Chamado II

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Alguns dias se passaram desde que vi aquela mensagem no meu espelho. Por mais que tenha tentado me convencer de que foi só coisa da minha cabeça, não consigo esquecer isso, algo em mim diz que não foi coincidência e, pior do que isso, me diz que Carl não esteja descansando tão em paz quanto imagino.

Cansado de ficar com isso martelando na minha cabeça, pesquiso na internet algo parecido, seja um relato de alguém que passou pelo mesmo, ou algum artigo científico que possa me explicar o ocorrido. Digito várias vezes e de formas diferentes para que algo relevante apareça e finalmente um título me chama atenção. É um texto falando sobre o Tabuleiro Ouija, contando como ele é usado a anos para a comunicação com os mortos e o mundo espiritual. Será isso? Carl queria que falasse com ele, estaria passando por algo ruim e queria minha ajuda? Pesquiso mais um pouco até encontrar onde conseguir esse tabuleiro. Se meu melhor amigo precisa de mim, não vou deixar ele esperando, não importa onde ele esteja.


Demorei um pouco, mas finalmente encontrei esse tabuleiro. Pesquisei muito sobre ele, e, dentre tantas outras, aprendi 3 regas principais para se jogar. Não posso falar o nome de Deus (isso me deu um pouco de medo), não perguntar como o espírito morreu e jamais sair do jogo sem dizer adeus. Basicamente estou mexendo com algo perigoso e desconhecido, mas não posso focar nisso, preciso ajudar meu amigo.

Coloco sobre a mesa da sala, apago as luzes e acendo duas velas, uma de cada lado do tabuleiro. Chamo por alguém que queira falar comigo, porém nada acontece, tento mais uma vez e novamente nada acontece. Insisto por alguns minutos, mas parece que isso foi uma total perda de tempo. Em uma última tentativa, pergunto ser Carl está aqui, na esperança que ele me responda, e quase caio para trás quando vejo o ponteiro se mexendo para o "SIM". Meus olhos enchem de lágrimas, não acredito que ele está aqui. Para confirmar, faço uma pergunta mais pessoal nossa, e me surpreendo quando ele acerta, é ele, meu amigo está aqui, ele voltou para mim.

- Carl, me desculpa. Devia ter escutado você, não devia estar correndo tanto, você tinha razão. Por favor, me desculpa. - digo baixo, chorando em frente a mesa. O ponteiro avança pelas letras, de uma forma demorada e, pouco a pouco, forma uma frase:

"Eu te perdoo, mas você precisa me ajudar. Este lugar é horrível, sombrio e triste, sinto muita falta de casa. Me deixe voltar, me permita entrar em casa, me deixe viver com você novamente".

Hesito, é algo estranho de se pedir. Minha cabeça está a mil, meu coração acelerado, tenho medo disso, medo das consequências, mas, acima de tudo, sinto muita falta dele, não aguento essa solidão, essa saudade que arde no meu peito. Mesmo com tudo em mim dizendo não, permito que ele fique.

- Sim - respiro fundo - pode morar aqui.

Assim que termino de falar, algo faz barulho na parte de cima da casa, corro para lá e o som ecoa novamente vindo do antigo quarto de Carl. Adentro o quarto rapidamente e o vejo em pé, ao lado de sua cama, com uma aparência tranquila, ele sorri para mim e desaparece, contudo, mesmo que não o veja, sinto sua presença e me sinto aliviado, não ficarei mais sozinho. Volto para a sala, apago as velas e guardo o tabuleiro no armário, subo para tomar um banho e vou me deitar. Sei que deveria estar com medo, afinal tem um espírito andando livre pela minha casa, mas não consigo sentir isso, é meu amigo, nunca faria nada comigo, apenas queria descansar em sua casa.

Os próximos dias passam de maneira tranquila, tendo algumas aparições rápidas dele. Uma vez no sofá, outra na cozinha, podia o ver subindo as escadas ocasionalmente, nunca ficava muito tempo, tento falar com ele, porém sem resposta, imagino que não possa me responder, mas já é um alívio ouvir seu som pela casa e saber que, mesmo de uma forma totalmente estranha, ele está aqui comigo.

Enquanto estava arrumando meu quarto, olho de relance para o espelho e, através do reflexo, vejo algo me espiando, mas não era Carl, era algo mais sombrio. Me viro com o susto, e vou até lá, mas o corredor está vazio. Os próximos dias seguem assim, vez ou outra sinto a presença de Carl, mas há momentos em que sinto algo diferente, uma presença ruim, uma energia pesada e que me dava calafrios. Até que um dia, quando estava me preparando para dormir, ouço algo quebrando no banheiro e vou olhar, quando chego me deparo com pedaços do espelho e do box pelo chão, assustado apenas fecho a porta e corro de volta para meu quarto, tranco a porta e me jogo na cama, amanhã dou um jeito lá. Carl não faria isso, sei que não. Subitamente minha porta e aberta, e sou arrancado da cama, aquele ser sombria estava me arrasta até a escada e me joga de lá, sinto uma dor horrível na minha perna, ainda não estava recuperado do acidente de carro. Me levanto o mais rápido que posso e vou em direção a porta, preciso sair daqui. Mas ela não abre, e aquilo aparece novamente na minha frente e bate minha cabeça contra a parede, me fazendo apagar instantaneamente.

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Era uma vez de verdadeOnde histórias criam vida. Descubra agora