O tempo sempre cobra

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BANG

BANG

BANG

Os disparos de uma Glock doze milímetros preenchem o silêncio daquela abandonada vizinhança, aquela vizinhança que outrora era movimentada por risadas de crianças.

— Venham, seus filhas da puta! - Bang.

O pequeno garoto que usa um chapéu de cowboy e atira na direção dos mortos, está confiante de que nenhum deles conseguirá lhe matar. Pobre coitado:

— Vocês sabem que são apenas dois, né? - Um sorriso debochado brota no canto de seus lábios enquanto dirige as falas aos mortos em decomposição, que agora almejam apenas um pedaço daquele sorriso debochado.
— Isso, fiquem exatamente assim.

Ele caminha um pouco mais rápido e se posiciona em um ângulo do qual os dois mortos estavam exatamente um na frente do outro:

— Como diria Shane, dois coelhos em uma cajadada só... - Posiciona a pistola e a destrava.

Shane? Quem é Shane? Bom Shane é o primeiro morto vivo que Carl teve a capacidade de matar. Antes disso? Antes disso talvez ele seria um amigo de seu pai, ou melhor, talvez ele fosse seu padrasto.

Esses pensamentos invasivos e desnecessários fizeram Carl perder o foco por alguns instantes mas agora ele está de volta, vai economizar uma bala acertando dois mortos... Caralho, Shane provavelmente ficaria super impressionado:

— Arrr...

O cabelo longo do garoto é agarrado e puxado com toda força, ele estava sem apoio e acabou por cair no chão, ao levantar sua visão vê um dos podres pronto para garantir o jantar. O grimes se desespera pois a arma havia caído um pouca afastada de seu corpo.

Ele age rápido, rola para o lado e o morto que outrora cairia em cima do garoto, dá de cara com a grama do lugar, mas aquilo não era o suficiente. Carl se levanta e puxa a pistola que estava caída... BANG.

Ele dispara sem querer pois o primeiro daqueles mortos que o garoto mirava agarra seu braço e o puxa para o lado, ao ser dispara a arma praticamente pulou de sua mão e a bala quase acerta seu próprio pescoço.

O segundo daqueles mortos chega e vai para cima do pequeno menino que grita desesperado e novamente é derrubado, agora com o podre por cima de si. Era impossível aquilo, o morto era duas vezes o seu tamanho, ele até tentou segurar aqueles ombros grandes mas foi em vão, o morto que havia puxado seu cabelo agora está ao lado de seu braço, e aquele que agarrou seu braço chega junto.

A primeira mordida é deferida e o autor é o morto que Carl tentava segurar, ele foi exatamente no lado esquerdo do peito do garoto. Um grito alto foi a melhor reação que ele conseguiu ter antes de perder a força e o morto literalmente cair em cima de si, um pedaço de seu peito saiu nos dentes do monstro, o sangue agora escorria.

Não pode ser, ele não pode morrer... Ele não pode morrer!

O menino se arrastou mas o morto ao lado aproveitou para arrancar outro pedaço de seu ombro, ele não teve sequer tempo de gritar pois o terceiro agora arrancava um pedaço de sua panturrilha.

Esse era o fim, afinal? Onde estava seu pai? Por que ele desobedeceu seu pai? Ele vai morrer aqui? Sozinho? Sendo devorado? Vai restar apenas seu chapéu para contar sua história?

— Ahhhh! - O corpo de Carl desperta com o grito inconsciente.

Ele começa então a verificar seu corpo, procurando as mordidas. Ufa... Era um pesadelo... Mas não tão irreal.

A situação realmente aconteceu mas Carl conseguiu matar aqueles dois zumbis com apenas um tiro, o terceiro zumbi nunca existiu de verdade. Mas após aquilo a noite caiu e a criança não conseguiu voltar para casa da qual tinha deixado seu enfermo pai:

— Nossa que frio... - O menino agarra os próprios ombros.

Uma neve então começa a cair naquela área da floresta da qual Carl havia montado um acampamento improvisado.

Ele não tardeia em levantar e sair correndo dali, pois logo começou a cair muita neve.

Correr define basicamente toda essa semana que o menino ficou perdido de seu pai.

A esperança ainda está nele. Ele tem esperanças de encontrar a casa do qual largou seu pai, ele tem esperanças de encontrar algum sobrevivente da prisão.

Talvez Daryl esteja atrás daquela moita com sua besta apontada para o menino, talvez Beth comece a cantar por aí e atrair a atenção dele, talvez michonne está apenas caçando alguns zumbis para usar com repelente.

Ele abre os olhos, e então tenta esvair de sua mente todos estes cenários hipotéticos, ele esta sozinho agora e tem que aceitar isso.

Seu corpo está pesado, a neve acabou com sua saúde, ele está com febre, talvez uma hipotermia? É fatal para uma criança, certo? O garoto está branco, a fome não deixa seu sistema imunológico agir, ele está fadado a desmoronar. Porém as coisas podem sempre piorar:

— D-De novo não... - Um morto está vindo em sua direção, Carl puxa a Glock de sua cintura e sem mais rodeios dispara mas... Bom... Ele esqueceu que a bala acabou há alguns dias atrás.
— Por favor...

O menino se esforçar para alcançar uma pedra que está caída ali ao seu lado, ele em seguida arremessa contra o morto porém seu corpo não resiste e cai para frente.

— P-papai...por favor...

Sua visão começa a embaçar, ele não sabe se conseguiu finalizar o zumbi, porém uma silhueta se forma diante ao borrão de seus olhos, ele está preparado... Está preparado para seu pesadelo se concretizar, ele só fecha os olhos e deixa uma lágrimas solitária escorrer por ali, em breve ele estará com sua mãe.

É tudo que ele deseja...

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Continua...




Eu posso me lembrar de você | Negan and Carl +18Onde histórias criam vida. Descubra agora