III

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Arthur pareceu despertar de um sono que durou dias. O ambiente que via era o mesmo de antes, porém com algumas coisas a mais: a mesinha ao lado da maca agora tinha uma bandeja com torradas, suco de laranja e gelatina. A cortina que caía sob a janela agora estava fechada, cobrindo parcialmente a claridade que vinha de fora. Era fim de tarde, e o Cervero novamente acordara de um pesadelo.

— Saber tudo é perder tudo, saber tudo é perder tudo...

Uma mão repousou sob o ombro de Arthur, que repetia incessantemente as palavras enquanto dormia, além do corpo trêmulo.

— Ei, Arthur... Tá tudo bem, sou eu, o Joui. Acorda! — disse o asiático de pele pálida, o tom quase inaudível, pois não queria incomodar o amigo.

— Hm? — Arthur se esforçou para abrir os olhos, e então reconheceu a face de seu mais novo amigo.

— Você teve um pesadelo. Acho que o Doutor Dante vai querer conversar com você, mas antes você precisa comer — Joui estendeu o braço direito em direção a mesinha ao lado da maca, pegou a bandeja com as torradas, o suco de laranja e a gelatina e colocou-a cuidadosamente sob o colo de Arthur.

Por um momento, o Cervero pareceu esboçar uma reação de enjôo, mas foi questão de tempo até que ele devorasse aquelas torradas.

— Quero mais.

Joui não conseguiu conter uma risada.

— A comida desse hospital até que é boa, né?

— Como você sabe? — questionou Arthur,  mastigando a última torrada.

Joui olhou para os lados e colocou seu rosto próximo ao de Arthur, como se temesse que alguém estivesse os observando e em um rápido movimento, tirou 3 potes de gelatina dos bolsos do moletom vermelho.

— Shh, não fala pra ninguém. Eu nunca comi isso lá no Japão, aí eu experimentei e gostei!

Arthur soltou uma breve risada e escondeu as gelatinas no bolso de Joui novamente.

— Certo, é o nosso segredo — o mais baixo estendeu o dedo mindinho em direção a mão direita de Joui, que cruzou seu dedo com o de Arthur.

— Isso significa promessa, né? — o asiático questionou, confuso sobre o que estava fazendo.

Arthur balançou a cabeça como resposta e ambos passaram o fim de tarde conversando sobre assuntos improváveis, como "será que estamos vivendo uma simulação?" ou "em que língua os cachorros pensam?". Por volta das sete da noite, os amigos foram interrompidos por duas batidas na porta.

— Ah, pode entrar! — exclamou Joui, empolgado.

— Com licença, Joui — Arthur reconheceu a voz aveludada do Doutor Dante, que entrou vagarosamente no quarto e, como de costume, tomando cuidado para que a porta não fizesse barulho. — Eu posso ter uma palavrinha com o Arthur? Prometo ser breve. — Dante esboçou um sorriso gentil.

— Claro, claro! Desculpa, fiquei tempo demais aqui, né? — Joui rapidamente levantou-se da poltrona e caminhou em direção a porta.

— Está tudo bem. Fico feliz que Arthur tenha feito um novo amigo.

O asiático pareceu corar diante o comentário do doutor, e então retirou-se do quarto. O homem loiro encostou a porta e sentou-se na mesma poltrona ao lado do paciente.

— E então, como você se sente?

Arthur deu um longo suspiro, seguido de um sorriso singelo. Parecia confuso, um pouco desnorteado mas, ao mesmo tempo, feliz.

— Bem, eu acho. Tive outro pesadelo mas não foi tão ruim quanto os outros. O Joui tem me ajudado bastante. — desabafou, os olhos levemente marejados.

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⏰ Última atualização: Apr 27, 2023 ⏰

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