longe possível de Siwon, mas toda a sua procura sempre terminava em achar lugares pelos quais ele não podia pagar com seu salário.

As crianças já tinham ido embora quando ele se deu conta do que estava fazendo. Algumas estavam ainda se despedindo das funcionarias da creche no portão e indo embora com suas mães, mas uma criança havia ficado para trás. Ele levantou de onde estava sentado e chegou mais perto, não tanto, mas perto o suficiente para o garoto se encolher e abraçar suas pernas.

- Tae Joon... Por que ainda está aqui? – ele perguntou com a voz amável, mas o garoto não respondeu, e aquela não era a primeira vez que ele fazia uma pergunta aquela criança sem obter resposta. O menino tinha três anos e mesmo assim não pronunciava nada na presença de ninguém dali, parecia mais que era mudo. – Onde está sua omma? Ela está trabalhando? – ele nem se quer se mexeu. Era como Heechul nem estivesse ali.

- Heechul-ssi. – uma assistente da creche o chamou. – Aconteceu uma coisa... Vamos falar em particular.

Os dois foram para um canto mais afastado no cômodo deixando o garoto quieto no canto que estava. A mulher parecia tão nervosa que não parava de mexer no avental que usava. Aquilo deixava Heechul muito irritado, por que além de não saber o que estava acontecendo parecia que uma bomba iria cair sob seus ombros a qualquer momento.

- O pai do Tae Joon... Foi assassinado. – ela falou depois de alguns segundos de silencio. – E a mãe dele... Bem, ninguém a encontra. Não sabem se ela fugiu ou morreu. – Heechul se espantou com o que acabava de ouvir. – O que fazemos Heechul-ssi? Não podemos deixa-lo aqui, está na hora de fechar. Só ficamos nós dois, todos os outros já foram embora, devemos leva-lo para a policia?

- Não! Ficou louca? Ele tem só três anos, não quero traumatizar a criança levando para uma lugar daqueles. – ele brigou olhando mais uma vez para o garoto assustado num canto da sala. – Eu vou leva-lo comigo, amanhã decido o que fazer, mas não vou deixa-lo sozinho numa delegacia.

- Mas Heechul-ssi... – ele a interrompeu.

- Eu já decidi. Onde estão as coisas dele? – ela apontou para o móvel colorido perto da porta e ele caminhou até lá. – Tae Joon, você vai embora com o hyung hoje, está bem? – o menino olhou para ele e se levantou timidamente.

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Heechul segurava na mão do garoto enquanto andava pelas ruas de Seoul pensando numa solução para aquilo. Claro que o garoto dormir no seu apartamento não era problema algum... Por uma noite, mas mais do que isso não daria certo. Primeiro por que Heechul recebia um salário que só dava para ele e as vezes ele conseguia ficar apertado com dividas mesmo assim. Segundo por que seu apartamento era pequeno, jamais seria um ambiente para uma criança. E terceiro por que, trabalhar na creche era uma coisa, ele só precisava dar atenção e brincar com as crianças, de vez em quando cuidar de alguma quando a mesma se machucava e ajuda-las nas horas das refeições, todo o resto quem fazia era as assistentes de sala, agora cuidar de uma criança na pratica, ele não tinha a menor experiência nisso, ou ao menos achava que era assim.

Passou por uma loja de brinquedos e viu Tae Joon soltar sua mão e correr até a vitrine hipnotizado por um brinquedo que estava exposto ali. Ele não teve coragem de puxar o garoto para longe, se o menino ao menos sonhasse com o que havia acontecido seria ruim o suficiente, era melhor deixar ele quieto um pouco.

- Quer entrar um pouco, Tae Joon? – ele perguntou vendo o garoto assentir com a cabeça em seguida. – Só um pouco está bem? Vai começar a chover, temos que ir pra casa.

O menino entrou disparado dentro da loja para o desespero de Heechul que logo o perdeu de vista. Por que tinham tantas crianças lá dentro? Estava tendo uma promoção ou algo do tipo? Onde estavam os pais daquelas crianças barulhentas?

Andou alguns passos olhando para os lados e acabou esbarrando em alguém. Mas poxa vida, tinha logo que esbarrar no Siwon? Não, pera... ERA O SIWON! Heechul entrou em desespero quando viu que era ele mesmo, onde ele enfiava a cabeça? Havia dias que ele não o via e mesmo assim queria continuar sem o ver. Por que tinha que o encontrar justo ali? Ah... Claro. Siwon tinha uma companhia de brinquedos, claro que era normal vê-lo em uma loja de brinquedos, qual a novidade?

- Desculpe... Não tinha o visto. – ele falou como se os dois nem se conhecessem, mas não era verdade? Os dois mal se conheciam, não havia nada demais naquilo.

- Como se já não bastasse me vigiar dentro de casa agora você me persegue na rua também? Está querendo se processado por assédio? Pensei que a lição que eu te dei tivesse sido o suficiente para você. – ele deu bastante ênfase na "lição" e estava bem cheio de si para quem havia cometido um crime.

- Ah é? – Heechul estava bestificado com o que estava ouvindo. – Me processa então e vamos ver quem vai pra cadeia primeiro. Eu que estou te assediando ou você que me estuprou. – não falou em um tom alto para que todos ouvissem, mas mesmo assim Siwon voou quase em cima dele com medo que alguém ouvisse a conversa, por sorte o lugar estava barulhento demais para aquilo.

- Só é estupro quando você não quer. – Siwon falou entre dentes, estava prestes a envolver carinhosamente o pescoço de Heechul com suas mãos, só que não carinhosamente.

- Eu não lembro de querer que você invadisse meu apartamento e me forçasse a fazer o que você queria. – ele fez uma pausa usando de toda sua ironia com um olhar para cima de Siwon. – É. Eu não me lembro mesmo.

Siwon estava pronto para revidar com mais palavras grosseiras, mas não teve tempo, sentiu uma coisa gosmenta vinda contra sua calça. Como se alguém tivesse acabado de derrubar algum liquido em cima dele, ou gosma. Ele se virou para olhar o que era e viu um menino com a mão em cima da sua calça. Um garoto que havia acabado de derrubar uma geleca verde em sua calça, ou melhor, não era um menino qualquer. Era Tae Joon.