Entre grilhões e correntes

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— Ei, chefe, esse aqui está vivo — Foi a primeira coisa que ouvi assim que acordei abruptamente após a longa noite. — O que faremos com ele?

Mal tive tempo para processar meus pensamentos antes de vomitar água salgada, e percebi que estava todo empanado de areia. Um cabo de lança era pressionado contra o meu peito, e tentei abrir os olhos, mas a luz do sol ardente me ofuscou. Vi uma figura se aproximando, e sua aparência era semelhante a de soldados de baixa classe.

Eles conversavam em Aretês, o idioma comum do continente de Eloa, onde ficava a minha pátria, Heartia. Com dificuldade, pude entender o que eles diziam. Enquanto observava meus captores anteriores, o guerreiro que parecia liderar o grupo perguntou: 

— Ele está algemado. Descobriram para onde estavam transportando-o?

— Não, aparentemente é apenas um escravo. É só uma criança e único algemado — respondeu aquele que me despertou.

— Está bem, vamos levá-lo com os outros escravos. Matem os demais. — disse o líder.

Com meus olhos finalmente se acostumando à luz forte do sol, presenciei uma verdadeira carnificina diante de mim. Meus captores, como dominós caindo um após o outro, foram abatidos em um piscar de olhos. O mais velho, que antes estava caído no chão, teve seu corpo perfurado pela lança que instantes antes o pressionava de forma tão semelhante a mim. A mulher e o bandido mais jovem, por sua vez, foram apreendidos por soldados impiedosos que rapidamente os degolaram com suas lâminas tão afiadas quanto navalhas. Apesar da cena horripilante que se desenrolava diante de mim, de todo aquele sangue pintando a areia branca, não pude evitar sentir um certo alívio por escapar daquela situação tão terrível.

A paisagem que se estendia diante de meus olhos era majestosa e encantadora. Colinas e montanhas de beleza única se erguiam emolduradas pelo mar azul cristalino que reluzia sob o sol. Pinheiros, ciprestes e oliveiras verdejavam em abundância, conferindo um tom exuberante à região. Ao longo da costa acidentada, pequenas enseadas e baías se intercalavam com penhascos íngremes e falésias imponentes.

Com passos vacilantes, fui conduzido até uma das seis carroças que estavam dispostas à minha frente. O sol escaldante me forçou a apertar os olhos, mas mesmo assim consegui distinguir que jovens e idosos partilhavam o mesmo espaço que eu, em condições miseráveis. Todos estavam seminus, visivelmente abatidos e com olhares perdidos no horizonte. Os gritos dos guardas ecoavam pelos vales, ecoando o medo e a opressão que pairava sobre nós. Na carroça à frente, as mulheres sofriam em condições ainda piores, amontoadas umas sobre as outras, com lágrimas nos olhos e corações partidos. A cena era desoladora, e me perguntei se algum dia voltaria a sentir a brisa fresca de DawnBay, ou se seria apenas mais um escravo em Valoria.

Me sentava enquanto admirava a paisagem, ignorando o fato daquilo que aconteceu minutos antes, enquanto os outros escravos e prisioneiros conversavam em línguas diferentes. Foi quando um menino de cabelos cacheados castanhos claros e muitas sardas se aproximou:

— Oi, sou Dan — disse ele estendendo a mão.

Nesse momento que adotei meu sobrenome como nome principal, respondi no idioma de Lys:

— Oi, sou Steele. Você é de Lys, não é?

— Sim, você também!?

— Não, sou de Heartia. — disse, percebendo a surpresa de Dan.

— Aqueles eram seus amigos? — perguntou Dan olhando para um grupo de homens que conversavam animadamente.

— Não, eles me sequestraram de minha família. — respondi, com um tom de tristeza na voz.

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⏰ Última atualização: Apr 07, 2023 ⏰

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