Roger era o pior dos irmãos.
Otto era tratado como um bastardo por ele, já Marcelo era criticado por ser professor, e honesto até o último fio de cabelo, o certinho para todo mundo. As piadinhas só pioraram ao momento de Marcelo casar com Luisa. O caçula dos Pessoa não se importava com essas ofensas esdrúxulas de Roger, mas quando sua esposa engravidou ele fez questão de refrear os xingamentos e brigas, afinal, Luisa não tinha porquê aguentar essas picuinhas ridículas de quinta série.
Mas finalmente chegou uma data completamente especial: O aniversário de Luisa D'ávila Pessoa.
Marcelo, João, e principalmente Poliana estavam muito ansiosos para a festa que fariam. Luísa detestava gente de surpresa em sua casa, visitas sem aviso prévio pior ainda! Se fossem pessoas de seu círculo social, não havia o menor problema. Então, sua família sabia exatamente tudo o que ela aceitaria. Desde que perderá seus pais e irmã, ela nunca mais comemorou seu aniversário. Não via sentido em decorações, parabéns e a casa animada, se em seu coração habitava o vazio de um luto que a deixou sozinha por anos a fio.
Agora tudo seria diferente, porque Luisa tinha uma família que sempre faria questão de vê-la feliz e trazer a tona seus maiores e melhores: sorrisos!
— Marceloo!
Ele parou momentaneamente sua pesquisa sobre os docinhos que sua mulher mais apreciava, para dar atenção a João.
— A gente vai encher balão?
— Vai sim, mas aqueles com o nome dela. Números estão fora de questão, ok? Vocês não chamaram ninguém além de nós quatro, certo?
— E o Roger? Tu vai convidar?
Marcelo suspirou e resolveu que não, apenas Verônica, Guilherme e Filipa.
— Não. Infelizmente ele sempre acaba com todo o clima, a Luisa não merece passar por estresse, ainda mais agora que está grávida.
Os dois confirmaram positivamente.
— A tia Luisa simplesmente iria embora se visse que a gente armou uma daquelas sem avisar ou pedir licença.
— Igualzinho aquela vez que o Afonso cozinhou a Paella e a tua tia quase deu com a panela nele!
João se jogou pra trás rindo escandaloso e Poliana o acompanhou na gargalhada. Só Marcelo ficou borocoxô de lembrar dessa época, mas no fim acabou rindo dos xovens a sua frente.
— Deu gente, vamo acelerar porque ela pode chegar a qualquer momento. E isso tudo tem que estar guardado a sete chaves.
Estaria tudo dando certo até a mesma chegar em casa gritando "AMOR CHEGUEI" e os três em uma maratona para esconder tudo antes dela subir pro quarto. Era João mais perdido que barata tonta, Poliana enfiando tudo na mochila e Marcelo arrumando o restante, fechando o notebook e pegando um livro.
Luisa entrou no quarto vendo Joliana juntos ouvindo música sem os fones estarem conectados no celular, seu marido lendo um livro de cabeça pra baixo. Começou a rir alto com o trio a observando sem entender nada.
— Vocês não estão me escondendo nada, estão? – Fuzilou os culpados, indo até Marcelo lhe dando um beijo e sentando ao lado dele na cama.
— Tia você sempre tão desconfiada? O que a gente poderia fazer pelas suas costas, se nós sabemos o quanto você odeia isso?
Luisa refletiu e estavam certos.
— Meu amor? Porque você acha que a gente tá fazendo alguma coisa? – Perguntou enquanto lhe deu um beijo no ombro, apoiando seu queixo ali em seguida.