(DEGUSTAÇÃO) - Cap. 2 - Companheiras de quarto

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− Esta é a sua grade de horários − Júlia me entregou um pequeno bloco encadernado.

"Educação de elite", constava o nome do colégio em letras maiúsculas. "Regras e instruções para o convívio escolar", estava escrito logo abaixo. Passei rapidamente as páginas, nas quais constava uma lista infindável de regras. "Pontualidade nas aulas", "Uso obrigatório do uniforme", "Obediência aos professores e autoridades", "Respeito mútuo", "Proibido relacionamentos amorosos em ambiente escolar", "Proibido o consumo de cigarros, álcool e outras drogas", entre outras. Na última página, havia uma grade de horários.

− A primeira aula é às sete horas da manhã? − perguntei, achando graça.

− O café da manhã é servido até as seis e cinquenta. As aulas são no período da manhã e, após o almoço, os alunos têm até as seis horas da tarde para praticarem esportes, esgrima, equitação e outras atividades extracurriculares. Às sete horas é servido o jantar e, às nove horas, todos devem se retirar para seus quartos − explicou a rotina do lugar. − Vou pedir para um dos alunos de sua sala mostrar as dependências do colégio e levá-la até seu quarto − disse enquanto discava.

− Eu não faço questão de conhecer nada por aqui. Não pretendo ficar por muito tempo − comentei, mas ela já falava ao telefone.

Após alguns minutos, ouvi passos se aproximando de onde estávamos. Eu não tinha vontade de conhecer aquele lugar, pois só queria me trancar sozinha em meu quarto e refletir sobre meus planos de ser expulsa o quanto antes. Para minha surpresa, o aluno chamado era o garoto que eu havia derrubado.

− Você! − exclamei, surpresa.

Ele não parecia satisfeito em estar ali. Na verdade, ele me encarava da mesma maneira como tinha feito após nossa colisão naquela manhã. Como se eu fosse algum tipo de inseto imundo que pousou em sua comida. Mas logo notei que também havia um leve sorriso de deboche em seus lábios.

− Vocês já se conhecem? − Júlia perguntou, simpática.

− Não! − respondemos ao mesmo tempo.

− Esse é o senhor Ricardo Miliano. Ele foi o representante de sala no ano passado e, até termos uma nova eleição esse ano, ele está encarregado de apresentar o colégio aos novos alunos de sua sala − disse, sorrindo para o garoto. − Esta é a senhorita Amanda Priscila Oliveira. − A secretária estendeu uma chave a mim. − Está no quarto 172.

− Tudo bem − concordou, diplomático. − Vamos guardar suas malas primeiro? − convidou com uma simpatia que me pareceu muito falsa, mas Júlia sorriu, satisfeita e encantada pelo charme do garoto.

Seguimos em silêncio e ele me mostrou o corredor dos dormitórios femininos, nos quais nenhum garoto poderia entrar. Ele me esperou enquanto eu deixava minhas malas no quarto. Reparei em outras duas camas, mas não havia mais ninguém ali. Ricardo me mostrou o corredor das salas de aula, o restaurante em que faríamos as refeições, a ala dos dormitórios masculinos, as duas salas de jogos e as três salas de filmes.

No lado externo do colégio, havia uma enorme piscina, quadras de esporte, o estábulo, uma área própria para hipismo e uma construção coberta onde ocorriam os eventos sociais do colégio. Levou alguns minutos para que ele tirasse a máscara de bom menino.

− O que você está fazendo aqui, afinal? − perguntou enquanto caminhávamos de volta para os dormitórios.

− Quê?

− Quero dizer, olha para você! − disse, olhando-me com desprezo. − Essa é uma escola de elite para os filhos das melhores famílias desse país. Que tipo de garota teria essa aparência medonha?

O último homem do mundoOnde histórias criam vida. Descubra agora