Parte 2

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Ela estuda a algumas salas da sala dele, na faculdade onde se formarão, em tempos distintos, pois Kátia se distanciará de Flávio por conta da matrícula trancada, por razões da recuperação prolongada da nova cirurgia de seu pai.

No baile de um o outro não estará. Nem na cantina, nem no bebedouro, nem no café. Nem nas fotos de cada um.

Kátia pratica esportes no clube de onde avista Flávio a suar na quadra de tênis, enquanto despede-se ao telefone de quem a distancia ainda mais dele. É que Flávio jamais ligará pra ela nem receberá suas chamadas.

Jamais trocarão os números, nem torpedos, nem confidências. Nem levarão a eternidade esperando o outro desligar primeiro. Jamais se atenderão. Não reconhecerão suas vozes. Em momento algum se ligarão só pra dizer "te amo".

Cruzaram, em direção oposta, a escada rolante que a levaria a uma loja de perfumes que ele não a presentearia, e ele à escolha de um disco que em tempo algum ouvirão juntos.

É triste dizer, mas não colecionarão qualquer memória em comum. Nunca se esquecerão de suas datas, seus gostos, suas predileções nem de seus apelidos de infância.

Por apenas um momento suas paralelas se aproximaram, sem se tocar, quando da fila de um banco, onde Flávio exerceu sua gentileza, a franquear lugar a Kátia, cuja gratidão não foi suficiente para guardar o seu nome.

Foi a única vez que lembrou sua face, a usá-lo como exemplo de cavalheirismo à suas amigas. Foi também seu único encontro, se é que podemos considerá-lo como tal.

Sem destinoOnde histórias criam vida. Descubra agora