Amor Mortal

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Prefácio

"Quanto vale uma vida? Aparentemente os humanos nunca pararam para fazer essa pergunta para si mesmos, pois matam e destroem tudo por mero egoísmo. Não sou humana, nem imortal, e por isso minha mente é meu inferno. Como iria me posicionar naquele momento, em que duas pessoas que eu amava pediam para que eu escolhesse um lado: os humanos ou os imortais.

͏- Alguns dias antes - ͏

Já passava da meia noite, eu estava sentada debaixo de uma ponte, sangrando por causa dos ferimentos. Me machucar já tinha se tornado algo comum, pois os soldados da CCMI estavam por toda parte da cidade, caçando os imortais como cachorros velhos pela rua. Eu havia saído bem cedo de casa, e depois do colégio fiquei andando por aí, como já era costume da minha rotina. Não tenho amigos, ou talvez um dia tive, mas não me acostumei com a ideia. Criar um laço passageiro com alguém, não estava nos meus planos.

A dor em minha perna aumentava com o passar do tempo, e eu tentava não gritar. Minha pele ardia, devido a queimadura e ao sangue que escorria por ela. Essa era a tortura criada pelos humanos para que nós imortais sofrêssemos um pouco. Desde que chegamos a Terra, a 60 anos a trás, os humanos sentem medo de nós e veem nossos rostos como os de criminosos de guerra. Somos caçados como animais, presos em jaulas para serem estudados. Temos chance até que encontrem um meio de nos matar.

Os humanos já se acostumaram em fazer isso, caçar, prender e matar estão enraizados em suas veias, passando de geração em geração, como raízes fundas de uma árvore centenária. A velha ilusão de que tudo pode ser resolvido por outro, é um dos erros que eles cometeram, e por isso estão matando o próprio lar deles. Um erro que nós, imortais, cometemos também.

Até ontem, eu não me lembrava de tudo isso. Nem ao menos sabia que era uma mestiça. Foi então que ele apareceu, como seus olhos verdes e seu cabelo escuro como céu sem estrelas. Tudo mudou depois da noite de hoje, eu não era mais apenas uma garota de 23 anos, mas sim uma mestiça, perseguida por humanos e imortais.

Eu não tinha mais forças, meus olhos pesavam e a qualquer momento eu iria desmaiar. Meu fim seria ali, debaixo de uma ponte, sangrando até minha morte lenta chegar. Ou talvez eles me capturassem e levassem para seus laboratórios, servindo de cobaia para seus experimentos. Mas o destino havia preparado um final diferente para mim.

Antes de perder a consciência, alguém se aproximou de mim. Não pude reconhecer seu rosto, pois o homem usava um capuz que o cobria. Sim, a silhueta parada em frente ao meu corpo era de um homem. Ele olha para os lados, como se quisesse passar despercebido e se abaixa para me pegar em seus braços. Deixei que o senhor destino decidisse o que fazer com minha pobre alma, repousando minha cabeça no ombro do homem, que nada dizia.

Depois de andar algum tempo, por ruas desertas e escuras de uma noite fria de outono, chegamos num beco. Havia um carro ali, onde sou colocada no banco traseiro, com minha cabeça apoiada em um casaco. Ouvi a porta se fechar e o homem entrar no banco do motorista. Tive certeza de que não era um soldado da CCMI, pois nenhum deles faria isso. O carro é ligado, e começa a se movimentar. Cansada, fecho meus olhos, me deixando ser levada por aquele homem.

Eu não sabia para onde ele me levaria, nem por qual motivo ele havia me ajudado. Em minha mente ainda haviam muitas lembranças tumultuadas, em que levariam um certo tempo para compreende-las. Haviam muitas coisas que eu precisava descobrir, e entender porque algumas aconteceram.

Depois de ter sido colocada naquele carro, não vi mais nada. Quando abri meus olhos, uma luz branca e forte estava sobre mim, fazendo com que não visse muito bem o lugar. Tentei me levantar, mais meu corpo estava sedado e minha visão meio turva. Ao longe pude ouvir duas pessoas discutindo, eram vozes fortes e graves. Não consegui ver quem eram, e me esforcei para levantar.

Então uma mulher se aproximou de mim, me fazendo deitar novamente. Ela estava seria, como se minha presença não lhe agradasse nem um pouco. Percebi então, que não sentia mais a dor em minha perna. Aquele homem tinha me salvado, e agora eu estava em algum tipo de esconderijo ou refúgio. Pouco a pouco minha visão foi voltando, e pude ver que estava cercada por três pessoas, que me olhavam fixamente.

- Como você pode ter certeza de que realmente é ela? – Perguntou um deles, olhando para o outro homem a sua direita.

- Eu não sei. Apenas senti que deveria traze-la para cá, e foi isso que fiz – Respondeu ele, com um olhar frio e voz serena.

Permaneci em silêncio, ouvindo o que eles diziam. O que eles queriam de mim, e porque aquele cara tinha me salvado? Estava com medo e não queria ficar nem mais um instante ali. Em segundos, analisei a sala que estava e encontrei a saída mais próxima. Quando ia me levantar, o mesmo homem que tinha salvado segurou meu braço com força.

- Não pense em fazer isso. Você não tem ideia de como é complexo sair daqui e de quantas pessoas tem lá fora – Olhei em seus olhos, engolindo seco o que ele disse. Quando ele solta meu braço, sento na maca que estava – Não vamos fazer mal a você, estamos aqui para te ajudar. Somos todos iguais a você.

Iguais a mim? Olhei nos rostos de todos ali, vendo a mesma expressão séria daquele homem. Então eu não tinha escolha se não ficar, e esperar que o melhor aconteça. Se eles eram iguais a mim, talvez fossem mesmo me ajudar.

- Qual seu nome?

- Meu nome é Luna. "





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