Flores

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Lua_De_Caramelo: Boa tarde, meus amores! Tudo bem com vocês? Espero que vocês aproveitem a leitura e se sintam acolhidos pela mesma. Assexualidade é um tema complicado e nos sentimos pressionados o tempo todo, mas vocês não estão sozinhos!

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O mar é imenso. Olhar para o horizonte, à beira da água, e não ver um fim para todo aquele oceano, chega a dar medo. O que as águas tento escondem? O que a vida tanto falha em achar? Quantas pessoas se perderam e quantas se encontraram no mar? Quantos sonhos viraram realidade ali? Quantos desejos foram afogados?

Uma área da cidade abandonada pelo poder público guarda grandes segredos. Todos plantam e todos colhem. As casas são todas tão antigas, as madeiras tão desgastadas com a maresia, que qualquer vento um pouco mais forte poderia levá-las embora. Cada tábua de madeira conta uma história diferente. Se as paredes falassem, o mar seria tão medonho assim?

A casa mais afastada de todas tem um quintal com direito a praia particular. A casa número 22. Só existiam vinte e duas casas na região, aquela era a última. A faixa de areia era tão pequena que se o mar ficasse muito revolto avançaria diretamente nas escadas de acesso. A casa era elevada, claro, ninguém gostaria de uma cozinha alagada em épocas de chuva. O portão de entrada da residência era sete metros acima do nível do mar, consequentemente todo o piso também era. Uma escada de madeira antiga conectava a horta embaixo com a varanda da sala.

O jovem da casa mal era visto, sempre ficava trancafiado em seu quartinho no sótão da casa. As poucas pessoas que já tiveram contato com o garoto rasgavam elogios, "oh, como ele é inteligente!", "uma simpatia exímia, de fato!", "um coração tão grande quanto a imensidão da baía!", "tão bonito quanto os atores de Hollywood!"... mas ele não concordava.

Seu pai vivia pescando com os outros homens da região na pracinha. Sua mamãe vivia costurando na casa 13 com as mulheres das redondezas. Os jovens viviam na biblioteca ou na cafeteria, conversando e rindo. As crianças viviam na casa 8, brincando no quintal da dona Luise. Os idosos viviam jogando buraco ou palavras cruzadas no bar, ou mesmo tricotando e montando arranjos na frente da floricultura.

Um segredo que o garoto da casa 22 guardava era que, o segundo e último floricultor da região era ele próprio. Flores de Iemanjá era o nome do estabelecimento. Seus passatempos eram ficar com seu presente de aniversário novo, um toca discos portátil, ouvindo músicas enquanto cuidava de suas preciosas flores. Ele amava miosótis, uma flor simples, mas tão linda. Alguns a chamam de não-me-esqueças, mas ninguém nunca entendeu muito bem o porquê.

Em uma fatídica tarde, enquanto todos almoçavam em suas casas ou esperavam a hora certa para saírem e irem direto para suas rotinas monótonas e pacatas, sua mãe começou a contar sobre mitos da região. Reza a lenda que, se você seguir ao leste, der a volta na pedra do eclipse e seguir ao sul, você chegará a uma ilha perdida que abriga uma única família. O nome do lugar era Ilha das Respostas, se você estiver muito confuso pode ir para lá que encontrara uma saída para o problema.

Ninguém nunca conseguiu chegar lá.

A última pessoa que pisou na ilha foi o senhor Hugo, que morreu 4 anos atrás. Ele sempre dizia sobre como a natureza era mais viva lá, sobre a mulher linda que encontrou e como se apaixonou por alguém na ilha, mas quando voltou para entregar a seu amor flores, a ilha tinha sumido. As fofocas ao vento sussurram que talvez o idoso estivesse alucinando, outras dizem que já viram a ilha também, mas nunca foram até lá.

Aquela tarde o jovem foi para sua estufa de flores improvisada. Enquanto cuidava de umas plantas, lembrou de uma página do seu livro de biologia. A situação o enfureceu. Na sua escola, todos pressionavam a todos para que provassem seu desejo sexual à flor da pele. Tudo se transformava em sexo. Todas as conversas tinham alguma menção ao prazer carnal, tudo tinha um contexto erótico. Mas o garoto nunca sentiu aquilo.

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