— Então, você disse que revive memórias que não sabe de onde vieram, é isso? — Arthur concordou com a cabeça — E que acha que me conhece de algum lugar porque me viu em uma de suas memórias, certo? — novamente o moreno assentiu.
Era impressionante a forma como o doutor anotava tudo com precisão. Parecia analisar cada movimento, cada mínima expressão no rosto de Arthur, o que, de certo modo, incomodava o paciente.
— Com qual frequência você tem pesadelos? — indagou o loiro, encarando Arthur como se soubesse de todos os seus pecados.
— Todas as noites — respondeu o moreno, seco.
Dante anotou a resposta e largou a caneta em cima da mesa. Voltou a olhar diretamente para o Cervero, preocupado.
— Sinto que você não está confortável aqui. Sua primeira vez em um psicólogo? — com cautela, Dante o indagou.
— Na verdade, sim... — Arthur coçou a nuca e balançou as pernas, claramente nervoso. — Na verdade eu nunca cogitei a ideia de ir num psicólogo, eu só acordei e decidi que seria bom.
— E vai ser. Olha, eu não estou aqui para te julgar, a minha função é apenas te ajudar. — as palavras de Dante soaram como música nos ouvidos de Arthur. Ele realmente conseguia transmitir confiança ao paciente — Então, ao invés de ficar te fazendo perguntas, eu vou te dar... — o loiro deu uma rápida olhada em seu relógio de pulso — trinta minutos para desabafar. Finja que nem estou aqui, apenas fale tudo o que sente, tudo o que você se lembra. Tudo o que quiser.
Arthur respirou fundo. Travou por alguns segundos, realmente não sabia o que dizer, mas daria o seu melhor.
— Bom, eu... me chamo Arthur Cervero, tenho 32 anos, moro em São Paulo há algum tempo mas nasci em Santa Catarina... — ele achou que seria uma boa ideia se apresentar antes de começar, e Dante pareceu aprová-la. — Eu não tenho muitas memórias do que aconteceu comigo desde que eu me mudei, mas de alguma forma eu sei que já estou aqui há cinco anos — ele deu uma pausa, e o doutor o ofereceu um copo d'água, na qual Arthur bebericou, e então prosseguiu. — Eu tenho tido pesadelos constantes há algum tempo, no começo pensei que fosse normal, afinal era só uma ou duas vezes por semana, mas agora tenho todos os dias. Geralmente eu acordo encharcado, como se tivesse suado e me revirado na cama a noite inteira. Não são só pesadelos, mas também lembranças que eu inconscientemente tenho quando vejo algumas pessoas, mas não sei quem são elas. Foi o que aconteceu quando eu esbarrei no cara que vai passar com outro doutor aqui, eu sinto que já vi ele em algum lugar, assim como sinto que já te vi também.
— Entendo — desta vez, Dante não anotou nada, apenas ouviu atentamente o que seu paciente tinha a dizer — Tem algo mais que você gostaria de acrescentar?
Arthur pensou um pouco, e então negou rapidamente com a cabeça.
— Ótimo. Vamos encerrar essa sessão por aqui. Nos encontramos toda segunda-feira, às 10h30, tudo bem pra você? — perguntou Dante, marcando o horário do novo paciente em sua agenda.
— Sim, claro. — respondeu Arthur, sem reação.
— Nos vemos então. Ótima semana pra você, Arthur! — o doutor pareceu forçar um sorriso, mas apertou a mão do moreno, que apenas assentiu e se retirou.
Assim que encostou a porta do consultório de Dante, Arthur percebeu, através da janela da sala ao lado, que Joui Jouki estava passando por uma sessão de fisioterapia. Fazia expressões mistas, ora de dor, ora de alívio, mas assim que notou a presença de Arthur, o asiático deu um sorriso dolorido e acenou para seu novo amigo. Arthur sabia exatamente o motivo de Joui estar ali, afinal, ele tagarelou durante todo o período de espera que tinha o sonho de ser um ginasta mundialmente conhecido, que estava treinando para isso, que machucou o tornozelo e agora precisava de fisioterapia, dentre outras mil coisas nas quais Cervero não conseguiria se lembrar.
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apocalypse || danthur
Fanfictiononde Arthur revive memórias que não sabe de onde vieram e Dante tenta ajudá-lo.