Submersa - Meddison

Solitude

Christina Perri – Human ♪

Addison Montgomery

A medicina nos ensina como cuidar de todos, menos de nós mesmos. Ela ensina a como salvar e como não ter emoções quando perdemos pacientes. Ela ensina a como não se desesperar quando a família de algum paciente vem até nós clamando por misericórdia para que salvemos um ente querido.

A medicina ensina a não ter vínculo algum com paciente, mas como fazer isso? Afinal, eles e nós somos seres humanos.

É uma frustração enorme voltar para casa e sentir o vazio, a dor da solidão e o buraco de uma perda.

Decidi fazer medicina depois que perdi o grande amor da minha vida há 10 anos. Me vi sozinha. Mas calma, essa não foi a única vez em que me vi sozinha. Me vi sozinha quando minha mãe Beatrice faleceu no parto, e também quando meu pai "Capitão" se sentiu incapaz de cuidar de mim, preferiu se dedicar a profissão, e me deixou.

Mas sabe qual o momento em que eu já não tinha mais ninguém? Quando minha avó materna me deu para adoção assim que completei meu primeiro aninho. Não tive ninguém para me pegar no colo e me ajudar a apagar as velinhas, não tive eles para verem os meus primeiros passos e nem quando formei minha primeira frase.

Quem viu tudo isso foi a Madre Ana, uma freira do orfanato das Américas.

Cresci como um animal enjaulado, vi centenas crianças sendo adotadas e eu ficando. Me sentia insuficiente para ter alguém, mas ao mesmo tempo sentia medo de alguém me adotar e logo após me abandonar. Me questionava todos os dias: "Quando alguém vai olhar para mim?". A Madre dizia que minha vez estava chegando... E chegou.

Um casal me adotou aos 15 anos e depois de um tempo eu fugi, eu não vou contar essa parte da história – por enquanto. Sinto dor só de lembrar.

A única certeza que eu tenho da vida é que é dolorosa e cruel. Não é só a fase adulta que é solitária, por isso me tornei obstetra. Quando pego o recém nascido no colo, preciso ter a certeza de que de alguma forma ele não se sentirá sozinho ou abandonado, pelo menos por aquele momento.

Me olhei no espelho e me deparei com uma Addison extremamente cansada, mas toda vez que eu parava era pior. Olhava as paredes da solidão e chorava incansavelmente. Entrei no chuveiro e lágrimas saltaram dos meus olhos, tratei de acelerar o banho para não permanecer naquele estado. Sai do meu banho quente e vesti uma calça de alfaiataria preta, com uma camisa da mesma cor da calça, um casaco e um scarpin preto. Hoje não quis comer nada, então peguei um café preto no caminho e segui para o hospital. O dia estava mais gélido que o comum.

- Dra. Montgomery? Uma paciente em estado grave está chegando no helicóptero. Sofreu um acidente no gelo e está grávida. – Respirei fundo e olhei no fundo dos olhos de Amélia, uma das médicas e grande amiga. – A temperatura está – 8,5, sua saturação está em 78%.