O GRITO QUE VEM DAS TREVAS

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­– Isso tudo é estúpido – Daniel foi dizendo, enquanto seguiam caminho pelo terreno ermo.

A noite já despontava no grande céu, com a lua e as estrelas roubando o lugar do imponente sol, que agora se punha numa cor avermelhada. As três crianças seguiam por uma estrada de terra, passando por árvores e arbustos, rodeadas por uma grama alta e descuidada, dando ao lugar um aspecto sujo e selvagem.

– Você é um medroso mesmo, viu – respondeu Alice enquanto caminhava em passos rápidos. A roupa suja e amassada, os cabelos despenteados e nos pés um chinelo de tiras finas que parecia prestes a arrebentar. Mas ela não se importava com nada daquilo, era uma aventureira e só se preocupava com a adrenalina da aventura.

– Eu só acho besteira a gente vir até aqui pra isso, claramente é só uma lenda boba – disse Daniel, visivelmente preocupado, olhando para os lados com uma expressão assustada. Ao contrário da amiga, o menino estava muito bem vestido, usando uma camisa de botões por baixo de uma calça jeans, os pés cobertos por um confortável par de tênis pretos e os cabelos muito bem penteados com gel. A visão daquela dupla era com certeza um enorme contraste.

– É também acho, acho perigoso na verdade, não por conta da lenda, porque isso desrespeita tudo que a ciência prega, mas porque pode ter alguém mal intencionado por aí – disse Sofia, também preocupada. A menina era um equilíbrio para aquele contraste entre os outros dois, usava roupas mais despojadas, com um macacão jeans e por baixo uma blusa rosa de algodão, mas também calçava sandálias fechadas e mantinha os cabelos presos num rabo de cavalo, dessa forma estando também bem arrumada, com roupas muito limpas, sendo assim um meio termo equilibrado entre aquela dupla.

– Ai que exagero viu, não vai acontecer nada, pelo amor – disse Alice já aborrecida com seus amigos. – Vocês dois são muito chatos, não gostam de se aventurar.

– Eu me aventuro no LOL, já é o suficiente – disse Daniel dando de ombros.

– Eu também, jogar é um jeito bem seguro de se aventurar, mas também me aventuro nos estudos de Darwin, poucas coisas são mais aventurescas do que estudar a natureza e como ela se transforma – Sofia concordou com veemência.

– Poucas coisas são mais chatas, você quer dizer – retrucou Alice, revirando os olhos. – E quem precisa de um jogo, quando se pode viver uma aventura real.

– É, mas na vida real se você morrer, não tem como reiniciar o jogo – disse Sofia de imediato.

– Se você acreditar em reencarnação tem sim – argumentou Alice.

– Considerando tudo que a ciência já descobriu, é uma possibilidade pouco provável – rebateu Sofia.

– Tá chega desse assunto, vamos logo ver isso – disse Daniel já irritado com aquela conversa, apenas querendo ir embora logo dali e voltar à segurança de sua casa, podendo se aventurar nos seus jogos de celular.

E assim seguiram os três amigos por aquela estrada de terra, caminhando em passos ligeiros e ansiosos. Não demorou muito até que o grupo chegasse próximo a uma casa de madeira, aparentemente abandonada.

Era uma casa pequena, muito simples, feita toda de madeira, uma casa que um dia havia sido azul, mas agora estava com a tinta completamente descascada. Parecia ser uma moradia muito antiga e há muito desabitada, a madeira estava meio apodrecida, os vidros das janelas quebrados e várias ripas caídas no telhado e nas paredes, tornando a habitação desprotegida e vulnerável. A porta estava fechada, mas logo se via que estava apenas encostada, com o ferrolho aberto e enferrujado.

– A casa da bruxa – disse Alice com um sorriso, enquanto tirava uma lanterna da mochila que carregava nas costas.

– Não é melhor usar a lanterna do celular mesmo? – perguntou Daniel meio contrariado, fazendo a mesma coisa.

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