Nosso Lance

02

Ravena
Dia seguinte|5:00pm

Sabe quando você não tem a mínima vontade de querer conversar com alguém? Quando as pessoas ao redor não servem pra serem amigos? Quando nenhuma delas te agradam? Eu era assim até a Letícia aparecer na minha vida.

Alguns dos momentos bons é quando posso conversar com ela, pelo menos passar metade do meu dia, a maioria das minhas conversas, das minhas risadas são ao lado da Letícia. Ela está comigo em maioria dos momentos, na maioria das bagunças da minha vida e continuou até o dia atual.

Sou muito a favor das pessoas sozinhas. Entenderem sozinhas seus próprios sentimentos, eu consegui dar meu primeiro passo quando entendi que nem todos são fracassados, nem todas pessoas são nojentas, apenas jogamos por causa e razão.

Raramente encontramos alguém que joga por sinceridade, na minha vida sempre aprendi isso, trago isso desde o meu passado. Pessoas são momentos, elas se vão quando querem.

Entendi esse lado da vida quando comecei a jogar por causa, por dinheiro.

— Vai deixar o melhor conjunto para qual momento? — Letícia questiona.

O conjunto rosé na cor clara está guardado dentro da sacola de papel de uma das lojas mais caras do Rio de Janeiro. O conjunto é todo rendado, tem uma renda que chama atenção, detalhado e ficou perfeito no meu corpo. Porém, nunca usei com nenhum homem.

— Não sei, vai ter algum momento — viro meu corpo.

Sinto meu cabelo balançar conforme guardo a sacola no meu guarda-roupa.

— O que mais temos é momento pra usar uma lingerie assim.

— Não sei, não quero usar com qualquer um — respondo.

— Vai dizer que ainda não achou aquele cara que te fode como ninguém fodeu? — passo a mão no meu cabelo, colocando atrás da orelha.

— Não.

— Alguns dias atrás um rapaz queria me dar um murro nas costas, eu avisei que recebo pra dá prazer a ele, não pra morrer. — ela fala e solta uma risada.

Sento ao seu lado na minha cama, colocando meus pés em cima do lençol.

Recebemos para dar prazer, para matar o desejo de qualquer homem que seja, não importa se gozamos, a única coisa que importa pra eles é esvaziar o saco. Desde quando comecei nessa minha vida jamais deitei em uma cama pensando no meu prazer, apenas no prazer do homem.

Penso em dinheiro desde dos meus treze anos quando eu ficava pelas ruas. Não vim de uma família boa. Sofri agressões por meu pai, nunca um acolhimento paterno ou materno, então dei um basta para isso. Talvez tenha sido a pior ou a melhor escolha.

Do quê adianta colocar filho no mundo e não cuidar? Do quê adianta vê seu filho recebendo comida, um teto, mas se matando aos poucos pela falta de amor, pela falta de carinho? Pelas agressões sem motivos?

Talvez a dor da fome iria doer menos naquela época...

— Quero te lembrar — Letícia me olha da cadeira no canto do meu quarto, enquanto segura seu celular no meu carregador branco.

Passo meu olhar por seu cabelo cacheado preso em um rabo de cavalo, seu olhos vêm na minha direção.

— Hm?

— Hoje vai mais cedo, vamos tomar um drink antes.

— Eu sei, não precisa ficar lembrando vinte e quatro horas por dia.

Fui na manicure e ela ficou me cobrando durante o dia todo, fui no mercado e ela me cobrou o mercado todo. Todo momento me lembra do nosso drink, tem como esquecer com ela falando o dia todo na minha cabeça? Não, não tem.