Capítulo Um

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Antes - 48 horas.

Seus saltos pretos tênue cerravam contra o assoalho de madeira maciça enquanto caminhava em passos robustos. O ruído estável de seus sapatos contra o piso era nítido. Assim como a pressa inundava cada parte de seu corpo, o suor escorria em sua testa. Ela poderia deixar-se levar pela pressão ou acabar com aquilo de uma vez por todas. Tudo que mais queria naquele momento era saber como prosseguir naquele mistério.
Um ar carregado por mal energia passou em suas narinas. Ela inspirou profundamente, em seguida enrugou a testa. Aquele odor forte de queimadura não fazia algum sentido. O vento atravessou as janelas entreabertas e Roseli abraçou a si mesma tentando conter o frio. Que era muito estável em sua pele, coberta apenas por finas camadas de roupa. Uma blusa de linho cor de sangue rasgada nas costas, um shorts de tela com tecido afilado bege. Seus cabelos negros prateados com um corte pouco a baixo de seus ombros balançavam vagamente ondulados.
Continuou percorrendo pelos corredores imundos e com um fedor insuportável a medida em que Doralice a acompanhava passos atrás. A garota ruiva de olhos claros olhava para a unha defeituosa, enquanto reclamava de coisas que, para Roseli, não eram nada relevantes. Ignorando-a na medida do possível, a morena não parou de rondar até finalmente chegar ao quarto desejado.
Pousou a mão vagarosamente sobre a maçaneta desgasta, enquanto seus olhos se perderam em Doralice. A qual esticou-se sobre a parede ao que seu medo punha-se em primeiro plano. Roseli não permitiu que aquilo a abalasse de maneira alguma. Após alguns segundos, a garota magra e pálida assentiu para Roseli, observando-a atentamente abrir a porta. Respirando fundo a morena empurrou a porta antiga. Abriu em um estrondo, mesmo que sua força para fazer tal ato fosse mínima.
Lice apareceu em seu lado e vasculhou pelo canto dos olhos o quarto em sua frente. Roseli fez o mesmo ato que a garota, porém foi adentrando naquele espaço, sendo visível que não havia ninguém.
- Mas que merda! - disse Roseli irritada. Chutou alguns pedaços de folhas espalhadas pelo chão e bufou alto descontando sua raiva. A ponto de instigar que falhara novamente, observou cacos de vidro fazendo trilha para um canto da sala. Curvou-se um pouco para ter acesso ao lado mais escuro, enquanto Doralice observava o mundo janela a fora. Estava preocupada.
Roseli não desistiu. Puxou uma grande quantidade de ar e caminhou sobre a trilha proposta. Posicionados pela largura da sala e em uma parede encardida, seus olhos avistaram alguns homens. Presos à cordas nos braços e pernas. Um capuz se propagava em suas cabeças e seus corpos eram sustentados por colunas de pedra. Roseli chamou Doralice em um sussurro para que ela visse aquilo. E em menos de um minuto a garota estava ao seu lado de boca aberta. Aquela cena só poderia significar uma coisa.

- Eu disse que não sairiam daqui sem fazer nada. Não acho bom prosseguirmos nisso, Roseli. - Lice alertou-a, aproximando-se dos cadáveres. - Podem estar em qualquer lugar agora - a ruiva soltou um pouco de ar com a afirmação. Aquilo causara arrepios em seus braços. - Será... Que... - Doralice foi interrompida por um barulho elevado próxima a elas.
As duas se entreolharam. Roseli buscou a mão da amiga para que se escondessem atrás de uma pilastra mais ao fundo. Um grande vazo de flores gardênias brancas apodrecia por entre a coluna. Era o único lugar para se esconderem.
Lice pousou a mão no peito tentando conter-se em não gritar. E sua amiga percebeu aquilo. Tanto que pousou a mão na boca da ruiva enquanto arrastavam-se lentamente para o fundo da sala. Ruídos estranhos propagavam a frente. E o desespero se tornava mais presente em suas almas. Estavam quase alcançando seu objetivo do princípio, quando assustaram-se pelo fato de que um grande homem musculoso velho e barbudo, com tatuagens sem nexos espalhadas pelo corpo expôs quatro mulheres ao chão bem em suas vistas, os olhos esbugalhados, sangue vívido escorrendo em seus rostos. Uma expressão aterrorizada, como se nunca tiveram a chance de lutar para viver.
- Temos que sair daqui. - Doralice pronunciou baixinho ao pé do ouvido.
- Espere. - foi o único mandato de Roseli.
Porém, esperar nunca esteve em primeira colocação para Lice. Ela detestava o fato de que Roseli era mais esperta. Então, sem algum plano coerente a mesma esquivou-se sobre o chão para o canto do quarto. Suas mãos percorriam um caminho silencioso enquanto Roseli a encarava. Pasma.
- Volte aqui! - a morena advertiu, querendo que a amiga escutasse. Mas ela sabia que aquilo era uma simples ilusão. Doralice estava longe demais, e por incrível que pareça, sua miserável ideia estava dando certo.
A ruiva parou por um segundo, já que seus braços cansados tinham cada vez mais dificuldade para esquivar-se. Doralice mordeu o lábio inferior quando observou grandes olhos esbugalhados e pretos cravados em sua feição assustada.
O velho suspirou e com passos fortes caminhou até ela. Sorrateiramente, Roseli escondeu-se mais ao fundo. O medo percorria em sua veia e a cada momento sua respiração falhava.
Lice soltou um breve gemido assim que seus braços vacilaram e sua cabeça bateu contra o chão. Instantes depois, seu corpo estava pendurado nos ombros largos do homem desconhecido enquanto ele caminhava até a outra ponta do quarto. Seus braços estavam soltos e movendo-se com o vento que ocupava o ambiente. Sangue escorria por seus cabelos.
Roseli engoliu a seco quando percebera o estado da amiga. Ela tinha medo só de pensar o que viria a seguir. Sabia claramente... Teria que reagir o mais rápido possível.

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