Com o tempo fui acostumando-me à ideia de salas de espera, mas nunca à sensação de estar numa.
Quase nunca é bom sinal, quase nunca é um bom pressentimento.Quando fechei a porta do quarto em que o meu pai estava, dei de caras com ele que ainda me esperava sentado nos bancos de espera em frente ao quatro.
Notou a minha presença assim que a porta se abriu. Guardou o telemóvel no bulso e veio até mim aflito por notícias.
O meu rosto continuava com o mesmo semblante desgraçado desde que lá cheguei. Não conseguia deixar de transparecer toda aquela dor.Sentia-me vazia. Sozinha.
Não sozinha por ausência de companhia, porque ele estava ali.
Sozinha porque por mais que ele estivesse ali, não confiava nele para fazer o muro da falsidade desmoronar e mostrar o que realmente sentia no momento.-Como é que ele está? - questionou-me
-Mal. - engulo em seco - Marcaram-lhe uma cirurgia para amanhã cedo para tentarem retirar parte do tumor. A quimioterapia não está a ajudar em nada.
-Vais ficar aqui a noite?
-Não, a minha mãe vai ficar com ele. Amanhã temos aula e eles não querem que eu falte.
-Louise.
Ele nunca antes me tinha chamado pelo nome civil, até porque não tínhamos intimidade para isso, nem perto.
Hangman e eu tínhamos uma relação complicada onde a rivalidade ia para além do campo de treino. Os insultos avançavam até à área dos dormitórios e as farpas até aos convívios de equipa.
Aquele foi o único dia em que o vi a ser diferente daquilo a que estava acostumada. O dia em que, por algum motivo, ele acordou de madrugada e encontrou-me no pátio dos dormitórios num pranto sem fim e sem esperanças de voltar a ver o meu pai com vida.
Então consigo finalmente conectar os nossos olhares, deixando de olhar para baixo. Rendendo-me ao seu tom caridoso com que me fala pela primeira vez em longos meses.-Sim...?
-O que é que tu queres? - dá ênfase ao "tu".
Solto um suspiro sofrido e derrotado com a questão dele.
Ele percebe o meu cansaço, sei que o faz, mas estou demasiado ocupada com outras coisas na minha cabeça que a última coisa que preciso é me preocupar com o facto de que ele me está a ver no meu estado mais deplorável.-Que tudo isto acabe, Jake. Sinceramente, não acho que consigo aguentar mais.
E merda...
As lágrimas já me estão a cair pelo rosto novamente. Fiz questão de não chorar em frente ao meu pai porque sei que o que mais odeia é que eu ou a minha mãe choremos pela condição dele. Mas não consigo evitar fazê-lo assim que viro costas para o quarto em que está.
Não quebro o contacto visual que faço com Hangman, simplesmente deixo que o meu olhar sufocante lhe grite como um pedido de socorro e lhe transmita a mensagem de que me tire daqui o mais rápido possível.Ele entende.
Coloca o braço por trás de mim e com a mão apoiada na parte baixa das minhas costas leva-me até ao exterior do hospital.
Achava que simplesmente iríamos para o carro e que faríamos uma viagem de volta com 10 minutos de um silêncio ensurdecedor e desconfortável, mas não.
Assim que passamos as portas e a corrente de ar fresco do fim da madrugada que anunciava o início das primeiras horas da manhã nos embateu nos rostos, vi-o parar à minha frente.
Quando dei por mim, tinha os braços dele envolta do meu corpo apertando a camisola dele que eu vestia contra mim com tanta força que o cheiro ao perfume dele ficava ainda mais intensamente impregnado no ambiente.
Não resisto. Deixo que me abrace e conforte. Assim como ele me deixa encharcar a sua t-shirt de lágrimas que liberto ao abraçar-me ao seu pescoço e repousar o rosto na covinha do seu ombro.
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Sky Fall - TopGun
FanfictionDepois de uma missão atribulada, Louise sabia que precisava de paz em si, por isso precisava resolver a sua maior indecisão e dor que carregava já há tempos. Segundas chances são sempre difíceis de serem dadas ou aproveitadas, mas para Jake, qualque...