Viserys

46 3 6
                                    

Medo...

Viserys tinha 5 anos quando sentiu essa sensação correndo por suas veias e se espalhando por seu corpo, seu sangue, nublando sua racionalidade e aflorando seus instintos mais primitivos dos confins de sua mente. É engraçado quando descobrimos a sensação do medo por puro instinto, nossa consciência sabe antes de nossa alma e corpo que vamos precisar lutar para sobreviver, ela ativa nossos sentidos adormecidos e aflora nossos pensamentos para achar uma maneira de escapar e viver. Viserys soube que precisaria lutar para viver quando as servas leais de sua mãe entraram em seu quarto e disse precisarem ir, para longe, além de Kings Landing, ele não sabia o porquê e elas também não lhe explicaram e ele sabia que aquele não era o momento para perguntas. Ele pegou seus poucos pertences que as servas acharam essências, colocaram em uma bolsa e saíram de seu quarto com Viserys no colo de umas das mulheres que corria pelos corredores de um castelo vazio, cercado por uma atmosfera de medo e incerteza. Em meio a respiração ofegante da mulher no pé de seu ouvido, Viserys olhou a porta de seus aposentos uma última vez, e uma lagrima escorreu de seus apavorados olhos violetas.

Ele não sabia como e nem quando mais conseguiram chegar no porto real e ao longe ele viu sua mãe, nunca tinha sentido tamanho alivio em sua curta vida até agora. Assim que a serva lhe colocou no chão, ele saiu correndo para os braços abertos e estendidos de Rhaella, ele enterrou a cabeça em seu pescoço e chorou de medo, ou pelo menos foi o que ele achou que era, seu corpo estava um mix de sentimentos que ele não conseguia distinguir e só pensava em chorar. Olhar para seu filho naquele estado foi mais difícil do que colocar ele nesse mundo para Rhaella, seu pequeno dragão estava assustado, com medo e ela não estava muito diferente dele, mas precisava ser forte, tinha dois filhos para salvar, mantê-los vivos, nem que precisasse derramar seu próprio sangue para isso.

— Viserys, eu poderia lhe dizer muitas coisas nesse momento, tentar te fazer entender nossa situação mesmo sendo apenas uma criança, mas vou lhe pedir apenas uma coisa.

Rhaella pegou sua pequena mão e colocou sobre sua barriga:

— Quando seu irmão ou irmã nascer protege-o com sua própria vida, ame-o acima até mesmo de ti e tenho certeza que ele ou ela irá lhe retribuir em dobro seu amor e devoção. Te digo isso, meu filho, pois eu não sei quanto tempo mais eu tenho nessa vida, não sei até quando meu coração ira bater e quero partir, sabendo que vocês dois vão viver e serão amados, mesmo que seja apenas um pelo outro. Prometa para mim Viserys.

Como se exigindo que as palavras saíssem de sua boca e a promessa fosse selada, ele sentiu uma pequena movimentação abaixo de sua mão que ainda estava repousada sobre a barriga de sua mãe. Rhaella sentindo essa vibração, soltou um pequeno riso e olhou para seu filho que estava olhando para sua barriga com atenção, mesmo com os olhos ainda derramando lagrimas, ela viu uma pequena chama no fundo daqueles olhos violetas, algo desconhecido para ela, um sentimento profundo que ela não conseguia decifrar e também não tinha tempo, não naquele momento. Ela então proferiu as palavras que selariam o destino dos Targaryen:

— Mesmo dentro da minha barriga ele sabe que é seu Viserys.

— Meu?

Viserys em nenhum momento deixou de olhar para sua mão, mesmo escutando o que sua mãe lhe dizia.

— Sim, seu para cuidar e amar e nunca deixar ser tocado ou ferido.

Rhaella sabia do peso de suas palavras, sabia que poderia vir a se tornar um sentimento forte e fraternal ou algo doentio e devastador para os dois, ela não sabe exatamente em que sentido mais seu instinto materno lhe dizia isso. Ela simplesmente resolveu ignorar, precisava falar o que era necessário. Seus filhos não teriam servas nem uma guarda real, não poderiam confiar em ninguém apenas em si mesmos, no seu próprio sangue, e ela faria o que for preciso para garantir isso, para viverem, e eles viveriam numa dependência mútua de sentimento e confiança.

Viserys lhe trouxe de volta da bagunça emocional de sua cabeça com suas palavras sussurradas cheias de insegurança e incertezas.

— Pelo sangue da Antiga Valíria, lar de meus antepassados, irei te amar e proteger até a última batida do meu coração. Eu sou seu e você é meu.

Em sua voz infantil era palpável seu desespero e angústia de um futuro que nem poderia existir, mesmo assim suas palavras saíram firmes sendo proferidas com Viserys olhando diretamente para sua mão, com seus olhos violetas tão parecidos com os de Rhaella, queimando com determinação e lagrimas derramadas. Nenhuma palavra conseguiu sair da boca da antiga rainha de Kings Landing, ela apenas se abaixou e abraçou seu filho, deixando escapar por seus lábios "obrigadas" cheios de alívio e amor. Talvez no futuro ela não esteja aqui mais Viserys estará, com seu outro filho ou filha. Que os deuses os protejam.

Viserys ouviu os súplicos da mãe aos deuses antigos e novos. Ele estava agora abraçado a ela e seu ouvido repousava sobre sua barriga. O bebê estava agitado e mexendo e ele conseguia sentir sua movimentação através de seu corpo. Passou por sua cabeça que talvez ele tivesse ouvido sua promessa, um pensamento insano e sem fundamento, ele sabia disso, mais lhe trouxe conforto em meio a todo aquele ambiente caótico a sua volta do qual ele ainda não entendia e também,por agora, não queria se importar em tentar entender. Ele se desligou do mundo a sua volta por um momento e focou apenas na pequena criatura que ele ainda nem sabia o sexo ou qual seria seu nome, mas era sua, inteiramente, cada pedaço de seu ser lhe pertencia, sua própria mãe garantiu isso. Ele ainda não tinha total consciência da dimensão que isso implicaria na sua vida ou na de seu irmão, ou irmã, mas gostou do sentimento que estava surgindo em seu peito, era algo grande e sem definição ainda para ele, mas gostou da sensação, e com o tempo passou a amá-la. Aquele bebê jamais suplicaria por ajuda ou adoraria os deuses antigos e novos como sua mãe, ele rezaria por Viserys, suplicaria por ele, adoraria ele e amaria somente ele. Pensar assim lhe trouxe um prazer insano, por um instante, em meio a sua névoa de medo.

Aviso:

Um delírio que tive na madrugada e não sei se continuo. Para quem leu até aqui meu imenso obrigada a ti e espero que tenha gostado de minhas palavras.

Fogo e SangueOnde histórias criam vida. Descubra agora