Professora de espanhol

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Eu estava querendo me enterrar em um jardim mais próximo o possível. Quando pensei em algo interessante para falar, fui cortada por uma voz aguda e gritante.

— Vocês estão aí? Veja só! — A namorada deu um jeito de nos encontrar. De imediato, peguei minha bolsa e já fui me levantando. E para meu horror, ela não estava só. A minha MELHOR AMIGA estava com ela por sei lá qual motivo!

— Espera, para onde está indo? — Bachira perguntou, assustado com a minha reação.

— Acabei de me lembrar que preciso ir para uma entrevista de emprego! — Isso não era tão mentira, afinal eu encontrei uma vaga no linkedin há algumas horas para ser professora particular de espanhol para um imigrante japonês.

— Ah, [Nome]! Também estava te procurando. Vem, eu te dou uma carona — Olívia mal chegou ao local e já queria sumir, assim como eu. Algo em seu olhar dizia "preciso conversar com você".

— Amor, que saudades — Bachira já foi ao encontro da amada, meu Deus, eu odiava casais. Isso porque já não se suportavam, não é?

Ficaram tão distraídos e apaixonadinhos que saímos despercebidas. Quando tomamos distância grande o suficiente para fofocar, Olívia já foi falando.

— Foi meio rude da sua parte sair no mesmo instante em que a namorada do seu crush chegou. — Ela deu uma risadinha.

— Que história é essa de "crush"?

— Não precisa ter mais do que dois neurônios para saber que você é apaixonada pelo Bachira Meguru, o seu melhor amigo. Todo mundo JÁ sabe. E você é uma cachorra por isso.

— QUÊ? — Parei imediatamente, encarando-a com horror.

— Você é uma cachorra por não ter um pingo de atitude e dizer para ele seus sentimentos! Eu tinha minhas dúvidas, mas agora que eu vi vocês dois de perto, cheios de sorrisinhos e trocando olhares de Romeu e Julieta, não me resta dúvida alguma! Como pode ser tão tonta e deixar seu macho assim com outra?

— Eu não quero, e acha que eu teria alguma chance ao lado dela? Olha para mim e olha para ela! Ela tem os cabelos de princesa, e eu pareço a menina do Exorcista toda vez que acordo! O mundo não foi feito para pessoas como eu, mas para pessoas bonitas como vocês. E eu já aceitei isso e vivo bem!

Levei um susto imenso quando Olivia plantou suas mãos bem no meio da minha cara, não foi um tapinha, mas um tapão! Porém nada o suficientemente forte para me machucar.

Claro, a Espanha inteira parou para ver, fiquei morrendo de vergonha. Certamente esperavam que eu voasse na cara dela para gravarem no Youtube.

— Ai, já cansei desse seu papo negativista. É todo dia esse mesmo nhenhenhe. Chega! Amanhã você vai faltar da faculdade e nós vamos para as compras. Tudo por minha conta. Vou te transformar na garota mais bonita que já existiu nessa terra! Esteja pronta, nós vamos para o salão de beleza e passaremos umas dez horas no shopping.

Antes que eu pudesse argumentar, ela entrou em sua Mercedes conversível e colocou um rap no volume máximo. Sabe aquelas adolescentes problemáticas que aparecem no Dr Phil por gastarem compulsivamente a fortuna de seus pais? Essa era Olívia na versão universitária.

Colocou seus óculos de coração e apontou na minha direção.

— Na frente do seu dormitório. As oito horas da manhã.

E nisso, saiu numa arrancada digna de fórmula 1, me abandonando. E a minha carona que ela prometeu dar?

Abri meu celular e me candidatei para a vaga de professora particular de espanhol, embora a minha ortografia e gramática fossem péssimas! Provavelmente não era nada muito exigente, apenas uma renda extra.

De imediato, o anunciante respondeu com "Ótimo, você pode fazer a entrevista agora?".

Antes que eu pudesse tomar fôlego, ele já passou todo o seu endereço. Para minha sorte, não era muito longe do café, em dez minutos eu chegaria no local. Confesso, estava bastante nervosa para a entrevista, mas seria a minha oportunidade de conseguir um emprego para ao menos comer algo que não fosse ramen todo santo dia.

Quando me localizei no endereço correto, quase tive um infarto. Era uma mansão GIGANTE em um condomínio que mais parecia de outro planeta! Quando indiquei que teria uma entrevista de emprego naquele local para os guardas, eles me deixaram entrar, já que eu não aparentava ser nenhuma maníaca psicopata.

A porta já estava aberta, mas a sala vazia. Até que um velho careca foi se aproximando de minha pessoa com um olhar de desconfiança.

— Você que se candidatou para a vaga de professora de espanhol?

— Sim. — Respondi na mesma língua.

— Ótimo, sente-se. — Ele me convidou para entrar e me sentar próximo a uma mesa GIGANTE de vidro, tudo era tão grande e tão chique, me senti a própria rainha do Qatar! — Você tem algum mestrado em língua hispânica? Como aprendeu espanhol? Quais suas referências?

Suei frio. Essa era a hora que eu deveria fugir? — N-na verdade, eu sou estudante de Engenharia.

O velho careca ficou furioso — estou com cara de quem vai construir uma casa? Por que se candidatou à vaga se não tem o BÁSICO do que foi pedido?!

— Na verdade, s-senhor... É Engenharia da Computação.

— Deixa que eu cuido disso — ouvi uma voz do fundo de um dos corredores, em japonês. Era masculina e bem grave. Quando o dono dela apareceu, quase caí da cadeira. Um garoto alto e pálido, que andava pela casa só de bermuda, enquanto secava os cabelos vermelhos com uma toalha pequena. E que peitoral!

Ele me encarou por longos segundos, boquiaberto e curioso.

— A gente se conhece de algum lugar... — Ele deu uma risadinha. — Por acaso, você é aquela garota doida da festa que estava fazendo lição de Engenharia enquanto brigava com o Meguru?

— S-sou... — Respondi, totalmente derrotada. Que mico! Ele era jogador de futebol dos bem populares e certamente ia contar a minha gafe para todo mundo!

Se não me engano, Bachira disse seu nome alguma vez.

Itoshi Rin, ou algo assim.

— Está contratada! — Ele sorriu, todo empolgado.

— Quê?!!

No creo en el amor - Imagine Bachira e RinOnde histórias criam vida. Descubra agora