Um herói num celta prata

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Música Tema: Hozier - Take me to Church 

Manuel

Ofereci minha mão a Jean Carlo. Ele se levantou, fechou o paletó e encarou minha mão.

— Tem certeza? Uma vez selado o contrato, não se pode voltar.

— Sim. — Então, ele apertou minha mão e sorriu. Por algum motivo, lembrei-me da Mona Lisa. Ninguém nunca iria saber o que aquela mulher estava pensando enquanto o quadro era pintado. O mesmo acontecia naquele momento. Não sabia o que se passava na mente do homem.

— Deixa eu realizar uma ligação. — Ele pegou o celular e discou um número. — Joker. — Foi tudo o que entendi, pois ele começou a falar em outra língua.

— Renato. — Virei-me em direção ao meu irmão.

— Agora não. — Calei a boca. Ele não sorria. Renato sempre sorria, mesmo quando sua esposa estava doente, mesmo quando nossa mãe morreu. O garoto sorriso. Pelos próximos dez minutos, só fiquei ali parado, me perguntando quem era aquele homem que me ensinou a andar de bicicleta, os macetes das fases do Pac-man, aquele que sentou ao meu lado no dia da minha formatura na polícia e me deu um sermão sobre como não poderia deixar de cumprir as leis, mesmo que a oferta fosse muito boa.

— Tenho a localização. — Jean Carlo falou. — Ela se encontra na casa onde houve o duplo assassinato dos envolvidos no roubo.

— Como sabe disso? — Perguntei.

— Já viu um mágico revelando os segredos? — Balancei a cabeça em negativo. — Quando recuperarmos a senhorita Rose, vamos marcar um jantar. Iv não para de falar sobre ela e o que ela leu nas cartas. Vamos ter um legítimo casamento cigano, e seria bom ter uma vidente legítima, e não essas mentirosas.

— Você acabou de fazer um acordo comigo para salvá-la, e...

— Manuel, amigos, amigos, negócios à parte. Gerencio um negócio, e para isso, preciso de cada coisa em seu lugar...

— O que você chama de negócio é a vida de uma mulher.

— Sempre terá uma vida em jogo, seja dinheiro ou qualquer outra coisa. Aprendi há muito tempo que todo mundo tem seu preço, e isso depende do que ele ama. Tudo é um negócio no final. — Dei meia volta e caminhei para a saída. Precisava encontrar Rose.

— Manuel. — Renato me chamou, mas não esperei por ele. A claridade do lado de fora me cegou por alguns instantes. — Manuel, espere.

— O que aconteceu com você? — Perguntei a ele perto do Celta prateado que a seguradora me deu enquanto avaliava o que fazer. Não havia uma cláusula sobre o seu carro virar uma peneira por ter sido alvo de atiradores. — Você me disse para seguir as regras e agora tem amigos que negociam a vida de uma mulher?

— Vamos encontrar Rose, depois comprar um engradado de cerveja, sentar na sua sala e conversar. Qual é o seu plano?

— Não posso chamar a cavalaria. Rose não está desaparecida há tanto tempo e convencer alguém de que um investigador de polícia que não tinha motivo algum sequestrou uma mulher sem motivo, é verdade, levaria um tempo que não temos.

— Então, somente nós dois. Me dê a chave.

— Por quê?

— Você não está com a cabeça no lugar. — Entrei no Celta. Quando Renato se acomodou, saímos do estacionamento. Teríamos que praticamente atravessar São Paulo inteiro para chegar àquela casa. — Vamos recuperá-la.

— Ela disse que teve uma visão conosco em um parque onde um menino brincava com um cachorro. Ela viu o sítio e usa o perfume de Dama da Noite porque era o cheiro das flores que a mãe plantou ao lado de fora do quarto dela.

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