Capítulo 5

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Apesar de viverem juntos em Konoha há tantos anos, não era raro ouvir os falatórios maldosos dentro dos Senju sobre os outros clãs que povoavam a vila. Tobirama não fazia questão de imaginar que também falavam deles pelas costas, mas não era ingênuo a ponto de pensar que apenas eles se juntavam para xingar e, às vezes, até mesmo levantar boatos sobre os outros clãs. Era quase como um ritual. Se um grupo de Senju estava reunido, ele tinha certeza de que alguma fofoca ou descontentamento sobre outro clã, em especial o Uchiha, estava sendo compartilhado. Ele mesmo já esteve entre eles, reclamando até de coisas mínimas que os Uchiha faziam, como qualquer outro Senju. Continuava reclamando atualmente, mas aos poucos, passou a se sentir desconfortável quando os assuntos surgiam, como naquela manhã em que chegou um pouco atrasado na academia e encontrou membros de seu clã o esperando para uma reunião.

Havia outro shinobi atrasado, o único Uchiha do grupo de senseis, e que havia se forçado entre eles, alegando que os Senju tentavam monopolizar os cargos importantes. Como era costume, e aproveitando o atraso, o tópico foi aquele Uchiha que dava aula na segunda turma. Ignoraram o fato de Tobirama ter se atrasado também, e continuaram o falatório.

Em silêncio, Tobirama os ouviu criticando o shinobi. O chamaram de metido, folgado, intrujão... alegavam que ele havia trapaceado para entrar na academia e usado da bondade do Hokage para estar ali. Tobirama conhecia aquela história, mas não disse nada. Não estava disposto a conversar dessa vez. Queria ficar quieto, com os próprios pensamentos, que estavam longe desde que saiu de casa, mas o falatório não o deixou se concentrar em si mesmo por muito tempo, pois o que ouviu o irritou de forma inédita. Era tudo mentira. Conhecia aquele Uchiha, que mal falava e apenas fazia o seu trabalho.

Se envergonhou quando os observou de fora, pois lembrou de muitas vezes passadas em que fez o mesmo. Ainda assim, continuou calado. Não era da conta dele, e o Uchiha estava mesmo muito atrasado, e o deixou impaciente.

Tobirama se levantou para buscar alguns papéis nas gavetas no canto da sala, mas, mesmo assim, ainda podia ouvi-los falando sem parar. O assunto desviou para Madara. Então, o líder dos Uchiha teve sua vez de ser atacado, e foi acusado de coisas que Tobirama não sabia que eram possíveis, mas continuou calado, até sentir o coração se agitar com violência quando outro Uchiha foi mencionado.

— Como aquele irmão dele. — Um dos Senju disse com desprezo, e Tobirama amassou os papéis entre os dedos. — Um maldito esnobe! Vive de nariz empinado, de cara fechada. Se acha melhor do que todos nós, mas tem jeito de que abre as pernas por aí, se é que me entendem.

Eles riram escandalosamente, mas as vozes foram cortadas pela metade quando Tobirama perdeu a paciência e não suportou a própria fúria, que o atingiu com tanta força que lhe causou uma incômoda dor de cabeça.

— Ei! — gritou o irmão do Hokage, que se virou para os seus companheiros de clã, e sua expressão pesou cada vez mais, à cada passo dado em direção à mesa redonda em que eles estavam.

— Tobirama-sama. — Um deles gaguejou, e todos se levantaram ao mesmo tempo, mas desajeitados, enquanto tentavam esconder o pavor. Não sabiam o que tinham feito de errado, mas quando o irmão do Hokage mostrava aquela expressão, era evidente que deveriam ser cautelosos.

Tobirama parou diante daquele que havia insultado Izuna. Sentiu o corpo estremecer quando encarou os olhos castanhos apavorados, mas o herdeiro dos Senju segurou o punho que queria acertá-lo.

— E você acha que é melhor do que eles, falando desse jeito? — perguntou ele com seriedade.

O outro Senju tentou dizer alguma coisa, estranhando a defesa vir justamente de quem mais criticava os Uchiha nos últimos anos, mas a raiva de Tobirama era tanta que acabou escapando de seu corpo, e seu poderoso chacra dominou a sala. A pressão foi repentina e tão intensa, que alguns dos shinobi não resistiram e tocaram os joelhos no chão, mas o rapaz diante dos olhos furiosos de Tobirama continuou em pé, apesar de estar em uma situação pior do que todos eles.

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