Capítulo Dois

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Antes - 30 horas

- Não há explicações, Roseli. - Heron respondeu firme. Seus punhos bateram-se contra a mesa em sua frente assustando a garota que o olhava. - Você se pôs em perigo. E olha o que aconteceu! - berrou.
- Não era minha intenção... Eu juro senhor. - Roseli respondeu pousando as mãos sobre a barriga que estava doendo em ardência.
- Infiltrar-se em uma máfia poderosamente cheia de criminosos letais é pedir para morrer querida. - ele disse calmamente. Observando-a encolher-se no assento. - Eu sei que não teve a intenção... Sei que... Doralice era sua única amiga. - respondeu sentando-se em sua cadeira giratória. Ele percebeu quando algumas lágrimas deixaram o rosto da moça ainda mais molhado. Ele abaixou a cabeça um pouco comovido. - Entenda Roseli. Você já aprontou demais aqui. E nunca é sua intenção! Já não acha que está na hora de parar com essa besteira, de querer ser da área para a qual não foi treinada?
Roseli não respondeu. Ao invés, ela o encarou e deu um sorriso sínico.
- Eu só queria ajudar, Senhor Heron. - disse. - Mas pelo jeito a minha ajuda não é bem-vinda. Voltarei para os meus postos na SoulsClub.
- Você é ótima no que faz - Heron afirmou. - Tem ótimos clientes, Roseli. Não precisa arranjar encrenca. Agora antes de ir para o seu quarto, passe na Doutora Marthy. Ela irá cuidar de você.
- Sim, senhor - Rose assentiu. Abraçou a si mesma e parou na frente de seu chefe. Seus olhos o encararam por um momento vago. - Muito obrigado. Não sei o que seria de mim se não tivesse...
- Não há de que. - ele respondeu adiantado. Ela assentiu caminhando até a porta rapidamente. - Hoje mesmo irei mandar uma nova parceira para você, já que a sua antiga não servirá mais. - disse Heron por fim.
Roseli foi acompanhada por Albert, o segurança da boate, até uma suposta enfermaria que havia lá. Marthy cuidou de seus ferimentos mais profundos e em seguida deu-lhe um remédio que faria passar um pouco da dor.
Albert levou-a até seu quarto logo em seguida.
A morena sentiu o alívio em seu corpo crescer ao abrir a porta e reparar que suas colegas de quarto estavam em hora de trabalho.
Depois do dia longo, tendo ainda que acordar cedo amanhã, não aguentaria a ira de Jeane e Marlise. Gêmeas insuportáveis que a despreza de todas as formas possíveis. Consideradas as melhores da instituição. Como as rainhas da perfeição e da sabedoria, sendo que não passavam de simples putas baratas.
Roseli não aguentava mais ter que olhar para a cara delas todos os dias, sendo que as mesmas a odeiam. Sempre se gabam dos clientes superiores que tiveram e da grana que ganharam no dia, já que, como Roseli é muito nova, não tem direito de ter.
Após uma ducha rápida no chuveiro gasto que tem no banheiro minúsculo, Roseli pegou seu lençol e deitou-se no seu canto. Bom, como era de se esperar, ela ficou com o pior já que suas 'amiguinhas' eram superiores a ela.
Isso não a deixa tão irritada. Só apenas o fato de não ter direito de se expressar. Ela só fica na esquina o dia inteiro sendo bajulada por caras bêbados e drogados. Ou às vezes fica na boate dançando sensualmente para cada homem necessitado que passe por ali.
O negócio engraçado é que Roseli não é uma puta comum. Pois ela nunca transa com os caras. Apenas faz jogo de sedução com os mesmos. Sendo proibido tocá-la. Por incrível que pareça ela havia transado com apenas um homem em toda sua vida. E nem fora grande coisa já que a mesma havia sido obrigada. A palavra estrupo, para Roseli, era algo muito forte e horrível para se pensar, mesmo sendo a verdade, a morena deixava em mente que havia apenas feito coisas sem o seu consentimento. Mas ninguém se engana em saber que ela ainda teme por isso acontecer de novo. Nunca pode saber com que tipo de homem na noite Roseli irá se envolver. E é por tudo isso e mais um pouco que Roseli não pode ganhar um salário.
Há uma semana tinha conversado com Vicentin, um dos donos da grande empresa. E lhe dito: ''Quero começar a ter um trabalho mais duro aqui para que eu possa ganhar dinheiro. Pretendo me retirar desse inferno''.
Pode parecer loucura dizer aquilo ao seu chefe. Mas não a Vicentin. Um homem sábio, correto em seus atos, e que gosta muito de Roseli, já que foi ele quem a recolheu da rua. E vamos dizer que ele se sente como um 'pai' para a menina. Então ele é de total apoio a garota e quer, de toda maneira, ajudá-la.
Roseli dormiu depois de uns minutos pensando se ele aceitaria o que ela havia lhe dito. Mas suas esperanças estavam caindo, já que há mais de sete dias nada havia sido falado por ele sobre aquilo. E depois desse escândalo todo, Heron falaria coisas absurdas dela para ele.

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