Desprezo

31 12 1
                                    

Acordei na manhã seguinte com uma grandiosa ressaca moral. Rolei para o lado esquerdo da cama em busca do meu relógio de cabeceira e quase tive um infarto ao ver o horário. Já se passava das nove horas da manhã. Era o primeiro sábado do mês e eu havia combinado de tomar café da manhã com uma amiga do trabalho naquele dia.

Eu poderia fingir que estava doente e aproveitar um pouco mais a minha cama, mas não seria justo. Já havia usado essa desculpa no mês anterior, e no mês anterior ao mês anterior também. Foi então que o meu celular corporativo tocou, era a minha amiga pedindo para remarcar o café. Quase pulei de alegria, mas fiz de tudo para parecer o mais desolada possível.

Não sou uma pessoa má, longe disso. Mas precisava de um tempo sozinha para processar o que fiz na noite anterior, afinal, não era todo dia que eu me enfiava entre as pernas da chefe do meu chefe durante uma noite inteira.

Ela não era casada?

Eu podia jurar que sim.

Um daqueles anéis certamente era de casamento, mas pelo menos não estava dentro de mim. Ou será que ela esqueceu de tirar algum anel antes de... Bom, antes de tudo.

- Que mancada. - resmunguei comigo mesma, encarando o teto como se ele pudesse me ajudar a arrumar a minha vida, no entanto não podia. E também não precisava. Foi só uma noite de sexo com mais uma mulher no Dallas. E é como sempre dizem por lá, o que acontece no Dallas fica no Dallas. Pelo menos foi o que pensei quando olhei para a minha mesa de cabeceira e percebi que o celular que eu trouxe comigo achando ser o meu celular pessoal, não era meu.

Era dela!

Sei disso por conta da tela de bloqueio.

Uma belíssima foto por sinal.

Soltei um suspiro pesado. - Não, Deus. Por favor. - choraminguei. Precisava do meu celular de volta e ela certamente precisava do dela também.

Trabalhavamos na mesma empresa e eu tinha um outro celular comigo. Como uma boa adulta, eu poderia simplesmente resolver aquilo enviando uma mensagem via Teams para ela. Marcariamos um lugar nada íntimo para nos encontrarmos, destrocariamos o celulares e iríamos embora como duas pessoas normais fariam.

Então fiz isso. Enviei um: "Oi, bom dia. Acho que estou com o seu celular e você com o meu. Podemos destrocar hoje? Estarei na Royal Coffee Cream às 10h" e adicionei um emoji sorrindo no final da mensagem.

Meia hora depois ela me respondeu com um joinha e não disse mais nada além disso. Quis enfiar minha cara no chão ao ver a mensagem. Tinha certeza que para ela eu estava parecendo com uma pessoa obcecada que não sabia lidar com ficadas de uma noite só e que trocou os celulares de propósito.

Às 9h56 eu já estava na cafeteria. Era uma manhã fria e todas as mesas do lado de dentro do local já estavam lotadas, por conta disso, tive que ficar em uma das que colocavam do lado de fora. Eu não achava nada ruim, a vista das montanhas que envolviam a cidade era bem bonita e a rua também era muito charmosa.

Ames era mesmo uma cidade sensacional.

Pedi um chocolate bem quente e uma fatia de bolo de morango, e fiquei ali contemplando as coisas ao meu redor enquanto os minutos corriam. Às 10h25 um carro vermelho parou bem ao lado da minha mesa, era Camila. Ainda mais bonita que na noite anterior, porém mais séria.

- Olá. - ela saudou ao descer do veículo.

- Olá. - falei. - Sinto muito pelo celular.

- Tudo bem. - ela disse ainda de pé, seu tom me soou um pouco rude. - As capas são iguais e eu só percebi que tinhamos trocado depois que você me avisou.

SinônimosOnde histórias criam vida. Descubra agora