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SEELE

Seele sentiu o vento gelado da noite atingir suas costas no momento em que ela tirou suas roupas. Sentindo um arrepio percorrer seu corpo, ela voltou para puxar o vidro da janela do banheiro para baixo antes de entrar na banheira de água quente.

Seus músculos relaxaram quase que instantaneamente com a sensação de calor e ela se permitiu fechar os olhos por um momento, aproveitando o raro sentimento de paz enquanto seu corpo submergia na água.

O dia havia sido realmente cheio.

Trabalhando como psicóloga desde que se formou, Seele atualmente tinha vários pacientes, e normalmente tinha sua agenda completamente cheia. Certamente, era um trabalho gratificante para ela, mas também era bem cansativo tanto fisicamente quanto mentalmente.

De qualquer forma, era uma rotina que ela havia se adaptado com o passar dos anos atuando na profissão. O que realmente vinha consumindo a sua mente ultimamente era algo relativamente inédito, ou melhor, alguém. Seele sentiu seu rosto esquentar e seu corpo afundar ainda mais com a lembrança.

Há quase um ano, por recomendação de uma amiga, Bronya Zaychik havia iniciado tratamento psicológico com Seele. Sendo uma ex-membro do exército dispensada após sofrer lesões graves, não era surpreendente que ela precisasse desse tipo de suporte depois de anos servindo em guerras e vivendo constantemente presenciando destruição e sofrimento.

Ironicamente, a guerra acabou poucos meses depois de Bronya ser dispensada, mas já não restava muito além de caquinhos em sua mente e ela sabia que seria difícil voltar a estar em paz consigo mesma. Mesmo de volta ao seu país, a sensação de incômodo não havia diminuído nem um pouco. Por isso, alguns meses depois, Bronya se mudou.

Ela havia tentado fazer consultas com outras pessoas antes, mas nunca havia conseguido se adaptar. Seu único suporte vinha sendo o uso de remédios recomendados pela sua psiquiatra, Raiden Mei, e Bronya quase desistiu de fazer o tratamento, cansada demais para continuar tentando.

Até que um dia, Kiana, uma amiga de longa data e esposa de Mei, recomendou-lhe uma conhecida sua, que era psicóloga. Assim, Bronya conheceu Seele, e pela primeira vez, conseguiu dar continuidade ao tratamento de forma efetiva.

Seele encostou o queixo na borda da banheira, respirando profundamente o aroma do sabonete na banheira enquanto processava a lembrança. Ela começou a pensar em como havia sido aquele ano trabalhando no caso de Bronya.

Mesmo sendo um processo demorado e difícil, Bronya começou a apresentar alguns resultados positivos e, apesar de estar longe do ideal, Seele se sentia feliz de saber que ela estava caminhando para frente com aquilo. Ela jamais se esqueceria do quanto alguns dias haviam sido difíceis para Bronya e o quão fragilizada ela estava naqueles momentos.

Não foram poucas as vezes que Bronya ligou para Seele de madrugada, chorando porque não conseguia lidar com sua própria cabeça. Ela tinha pesadelos frequentes ao ponto de estar acostumada, mas às vezes eles se tornavam perturbadores demais até para ela. Durante essas noites, Seele só ia dormir depois de se certificar de ouvir a respiração de Bronya após adormecer durante a ligação.

Na primeira vez que isso aconteceu após elas se conhecerem, apesar de cogitar a ideia, Bronya não ligou. Ela não queria incomodar Seele fora do horário de consulta com seus problemas.

No dia seguinte, ao vê-la adentrar a sala do consultório pela manhã, a primeira coisa que Seele reparou foram as marcas escuras de insônia embaixo dos olhos de Bronya. Sua aparência era de extremo cansaço e até mesmo seu cabelo e roupas, que normalmente estavam impecáveis, estavam desalinhados.

Were you crying last night? • bronseele (hi3)Onde histórias criam vida. Descubra agora