O lugar é surpreendentemente tranquilo, me sinto bem aqui e sei que o Lucas também. Estávamos sentados no centro do pentagrama, com as mãos cruzadas, e uma das senhoras recitava algum tipo de feitiço e segurava um objeto estranho. Ela encerra a cerimônia e garante que tudo ficará bem e pede para voltarmos no mesmo dia do mês que vem, mas no fundo não acredito que acabou, ainda tenho uma pontinha de desconfiança.
...
Alguns dias depois liguei para a Paula para explicar o ocorrido e pedir para ela voltar em casa e conversar, tomei um banho demorado e relaxante e fui para a sala assistir alguma coisa enquanto espero por ela, Lucas está em seu quarto descansando, tudo estava calmo, mas ainda sentia aquele fundo de desconfiança, mas ignoro esse sentimento pensando ser por conta dos recentes acontecimentos. Quando ela chega conversamos um pouco e assistimos alguns episódios de série, apagamos ali no sofá mesmo.
Por volta da meia-noite acordo com sons de gritos vindos do banheiro e ao correr para lá vejo pior cena da minha vida, Lucas estava esfaqueando Paula diversas vezes, corro para cima dele, mas ele me empurra para longe e corre para a rua. Vou em direção a ela, mas era tarde, pois já não respirava mais. Abraço o corpo sem vida de minha melhor amiga e choro, não consigo acreditar como ele pôde fazer isso, nós realizamos o ritual, fizemos tudo o que elas falaram, por que não deu certo? Ainda abraçada com ela me lembro das palavras da minha Mãe, ele havia matado uma vez e agora não vai parar, preciso dar um jeito de impedi-lo. Ligo para a polícia, pego uma faca na cozinha e vou atrás de Lucas, sei onde encontrá-lo, ele não pode fugir de mim, sempre sei onde ele está.
Corro pela cidade olhando cada beco que encontro pelo caminho até que chego em um, na lateral de um bar, onde vejo meu irmão atacando duas pessoas inocentes sem receio algum.
— Lucas! — ele se vira para mim, seja o que for aquilo na minha frente, não era mais meu irmão.
— Você não pode me segurar, não pode me impedir, nada pode! Sou a coisa mais forte do mundo agora, nenhuma grade pode me segurar, nenhuma bala pode me parar.
Ouço sirenes ao fundo, alguém do bar deve ter ligado para à polícia.
— Fomos até a casa, realizamos o ritual, o que deu errado?
— Você. Sua mãe estava errada. Não era o laço de sangue que me impedia de tomar conta dele, não era o amor que ela ou você sentia. Ela foi iniciada e tinha uma força maior que a minha, mas você não, seu pai nunca deixou ela te iniciar, nunca permitiu que fizesse parte desse mundo, grande erro, você não tem o que é necessário para me segurar, ninguém tem!
A polícia chega e ordena que ele se renda, dois policias avançam para segura-lo, mas ele não recua e parte para cima deles, por mais que atirassem não conseguiram para-lo. Estava paralisada vendo aquela cena quando lembro da faca em minha mão e ali percebo o único jeito de tudo acabar. Ando em sua direção, estou certa de que esse é o único jeito, somente eu posso fazer isso. Seguro firme a faca e a passo em meu pescoço, sinto meu sangue jorrando e minha vista escurecendo e, em meu último suspiro, olho para ele e vejo meu irmão morrendo comigo.
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Era uma vez de verdade
Short StoryCom toda a imaginação e fantasia de um faz de conta, porém com um toque da nossa realidade. Era uma vez de verdade traz uma coletânea de relatos sobre tudo e mais um pouco. Espere por contos longos e curtos, assustadores e apaixonantes, mitologias...