Solidão Crônica

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Solidão Crônica

   São 21h30 da noite e eu deito na cama para dormir, me mexo de um lado para o outro tentando achar uma boa posição. Olho para a lua lá fora e me sinto igualmente a ela ,sozinha, eu na imensidão escura do meu quarto e ela da escuridão da noite sem nenhuma estrela a ladrilhar o céu.

   O que é estar realmente sozinho e de se sentir sozinho? Ou só não estou confortável com minha própria companhia? Essas e outras mil perguntas que eu não tenho respostas. Podemos estar rodeados de pessoas e mesmo assim nos sentirmos sozinhos, não pertencendo àquela situação, e sentir uma ausência de conexão e compreensão onde todas essas pessoas não preenchem nosso próprio vazio interior.
  E se sentir exausto e cansado mesmo sem falar, se sentir sem ar, querer correr e fugir sem ter forças. Ao suportar a sensação angustiante da ansiedade, o coração acelerado e a respiração falha. A vontade de chorar, porém, você não permitiu. Está sozinho é algo físico, somente estamos, e algo espacial e não nos causa ansiedade apesar de ser desesperador e angustiante porém em certos momentos e a paz de estar sozinho é uma benção.

  O relógio no canto da parede mostra que só passaram 30 minutos e pareceu que passaram horas e horas até mesmo dias e semanas.

  Levanto e ligo a tevê para zapear os canais e nada parece interessante, quando a humanidade deixou de ser interessante? Sempre as mesmas pessoas,os mesmos rostos, mesmas músicas, os mesmos filmes, as mesmas histórias, os mesmos pensamentos, as mesmas histórias, as mesmas mentiras. Antes de desligar a tevê vejo que já são onze horas, nem percebi que o tempo passou tão rápido assim.

  Pego um livro da estante e vou à cozinha e preparo um chá de camomila. Fico alguns minutos folheando aquele livro com total desinteresse sentindo que aquela leitura não preencheria o eco vazio daquela noite.

   Antigamente era tão difícil ler as pessoas, hoje em dia todos estão caçando um grupo feito caçadores desesperados por uma mísera chance de atenção, de serem mais uma cabeça empalhada em suas estantes. Estamos tão preocupados com a aceitação das pessoas ao nosso redor que viramos fantoches na mão de uma sociedade em declínio. Obedecendo seus comandos sem questionamentos só para não ficarmos sozinhos, mas no final sempre estamos infelizes, vazios e sozinhos.

  No fim todo aquele luxo de uma ostentação descabida e para tentar preencher um vazio cruel dentro de si próprio.

  As pessoas têm tanto medo de ficarem  sozinhas vagando pelo mundo afora que o medo da solidão nos cega para a realidade: nossas ações momentâneas para evitar a solidão nos deixam, no futuro, mais solitários. Uma dura autocrítica.

  O chá já esfriou como essa madrugada, o livro voltará à estante onde ficará esquecido até a próxima noite de solidão, o relógio não deixa de avançar no tempo e eu continuo parado no mesmo lugar afundado em meus próprios questionamentos.

    Saio da cozinha e volto para o quarto onde eu pego o celular e vejo que já são uma da manhã, abro o whatsapp e me vejo com vários contatos e sem nenhuma notificação, entro e saio algumas vezes e aparentemente nada muda. Entro no Instagram e vendo os stories e tudo a mesma coisa, as mesmas festas com os mesmos tipos de pessoas, os mesmos tipos de vazio. A cada falso sorriso, a cada falsa sensação de felicidade me faz pensar como nos tornamos tão hipócritas ao ponto de fingir todo o dia que tudo está bem só para alguém querer ser a gente? Ter inveja da nossa vida? Que por sinal é medíocre. Sim, essa é uma autocrítica.

    Instagram, Facebook, Twitter, YouTube — todos se tornaram monótonos mostrando a uniformidade das pessoas em um vazio virtual.

   As horas se passam novamente e eu decido voltar a tentar a dormir e nada muda, e como tivesse farpas na cama, boas histórias são criadas dentro da minha cabeça de momentos que não aconteceram e que talvez nunca aconteça com pessoas que nem estão mais em minha vida e as poucas que restaram um dia elas não estarão mais dentro dela.

   E  tudo bem porque no final nós morremos e somos enterrados, sozinhos então a solidão é relativa. Entre se sentir sozinho e estar sozinho existe um grande limbo, é diferente e mais fácil entender se pensarmos como a solidão é crônica.

  Ao olhar novamente para o relógio e ver que são 4h da manhã pego o celular e abro o aplicativo de mensagens e a única nova notificação é da minha mãe, e isso me faz brotar um sorriso sincero em meu rosto.

  No fim das contas, talvez eu não esteja totalmente sozinho.


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