Uma decisão

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Sarada On

Mina surge na porta do quarto com o meu almoço numa bandeja e nos encara espantada. Apesar de eu ainda estar viva, o clima do ambiente é de enterro. O rosto de Harumi está tão inchado e vermelho que arrisco dizer que um tomate ficaria com inveja dela. Ela funga o nariz a cada dez segundos e já me deu uns três abraços.

Não posso negar que minha neta é uma pessoa extremamente afetuosa e preocupada comigo.  Já Saruto permanece estático, de cabeça baixa sem coragem de me encarar nos olhos, por algum motivo o menino parece sentir-se culpado.

"Tá vendo o que o você aprontou Boruto! Até depois de morto você me dá trabalho Loirinho...Sua sorte é que eu te amo incondicionalmente...e ouvir a sua voz só fez aumentar ainda mais mais a saudades que sinto de você"

Ainda não consegui me decidir se dou risada da reação dos dois jovens ou se continuo fingindo que estou profundamente chocada com o que ouvimos nos primeiros áudios de Boruto.

Não sei se demonstrar alegria seja uma boa, acho que se fizer isso capaz de me colocarem numa camisa de força. Melhor eu continuar parada aqui feito uma múmia na cama para convence-los a me deixar escutar a próxima gravação de Boruto, assim que minha filha deixar o quarto, é claro.

Sendo bem sincera eu pouco me importei com o que foi dito pelo loiro  no começo dos audios. Só a emoção de ouvi-lo novamente, a sua risada, os seus trejeitos de falar, já valeu a pena pra mim. Por mais que tivemos os nossos desencontros, Boruto sempre viveu ao meu lado, e tem sido muito difícil depois que ele partiu me deixando pra trás.

Se eu pudesse ficaria o dia todo escutando essas tais gravações que Saruto tem de carrapato contando a nossa história, mesmo ciente que ele narraria a nossa pior fase juntos.

— O que é que está acontecendo aqui? Porque você está chorando Harumi??? Qual de vocês três vai se dignar a me explicar?? Mama isso foi ideia da senhora? O que você contou para os meninos??

"Pronto! Sobrou pra mim. Porque a culpa nunca é sua Loirinho? Como se você fosse santo né??"

Mina abandona a bandeja com o que parece ser a minha sopa em cima da mesinha e se senta junto a mim na cama. Por um lado eu agradeço mentalmente por ela ter desistido de enfiar na minha goela abaixo aquele líquido quente fedido que borbulha no prato. Não sei porque médico tem essa mania de achar que gente velha precisa comer sopa todo santo dia! Posso estar no fim da vida, com noventa e sete anos mas ainda tenho dentes!! Bom... comprados no dentista, mas paguei por eles, são meus e posso muito bem usa-los para mastigar algo mais saboroso que missô

— Mãe! Não foi culpa da vovó... é que escutamos uma das gravações que Saruto no celular com vovô contando de quando ele te conheceu...Aí nos emocionamos demais, principalmente eu.

Percebo minha filha apertar as mãos nervosa e sua respiração pesar. Sei que esse é um assunto delicado para ela.

— Eu...hunh ... O que meu Pai falou nesses áudios? Ele...ele contou? Toda a parte de quando me conheceu? Do... do... que aconteceu entre vocês, Mama??

Me dói o coração relembrar a pior fase da minha vida, mas me dói ainda mais ver minha filha sofrer com isso. Desde quando Boruto e eu contamos para ela toda sua história, Mina nunca aceitou muito bem essa parte. Sentia-se culpada de uma certa forma pelas coisas ruins que aconteceram entre a gente. O que obviamente não faz sentindo algum.

Simplesmente Amor #Borusara Onde histórias criam vida. Descubra agora