Finalmente. Essa é a única palavra que passa pela minha cabeça enquanto caminho pelo meu apartamento vazio. As paredes tingidas ainda me causam uma certa aflição, sempre vi esse lugar como algo temporário, esse temporário durou seis anos, exatamente a idade de meu filho, Dylan Stan, que levou o nome do falecido pai. A porta range e Isaac adentra, ele passa as mãos ao redor de meu pescoço e despeja um quente beijo em minha bochecha.
-Mamãe, por quê vamos nos mudar, mesmo?- O garoto corria com as mochilas nas costas.
-Obrigada por ter buscado ele na escola.- Passo uma de minhas mãos de leve por seu forte braço, que logo me solta, assim me permitindo a virar para ele.- Você tem sido bem útil para mim.
-Não útil o suficiente para te fazer ficar.- Ele rebate de imediato, não escondendo seu olhar triste que fixa em meus olhos.
-Você mais que ninguém sabe que eu preciso fazer isso.
O silêncio que toma conta do lugar me parece pesado, nós trocamos olhares que falavam por si só, ele não quer que eu vá, mas sabe que não tem nada o que fazer. Ele se despede e promete que vai me visitar todo final de semana e que vai passar as férias comigo. Tudo já está encaixotado em um caminhão a caminho da minha nova casa. Dou mais algumas andadas pelos cômodos vazios e paro no que dias atrás seria o quarto de Dylan. Ele está sentado com um lápis azul na mão, e desenhando na parede. Eu estaria nervosa e brigando por isso, mas essa não é mais minha casa.
-O que você está desenhando, querido?- Me agacho ao seu lado, encaro o desenho por algum tempo, para então perceber que são três crianças.
-Sou eu, Thommas e a minha nova amiga, Lillia.- Como psicóloga, reconheço que é normal uma criança ter amigos imaginários, mas que o Thommas me assusta, isso eu não posso negar.
-E a Lillia é da escola?
-Não, ela é da nossa nova casa.
Aquilo me deixara curiosa, mas crianças falam besteiras o tempo todo, então nem pergunto sobre. Seguro com firmeza na mão do garoto e atravesso o quarto, indo para o corredor. Quando já estou fechando a porta, consigo sentir algo, não sei explicar, mas é como se sentisse algo correndo atrás de mim e entrando pelo corredor. Dou mais uma certificada que está tudo vazio e vou para o meu carro.
A viagem é tranquila, Dylan passou o maior do tempo me fazendo perguntas sobre a casa e a nova vida. Ele terá que parar de estudar por um tempo, mas eu vejo isso como um sacrifício necessário e tento não pensar muito sobre. Foi preciso de muita coragem pra decidir largar tudo. Passamos algumas horas viajando pela Inglaterra, até que chegamos na última vila antes da ilha onde fica a casa. É um vilarejo pobre e com pessoas estranhas que encaram o carro com medo.
"Certo, não tem como voltar atrás", repito em minha cabeça enquanto mantenho minhas mãos firmes no volante. Estaciono o carro ao lado do caminho e desço do veiculo, indo ver como faríamos para atravessar o mar que nos separa de meu novo lar. Depois de muita conversa fiada para me arrancar dinheiro, decidimos alugar um barco e fazer algumas viagens pelo mar até que todas as caixas estejam na ilha. Meu carro atravessou em uma balsa e em questão de minutos atravesso a água e vou até a terra firme de novo. A casa me deixa de boca aberta, é simplesmente enorme. Um frio percorre meu corpo quando eu giro a maçaneta. Dylan corre por minha perna e entra na casa sumindo de minha vista ao virar em um corredor. Eu o sigo correndo para o alcançar.
-Dylan, volta aqui, pode ter algum bicho.- Grito enquanto passo pelas portas enferrujadas. Passo por quatro no total, não faço a mínima ideia do que fazer com tanto cômodo.- Dylan, eu não estou brincando, apareça.
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Welcome
HorrorUma casa enorme, quieta, distante da agitação e dos crimes da cidade grande. O sonho de qualquer pessoa que já respirou demais do ar poluído de Londres. Bem, pelo menos era o sonho de Madeline Argent, ou simplesmente Dra. Argent, uma psicologa. Junt...