A perceptiva de um futuro melhor parece uma espécie de devaneio impossível criado por sua mente para fazê-la acreditar numa mentira sem possibilidade de acontecer, uma maneira de conforto sem realmente confortá-la, uma forma de adiar seu desespero fatalmente inevitável, a esperança pode, às vezes, ser a grande piada sarcástica do universo. Enquanto seu pequeno barco navegava rumo a uma vida desconhecida enquanto seu filho dormia sobre seu colo, Rhaella resolveu refletir. Olhar aquela imensidão azul a sua volta, aparentemente sem fim para ela, ativou seu fluxo de memórias mais íntimas de sua mente, fragmentos de sua vida desde a infância até aquele momento iam passando por seus olhos assim como as ondas naquele momento. O ditado dizia que perante a morte sua vida passa diante dos seus olhos, Rhaella não sentia seu fim iminente chegando naquele momento, mais a necessidade de uma reflexão das suas escolhas durante sua vida parecia uma necessidade quase existencial para responder sua grande questão naquele momento, por quê? Por que seu irmão, e marido, fez o que fez? Como ele pode deixar o egoismo de suas vontade sobrepor o bem-estar de sua família? Será se em algum momento ele não parou para pensar nas eventuais consequências de seus atos? Ele sacrificou vidas em prol do seu antropocentrismo descabido e agora ela estava la pagando as consequências pelas escolhas erradas daquele que deveria protegê-la. Apesar de sua mágoa naquele momento, seu ódio era maior. Aerys nada mais foi que um fruto de uma criação regada ao mimo, suas vontades nunca foram negadas, seus pedidos por mais insanos que fossem sempre foram atendidos, ela mesmo foi presente para uma criança que nunca ouviu um não na vida. Rhaella abdicou do seu destino, da vida, para ser esposa de quem ela não queria.
Que forças ela teria para lutar contra a vontade de toda uma família? O peso de um passado regado pela tradição de sangue puro caiu sobre ela, uma cultura tão densa e cheia de incertezas caiu sobre seus ombros como uma responsabilidade que ela nem ao menos entendia, mais uma coisa ela compreendeu naquele período de sua infância, uma certeza tao obvia que sobrepôs toda uma desculpa histórica sobre seus antepassados que seus pais a deram para justificar um noivado do qual ela não queria, uma constatação bem obvia e cruel do seu destino que seus pais tetaram esconder mais não conseguiram, mesmo sendo uma criança como ela era. Aerys a queria, não como irmã, mais um objeto do seu próprio divertimento pessoal, sua para fazer o que quisesse, ela foi a primeira obsessão de Aerys, e como regra universal daquele castelo, Aerys sempre tinha o que queria. Seus apelos não foram escutados, suas vontades foram ignoradas, o bem maior pela sua linhagem deveria ser cumprido mesmo a custo de sua felicidade. Pensar que aquela máxima patética foi usada para manipular seu destino durante toda sua vida desperta os seus maiores rancores que ela sempre teve que esconder, afinal, que direito ela tinha de expressar o que sentia quando o mais importante no final era as vontades de outra pessoa serem satisfeitas?
Quando a ideia do noivado foi finalmente processada, a força, por sua mente mediante forças exteriores, começou os preparativos que uma mulher deveria passar para se tornar uma esposa ideal, uma rainha ideal também no seu caso. Rhaella queria poder se lembrar dessa época com vivacidade e não apenas um borrão do qual ela tinha a ligeira sensação de não ter noção de tempo e espaço. Ela era um objeto sem vontades próprias, então por qual motivo lutar contra necessidades tão banais que ela deveria fazer e aprender durante os dias que se passavam, quando o mais essencial de sua alma já tinha sido lhe tomado? Aprender boas maneiras e o que aconteceria entre quatro paredes entre um homem e uma mulher após seu sangramento parecia sacrifícios tão supérfluos e sem importância que a melhor maneira que ela encontrou para lidar com isso foi apenas sorrir e acenar. Transmitir uma compreensão e entendimento daqueles ensinamentos, dos quais não lhe diziam nada e não tinham peso em sua vida, parecia ser a única forma daquela tortura diária passar mais rápido. Se ela entendia, poderiam passar para o próximo tópico, e seria menos um assunto que ela não precisaria mais fingir interesse. Pensar que sua infância e adolescência se resumiu a isso chega a ser uma vivência digna de piedade para os de coração mais sensível e mais um relato de uma garota mimada da realeza para os de coração realista, pensou Rhaella. Isso realmente não importava, fazer parte de um meio real do qual foi inserida e criada estava além de suas capacidades de interferência. Decidir seus destino e onde nasceria era obra dos Deuses, como ela lidou com isso e quais foram suas emoções no decorrer de sua vida naquele castelo foram consequências de seus sentimentos e um processo natural que ela não poderia impedir, achar que teve uma vida sofrida dentro da sua realidade era um direito seu, por mais consciência que tivesse que existiam realidades piores que a sua dentro de seu próprio reino. Talvez em outra vida ela cresça numa dessas realidades e tenha uma empatia melhor por essas pessoas do que ela tem agora, e ela tinha uma ligeira impressão que a sua próxima vida não estava longe de chegar.
Um movimento repentino em seu colo tirou Rhaella da sua infância maldita. Viserys tava se movendo e pelo jeito iria despertar logo. Aquilo foi como um clarão em meio a sua névoa de pensamentos melancólicos. Aerys havia ditado todos os caminhos que a sua vida deveria seguir e talvez, apenas talvez, ele achou que deveria recompensar Rhaella por roubar sua vida de sua própria vontade. Ele lhe deu duas novas vidas, dois novos motivos para acordar e lutar todos os dias, dois motivos que sobrepõem a sua necessidade de encontrar respostas para o seus "porquês", quando a grande maior questão da sua vida agora era o bem-estar dos seus dois maiores presentes naquele momento. Eles traziam sua noção de tempo e espaço novamente, eles mereciam que ela lutasse todos os dias, apenas por eles. No final, parando agora para pensar, Rhaella passaria por todo egoismo de Aerys de novo, cada vontade sua subjuga e abusos diárias submetidos que ela passou por causa dele, passaria por tudo de novo, se aquilo significasse o nascimento daquelas duas pequenas vidas que davam tão sentido a sua que a tanto tempo lhe foi arranco direito de escolha e sentir. E por mais contraditórias que a esperança de um futuro melhor fosse possível naquelas circunstancias, ela encontraria maneiras de torna possível não um futuro melhor, mais um que seus filhos estivem vivos. Pela primeira vez, ela lutaria para uma vontade sua ser absoluta, não importa os preços que viram pelas suas escolhas, ela se daria ao luxo, pelo menos dessa vez, de ser egoísta.
Oii para vc que chegou até aqui, o meu muito obrigada pela sua paciência em ler minhas palavras e espero que continue acompanhado essa historia. Se puder, vote e comente, quero muito saber sua opinião do meu trabalho. Obrigada de novo e meu imenso carinho a ti.
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Fogo e Sangue
RomanceEm um reino onde dragões dançavam nos céus e o fogo do destino queimava nas veias da nobreza, uma história de amor florescia entre dois corações destinados a se entrelaçarem. Viserys e Daenerys Targaryen, herdeiros de uma linhagem marcada por tragéd...