1. Só Nós, Enfim

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Miguel

Levantei abruptamente e sentei na cama após mais um intenso pesadelo. Estava suando frio e ofegante. Filipe imediatamente acordou, me abraçando, desesperado. Nossas noites têm sido assim. Filipe ficava a maior parte do tempo vigilante e seu sono tornou-se extremamente leve desde aquela mensagem que recebemos do André no mês passado. E eu? Bem, eu tenho tido pesadelos horríveis: desde André surgindo e atirando em Filipe e até mesmo com imagens do meu pai sofrendo violências na prisão.

É, o pastor Davi continuava preso. Os advogados estavam tentando entrar com recurso, mas a justiça nesse país é tão lenta... Retribuí o abraço do Filipe, apertando-o com força, pois meu último pesadelo envolvia ele entrando na frente de uma bala direcionada a mim. Eu tinha muito medo de perdê-lo, principalmente agora que ficamos tão próximos nesses dias.

- Caralho, playboyzinho. Uma hora cê vai acabar me matando de susto, sabia? - Filipe me apertou em seus braços e eu não pude evitar deixar algumas lágrimas rolarem. Eu era um bebê chorão, de fato, mas eu tinha muito medo de perdê-lo. Só de sonhar com isso eu já me sentia mal e desprotegido, principalmente agora que ficamos tão próximos nesses dias. - Porra, tu acorda afobadão eu já logo penso que é o André invadindo o lugar.

- Eu sonhei que você tinha tomado um tiro. Você tinha pulado na bala e me salvado, mas morreu.

- Tá ligado que eu faria isso né?

- Eu sei, por isso acordei assustado. Achei que fosse real.

- Relaxa, amor. Eu vou pegar um pouco de água, fica aqui na cama e tenta ficar de boa, belê?

- Tudo bem... - Filipe depositou um selinho em meus lábios e levantou. Ele estava apenas de cueca e eu não pude evitar olhar para o relevo na peça de roupa. Mesmo no escuro do quarto o pacote era visível e eu teria até feito uma graça se não fosse a situação. Ele saiu do quarto e eu peguei meu celular. Eram cinco da manhã, daqui há cinco horas teríamos que ir embora desse Airbnb e seguir viagem. Abri meu Instagram e haviam milhares de notificações. Eu já conseguia imaginar o que era tudo aquilo, mas mesmo assim decidi olhar os comentários.

"Volta para Jesus, ele está te esperando"

"Eu odeio o fato desses cantores usarem o nome de Deus para construir sua fama e depois simplesmente abandonarem a palavra como se não fosse nada"

"Deus te deu um dom lindo, não desperdice ele com o mundo, por favor Miguel"

"Ele vai queimar no fogo do inferno por isso, pode apostar!"

"Miguel, sorteia um fã pra você e seu namorado c*merem"

"Isso, aí vai você e ele pro inferno 😍"

"Tudo o que está acontecendo com o pai deve ser por culpa dele, coitado do pastor Davi, um bom homem honesto. Diferente desse aí..."

"Deuteronômio 31.6. Não irei dizer mais nada, só isso. Ainda há tempo para salvação"

Rolei na cama e limpei uma lágrima solitária que escorria pela minha face ao ler aqueles comentários negativos. Eu já não tinha acesso as minhas próprias redes sociais já havia um bom tempo. Tudo que eu tinha era uma conta fake com nenhum seguidor que eu utilizava para ver memes e me entreter sem me machucar com a maldade da internet. Entretanto, eu precisava dar uma resposta aos meus seguidores sobre meu sumiço. Nessa, eu acabei revelando que era gay e que estava namorando o Filipe. Eu me autossabotei muito fazendo isso, principalmente com a repercussão na mídia gospel. Minha curiosidade me levava a lugares como a esses onde eu lia esses comentários acerca da decisão que eu havia tomado.

Sagrado Amor Profano (Romance Gay)Onde histórias criam vida. Descubra agora