4. Banquete

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(Dias depois...)

Pov Lena

Nesta noite, os soldados Clark, James e Winn jantam na companhia da General Zor-El. Eles exaltam as batalhas que já venceram e se vangloriam das barbaridades cometidas contra os humanos, gargalhando ao mencionar os atos que ainda pretendem praticar quando prenderem todos os integrantes do bando do meu marido.

A General permanece recostada no espaldar de seu trono de madeira entalhada, ouvindo tudo em silêncio à medida que aos poucos solta a fumaça do charuto. Ainda está vestida com a farda negra do exército, mas não usa o quepe essa noite. Seu cabelo está solto, caindo longo pelos ombros.

Todos bebem conhaque e Eve, Sam e eu estamos na cozinha, terminando de limpá-la, depois do banquete que tivemos que fazer para essa noite. Pelo que entendi, hoje faz dez anos que Rama Khan nomeou a General Zor-El para comandar esse campo de prisioneiros.

Enquanto os servia, escutei a maior parte da conversa e tive que me concentrar para não vomitar toda vez que os soldados falavam sobre seus feitos, porque as histórias eram de revirar o estômago. Sinto cada vez mais repulsa por esses monstros.

Fico me perguntando como eles são capazes de cometer tantas atrocidades contra pessoas indefesas, que já passaram por tudo que eles provavelmente enfrentaram quando viviam nas ruas, ou eram escravos, antes de se transformarem em Spurious.

Mais cedo, recebi novamente a visita do Dr. Hank Henshaw na minha cela. Desta vez, ele foi tratar das marcas que a General deixou nas minhas costas. Como sempre, ela me surrou e depois fez o que quis comigo na cama, deixando-me dolorida.

Já notei que esta louca tem algum tipo de perversão com fogo, mordaças e chicotes. A julgar pelas múltiplas cicatrizes que ela tem, principalmente nas costas, acredito que também deve ter sido muito torturada quando ainda era humana.

Estou colocando mais bebida em alguns copos para ir servi-los e penso na conversa que tive com Hank mais cedo:

— Você consegue dormir à noite sabendo que ajudou a criar esses monstros? — indaguei, à medida que ele limpava as feridas nas minhas costas e eu deixava escapar alguns gemidos de dor.

Ouvi sua risada.

— Minha intenção ao criar esses monstros era completamente diferente da de Khan. Eu queria originar uma nova espécie, que fosse mais resistente à fome e à sede... Mas Rama me enganou, dizendo que queria o mesmo que eu. Quando descobri as reais intenções dele, infelizmente já era tarde demais. — pausou — Como ele ainda precisava de mim, ou melhor, da minha capacidade para aperfeiçoar o projeto Spurious e desenvolver novas tecnologias no campo da produção de alimentos e geração de água potável, achou melhor me manter prisioneiro aqui, do que me matar.

— Pela entonação que você deu à palavra monstros, pelo visto não concorda com o termo sendo associado a sua criação, não é? — perguntei, ainda deitada de bruços.

— Não os considero desta forma... Muitos sofreram lavagem cerebral para acreditarem nos ideias de Rama, aliás, nenhum deles devia possuir recordações da vida que tiveram quando eram humanos, mas já pude constatar, convivendo e prestando atenção em alguns, que existe uma falha em alguns chips, ou então é um problema genético, não sei, que permite que eles continuem lembrando de fatos que aconteceram antes de terem sido transformados em spurious — confessou.

— Como assim? — fiquei mais interessada.

— A General, por exemplo, tenho certeza que ela se lembra de uma situação que viveu antes de ser transformada. Kara tinha uma irmã mais nova, que está enterrada debaixo de uma árvore perto das plantações. Geralmente quando saio para o meu banho de sol, vejo-a parada em frente ao túmulo, encarando-o com uma expressão infeliz. — ele disse.

Spurious - KarLenaOnde histórias criam vida. Descubra agora