O Gato

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Tem um gato que quase toda noite aparece perto da minha casa, ele mia e corre por entre os telhados. Eu já o vi andando por aí algumas vezes, seus olhos são azuis e seu pelo é branco, longo e macio, parece mais um bicho de pelúcia do que um animal de verdade.
Até onde sei ele não tem dono, mas a vizinhança acabou acolhendo-o já que o bichano ajuda a afastar os passarinhos mais enxeridos.
Eu ouvi uns miados ontem à noite, miados inconfundíveis, com certeza era o gato, mas ele não estava sozinho, tinha outro felino ali também e eles embarcaram em uma serenata noturna que durou uns bons dez minutos.
Quando eu estava quase pegando no sono escutei outra coisa, algo no telhado bem a cima de mim, se movendo por entre as telhas, se contorcendo, arranhando, rastejando. Aquilo foi em direção ao quintal, atrás dos gatos. Escutei claramente quando deu o bote, os bichinhos gritaram e um deles fugiu, mas o outro não teve tanta sorte.
Foi horrível ouvir os urros do pequeno animalzinho sendo atacado por aquela coisa. Eu queria olhar, mas os ruídos eram tão terríveis que meu corpo simplesmente não se movia, eles pareciam estar tão perto que se eu me virasse os veria bem na minha frente.
Tudo piorou quando o gato foi arremessado contra a parede, de novo e de novo, até que seus ossos estalaram e ele parou de gritar.

Então tudo ficou em silêncio.

Comecei a processar o que tinha acontecido, mas meu breve momento de tranquilidade foi interrompido por sons ainda mais grotescos. O ruído de algo sendo mastigado ferozmente e o som de membros sendo arrancados da mesma forma que se torce e desprega a perna de um frango assado.
Essa sinfonia infernal se seguiu por alguns minutos, tão lentos e agonizantes que pareceram ser horas. Por fim, ouvi a coisa se arrastando outra vez, para longe, até o barulho desaparecer noite a dentro.

Eu não consegui dormir depois disso.

Hoje de manhã, quando sai para jogar o lixo, me deparei com uma enorme quantidade de moscas rondando alguma coisa na grama, do outro lado da rua. Estava bem difícil de distinguir o que era, então me aproximei para ver melhor. Parecia ser um brinquedo de pelúcia velho ou os restos de um.
A coisa estava um tanto ensanguentada, como se fosse um pano de chão que fora jogado sobre uma poça de vinho. Ao olhar com mais atenção vi que não era um simples pano de chão, ele era diferente, ele tinha pelos, pelos brancos, longos e macios.


RELATOS ESTRANHOS E BECOS SOMBRIOSOnde histórias criam vida. Descubra agora