Vice e Versa

Como vim parar aqui?

A lua atingiu seu ápice no céu, iluminando a noite escura e sem estrelas, o clima calmo enfatizava o barulho de espadas chocando contra algo.

As criaturas noturnas eram facilmente dizimadas pelo vento e pela água. O vento violento, sem piedade e compaixão. A água calma e serena, mas que não demonstrava piedade (não que demonstrasse algo, realmente).

Uma missão ao leste, foi designada pra dois dos mais fortes Hashiras (mesmo que um não acreditasse que fosse). O local era longe e demorou, em média, uma semana para chegarem.

Não era segredo que os dois pilares não se davam muito bem, mas nunca iriam contra uma ordem de seu precioso Oyakata-sama, mesmo que isso significasse passar semanas inteiras juntos.

Eles eram fortes e não estavam tendo problemas, na verdade estava até fácil de mais.

( Eles eram fortes, então que problemas teriam?)

- Vermes imundos! - Sanemi resmungou um xingamento enquanto exterminava o último oni restante.

Tomioka permaneceu calado enquanto guardava sua espada na bainha. Percebeu que começou subir uma neblina expessa, mas não ligou muito.

- Vamos indo, já terminamos aqui - Sanemi falou com seu tom normalmente irritado, Giyuu apenas acenou calado. - Tsk.

Mas antes de darem apenas um passo, receberam um ataque surpresa. Ataque esse, que os fez recuar.

Sanemi distraiu o oni e Giyuu se preparou para ataca-lo, furtivamente. Foi bem sucedido! Não que isso fosse surpreendente, afinal eles eram fortes e nada aconteceria.

- V-vocês vão pagar por isso - falava com dificuldade, já que estava apenas sua cabeça, seu corpo havia se desintegrado - e só iram poder sair quando aceitarem a realidade- sua cabeça se desintegrou.

- É melhor passar a noite aqui hoje - Giyuu disse com sua voz calma e um pouco mais rouca que o normal

- Tsk - bufou - que seja.

Porém, Sanemi apenas se virou (uns noventa graus mais ou menos), e no momento que deu um leve piscar de olhos se deparou com um lugar totalmente diferente.

Seu ângulo de visão estava baixo, por isso percebeu que estava sentado. Olhando para frente, viu um objeto grande e retangular, este mostrava imagens e coisas que ele desconhecia.

Ele olhou pela janela e apenas enxergou escuridão, por mais que ali dentro estava extremamente claro. Também reparou em como estava com roupas diferentes, estas eram leves e finas (muito confortáveis e aconchegantes, mas ele não iria dizer isso em voz alta).

Ele se perguntava onde estava e, também, por que era o único ali, onde Tomioka estaria? Que lugar era aquele? Era por causa daquele oni que eles haviam matado?

Em meio a pensamentos, pode perceber quando uma silhueta começou a se aproximar. Olhando para cima, viu Tomioka (quem ele estava procurando), mas não foi capaz de pronunciar uma única palavra.

Percebeu o cabelo molhado, as roupas leves e, principalmente, o sorriso genuíno que o outro carregava.

Inconscientemente sorriu ao presenciar a cena. Giyu se aproximou e sentou no colo do Shinazugawa, este que não entendia o que estava acontecendo.

- Você está bem, Nemi? - Tomioka pediu.

- Sim, estou. Não precisa se preocupar - aquelas palavras que saíram de sua boca eram extremamente involuntárias, assim como as ações de seu corpo.

Shinazugawa rodeou a cintura de Tomioka e o puxou para perto, o beijo quente que se seguiu foi tão gostoso que os dois podiam se viciar com tal ato.

Sanemi não conseguia controlar seu próprio corpo e mente, mas por algum motivo parecia ter esquecido da situação em que estava.

(O que aconteceu não passou de um sonho esquecido. O que está acontecendo agora é o real)

Mente nublada. Muzan não existe. Demônios não existem. Ele é o professor de matemática.
Namora com Tomioka Giyu.

Essa é a verdade? Ele não lembra.

...

-Você tem a primeira aula hoje? - Tomioka perguntou.

Sanemi olhou para ele, deitado ao seu lado na cama, com marcas da noite anterior.

- Não, e você? - respondeu gentil.

Giyu apenas negou com a cabeça.

- Então durma mais um pouco - Sanemi ofereceu e assim Tomioka fez.

O tempo passou voando, era o que Sanemi achava. Não lembrava a quanto tempo estava alí e também não lembrava que tinha que voltar.

Ele viveu com Tomioka por um bom tempo, era estranho dizer isso, mas nunca esteve tão feliz como estava agora com Giyu. No entanto, ainda sentia que faltava algo.

Olhando umas caixas velhas que haviam no sótão, encontrou uma espada. Ela tinha traços verdes e por algum motivo parecia muito familiar.

Segurando ela na mão, sentiu algo preencher seu interior. Memórias inundaram sua cabeça, estas que pareciam sonhos, irreais.

Mas não pareciam invenção.

(Ele é um Hashira forte, de físico e mente)

Ele colocou a espada colada em seu pescoço.

- Isso não é real - se convenceu.

O corte profundo, sem chance de ser reparado. Seu último pensamente foi em Tomioka.

Uma parte sua queria que tudo aquilo fosse real. Viver em paz com a pessoa que aprendeu a amar, mas seu trabalho como caçador não terminou ainda, precisa vencer Muzan.

( E ele irá mata-lo)

...

Gotas.

Gotas salgadas pingavam em seu rosto.

Ao abrir os olhos, vislumbrou uma cena impensável para si.

Tomioka, aquele sem emoção, chorando como uma criança, apenas por Sanemi ter desmaiado.

( Para ele foi apenas um desmaio, não lembrava de nada que passou)

Giyu ficou com uma cara extremamente aliviada. Quando Sanemi desmaiou e parou de respirar, seu sangue congelou e não soube o que fazer. O medo de ver mais alguém que ele ama e admira morrer, era como o inferno.

Sanemi estava tão surpreso, que não sabia como por isso em palavras. Ele apenas beijou Tomioka.

Um beijo sem malícia, sereno. Enquanto as mãos ásperas limpavam as lágrimas sensíveis.

E isso foi o começo para algo muito maior.

Fim.