01. desespero

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elizabeth point of view

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Meus olhos estavam fixos naquele papel velho colado na minha porta a tanto tempo que nem eu saberia dizer.

"Atenção,
Anunciamos que este prédio será fechado em torno de uma semana.
Favor retirar-se do apartamento até o dia 30 (trinta) de Abril de 2023 (dois mil e vinte três).
Aqueles com aluguel atrasado favor acertar as contas na recepção antes da data de fechamento.
Ass,
Imobiliária Fachada."

Eu estava louca.

Era isso, eu finalmente enlouqueci. Só podia ser isso.

Não tinha condições de estarem me despejando depois de tanto maldito esforço para pagar meus alugueis atrasados.

Corro os dedos pelo aviso com uma força mal-calculada. Sublinho a data de retirada.

30 de Abril. Amanhã.

── PORRA!

Quando vejo, já estou socando a velha porta. Ouço um gritinho assustado do meu lado.

── Mamãe! Palavra feia!

Joui dá um beliscão no meu braço, então lembro que ele está alí também. Olho seu rostinho redondo e seus pequenos olhinhos inocentes e enquanto a raiva esfria um pouco tudo o que eu consigo pensar é onde eu e o meu menino vamos morar?

Eu não sou mulher de chorar, de forma alguma. Mas, quando a fixa cai, minha visão embaça e as lágrimas cobrem meus olhos.

Quando as coisas começaram a sair tanto de controle?

A verdade é que para essa pergunta eu tinha uma resposta; depois que minha mãe faleceu, á um ano atrás, tudo o que me restou foram muitas dívidas e uma criança de cinco anos para cuidar sozinha.

Desde então, cada centavo era contado, e conforme as contas foram se acumulando, fui me afundando junto com elas.

A uma semana atrás fui passar alguns dias morando na casa de um amigo, até quitar as dívidas do aluguel. Quando finalmente consigo, retorno e sou despejada no segundo que piso em casa.

── Mamãe? Você tá chorando?

Despertando, esfrego meus olhos e dou um sorriso para Joui que sei que sai forçado.

── Não bebê. Mamãe só está muito cansada da viagem.

Envolvo os braços no seu corpinho miúdo e absorvo seu cheiro de neném. Joui me olha de modo preocupado e forço outro sorriso para ele.

── Olha, bebê, talvez a gente tenha que viajar de novo, ok?

── A gente vai voltar pra casa do tio Daniel? - seus olhos se acenderam com a ideia. Daniel é um homem rico com uma casa na qual caberiam vinte do meu apê dentro.

MIDNIGHT RAIN, lizagoOnde histórias criam vida. Descubra agora